Lula e a Nova Estratégia de Segurança dos EUA

Faz-se absolutamente necessário ler a vitória de Lula à luz da Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, divulgada há poucas semanas e que já explicamos em detalhes.

Joe Biden demonstrou de forma clara e pública a sua preferência pela vitória de Lula no Brasil. Todos sabem que o Brasil é o motor da América do Sul e, junto com México, da América Ibérica como um todo. A vitória de Lula no Brasil, portanto, é vital e isso foi demonstrado a todo momento ao longo da campanha.

Das visitas de Victoria Nuland e Lloyd Austin, passando pelas declarações de Anthony Blinken e do Diretor-Geral da CIA, indo até mesmo a Bernie Sanders, em maior ou menor grau todos realizaram ameaças contra Jair Bolsonaro, enfatizaram a confiabilidade das urnas e expressaram suas preferências por Lula. Ademais, também enfatizaram a importância estratégica, para os EUA, do acesso aos recursos da região amazônica.

Além desses apoios oficiais, nos últimos dias da campanha os EUA mobilizaram o seu soft power hollywoodiano através de um verdadeiro exército de atores, em sua maioria vinculados à megacorporação Disney, enfatizando o seu lado na disputa. O New York Times dedicou, também, o seu trabalho editorial à campanha de Lula.

Todo esse esforço evidentemente não será de graça. E para entendermos o que está acontecendo e o que vem pela frente temos que retornar ao documento já mencionado e preparado pela equipe de Biden-Harris.

Os EUA agora enxergam as Américas como uma totalidade. Não de maneira cindida, em uma oposição América Anglo-Saxã/América Latina, mas como uma coisa só. Diante de obstáculos difíceis de superar na Eurásia, Oriente Médio, Ásia Central e Extremo-Oriente e com até mesmo a África balançando e o futuro da Europa incerto com o inverno, virou prioridade para os EUA assegurar sua supremacia sobre toda a extensão do continente americano.

É por isso que a nova estratégia de segurança nacional dos EUA não entende como espaço a ser defendido apenas os EUA ou mesmo a América do Norte, e sim todo o espaço que vai do Alaska até a Terra do Fogo. Os EUA pretendem, portanto, intensificar a cooperação no âmbito econômico, sanitário e ambiental, além de em outras áreas, e “convencer” os países da região a se distanciar da China e não ingressar no projeto Cinturão & Rota (já está dando certo com o México e o Brasil).

Com todos os países da região com governos mais ou menos semelhantes, alinhados, o trabalho é mais fácil e a retaguarda dos EUA fica mais segura. É importante ressaltar, ainda, que o lado brasileiro da articulação da rendição aos EUA foi operado pelo Washington Brazil Office, uma iniciativa de ONGs, jornalistas e políticos de esquerda que atua como lobby nos EUA, defendendo a intervenção estadunidense aqui em prol de pautas progressistas.

O discurso de Lula já dá indicações que essa será a linha seguida, com bastante destaque para o tema da “governança global” e da “cooperação internacional na Amazônia”.

Finalmente, talvez o próximo passo no continente seja o impeachment de Pedro Castillo. Um dos últimos líderes completamente não alinhado aos EUA. Ademais, a sua vice é parte do Grupo de Puebla, enquanto Castillo não é.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

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