Nos conflitos sociais contemporâneos nota-se um acirramento da retórica de animosidade racial, étnica e religiosa. Ainda que, em alguns casos, essas animosidades possuam longas raízes históricas regionais, no entanto, na maioria dos casos, especialmente quando falamos do Ocidente, estamos diante de algo que não passa de ilusionismo.
Na aplicação da antiga e eficiente tática do “dividir para conquistar”, as forças que controlam o mundo jogam raças contra raças, etnias contra etnias, religiões contra religiões, de modo que os “descamisados” de todos os povos permaneçam presos em confrontos uns contra os outros.
Enquanto os mesmos personagens, das mesmas famílias, da mesma classe, governam todos os nossos países a partir das sombras.
Todos esses povos, com suas culturas, raízes e tradições, estão sendo atacados desde um mesmo centro. É uma a força que as corrompe, desenraiza e comoditiza. Não, não é o marxismo cultural, como diz a direita, é pura e simplesmente o liberalismo, através do capitalismo, a sua forma econômica.
O projeto para a construção de um mundo sem fronteiras, com um único mercado global, em que os Estados, se existirem, não passarão de meros defensores da propriedade e mantenedores da ordem, é um projeto capitalista.
Para que este projeto seja possível, o homem não pode ser mais que mero trabalhador/consumidor. Nesse sentido, a sua igualdade é um fim a ser atingido. Não igualdade em posses, renda, propriedade ou mesmo consumo, mas a igualdade em tudo aquilo que é essencial por preceder e independer de qualquer tipo de escolha: raça, etnia, nação, sexo, tradição, família, etc.
É por isso que, da ascensão do capitalismo na Inglaterra até hoje, com um mundo sob a hegemonia global do liberalismo e do modo de produção capitalista, o que temos visto é uma longa marcha de desenraizamento e destruição das culturas tradicionais.
E, até agora, a não ser com timidez e em casos muito específicos, não se levantou a bandeira dos povos. No máximo, uma parte da esquerda faz uma seleção extremamente parcial de povos e culturas a serem defendidos e só os faz enquanto “povo oprimido”, como se a história desses povos devesse servir apenas como ferramenta de revanchismo, mas fosse algo a ser descartado no futuro, como parte do “progresso”.
O contrário deve ser nossa posição. A noção de “diversidade” só tem como fazer sentido se ela significar considerar a preservação das culturas tradicionais um bem em si mesmo, como algo que possua valor próprio, independente das circunstâncias.
O combate ao capitalismo e ao pensamento liberal e a luta pela identidade dos povos fazem parte de uma mesma guerra. E não podem, nunca, estar dissociadas. Qualquer dissociação ocorrerá em benefício dos inimigos dos povos: a grande classe capitalista global.