O Périplo de um Profeta: o Cinema de Glauber Rocha

Dirigido por Paloma Rocha e Joel Pizzini, Anabazys (2007) não é apenas um filme: é, como seu próprio subtítulo aponta, o “Terceiro Testamento de Glauber Rocha”, o eloqüente testemunho do assombroso périplo de um Profeta em seus últimos passos sobre a Terra.

Anabazys a princípio se propõe como documentário sobre as circunstâncias que cercaram a produção, os bastidores e a recepção de A Idade da Terra (1980). Não obstante, trata-se d’algo muito mais ambicioso e essencial, vale dizer, de um verdadeiro Segundo Advento da última e mais abrangente profecia glauberiana.

Não poderia continuar a discorrer sobre o filme de forma objetiva, não sem antes pelo menos fazer um registo pessoal: Anabazys emocionou-me muitíssimo, não apenas por celebrar a magnitude d’um gênio de ciclópicas proporções, que perdemos tragicamente cedo, e que se calhar jamais será igualado, mas, sobretudo (e por isto mesmo saliento a índole subjetiva desta observação), por fortalecer-me ainda mais a convicção de que o opus glauberiano – mormente a partir do manifesto Eztetyka do Sonho (1971), mas já com certas alusões presentes em Terra em Transe (1967) – é a verdadeira transfiguração estético-alegórica do projeto de refundação mística e mítica do agir político que há tempos venho acalentando, vale dizer, a superação da falsa dicotomia entre esquerda e direita (que gerou as grandes tragédias políticas, militares e culturais da modernidade) através da intuição profunda de que a política não é apenas conflito ideológico ou administração pública, mas essencialmente MITO e MÍSTICA: mergulho abissal na imponderabilidade das paixões revolucionárias.

Transcender o falso dilema acima mencionado é, sem dúvida, a grande tarefa a que se propõe a chamada Terza Posizione, termo cunhado em 1978, com a criação do movimento político homônimo em Itália, sob a liderança de Peppe Di Mitri, e tendo como principais ideólogos Roberto Fiore e Gabriele Adinolfi.

Com efeito, torna-se cada vez mais evidente a existência d’uma oposição irreal, posto que ditada por meras circunstâncias transitórias de índole política, econômica e cultural, entre dois campos semânticos e simbólicos unidos por um profundo elo metafísico: a revolta sagrada do Espírito contra a ditadura funcionalista da Razão instrumental; do impulso romântico-messiânico contra os falsos ídolos do pragmatismo burguês; da esfera necessária, permanente, imutável e infinita da ETERNIDADE contra a dimensão contingente, transitória, cambiável e finita do TEMPO (ou então, nos termos d’uma belíssima declaração do líder taliban mullah Omar: “Não tememos a morte, pois já estamos mortos; assim sendo, vivemos no Tempo, mas combatemos na Eternidade”). Enfim, do rutilante fulgor da TRADIÇÃO contra a pseudo-consciência errática e fragmentária da MODERNIDADE.

E malgrado Di Mitri, Fiore e Adinolfi tenham cunhado o termo e, de certa forma, delineado os aspectos gerais do pensamento Terza Posizione, penso que o filósofo russo Aleksandr Dugin (tido, aliás, como um dos principais conselheiros políticos de Vladimir Putin, atual presidente da Rússia) é hoje o pensador mais ousado no âmbito de tal perspectiva ideológica, tanto assim que logra inclusive transcende-la com a proposta de uma Quarta Teoria Política.

A grande estratégia duginiana, por assim dizer, é justamente trabalhar, no âmbito da noção de geografia sagrada, categorias de análise tradicionalmente empregues na reflexão geopolítica. E em que consiste tal noção? Enquanto a geopolítica opera na esfera do cálculo econômico, das relações comerciais, do paralelogramo das forças políticas em ação, a geografia sagrada mergulha no universo dos Arquétipos Tradicionais e Mitos Fundadores, isto é, no escopo do substrato simbólico presente na origem de cada complexo civilizacional. E tal processo envolve, na esfera mais especificamente político-ideológica, a busca pela seiva vital das tradições culturais e civilizações de índole telurocrática e/ou eurasiana, isto é, dos complexos civilizacionais cujos alicerces mais profundos vão de encontro ao atlantismo talassocrático, à Sociedade Aberta, ao iluminismo e ao liberalismo.

Muito embora jamais tenha sido associado, mesmo que remotamente, a qualquer corrente de pensamento Terza Posizione, não hesito em afirmar que Glauber Rocha enveredou, tanto no que se refere ao arcabouço estético de seus filmes quanto no que tange à suas ideias políticas, por sendas que inequivocamente tangenciam a GRANDE SÍNTESE. Foi, sobretudo, um homem de horizontes largos, delirantemente ambiciosos, artista e pensador de fôlego profético, cujas realizações sempre transcenderam a injunções limitadas de um dado contexto histórico para arrojar-se na transcendência fulgurante das visões ESSENCIAIS. Não seria, pois, inusitado afirmar que Glauber opera, ao longo de sua trajetória, uma espécie de transubstanciação alquímica da Geografia Sagrada em arte cinematográfica. É mister salientar a circunstância de Glauber ter vivido num contexto em que não havia nem clareza nem distanciamento ideológico suficientes para que ele pudesse não só tomar contato com ideias políticas heterodoxas “de direita” (tais como o ideário terceiro-posicionista, por exemplo), e também, num segundo momento, perceber a convergência entre suas ideias e tais perspectivas. Assim sendo, se era possível a Glauber defender o Estado Novo varguista, os cacoetes ideológicos de esquerda que fatalmente condicionaram sua formação jamais lhe permitiriam estabelecer afinidades com outros movimentos e escolas terceiro-posicionistas (como a Falange, por exemplo). Por essa razão, e tendo em vista a importância crucial de Glauber para o pensamento revolucionário no Brasil, é que seria de vital importância levar a cabo um trabalho de minuciosa reconstituição do pensamento político glauberiano, estabelecendo e esclarecendo as conexões que me parecem evidentes entre as ideias do cineasta e as correntes ideológicas que hoje confluem no esforço de gestação da Quarta Teoria Política.

Pois bem: com efeito, a obra de Glauber flui numa linha ascendente, tanto no plano estético e artístico quanto no sentido da evolução progressiva de um projeto a um só tempo ideológico, espiritual e existencial. A cada filme e texto são agregados novos elementos, novas perspectivas a este work in progress, que vai expandindo suas coordenadas, revestindo-se de aspectos cada vez mais multifacetados e complexos, até o seu surpreendente coroamento final com A Idade da Terra (1980). E se a princípio é patente o influxo dos modelos europeus de cinematografia e dramaturgia, Glauber se afasta paulatinamente de tais influências em direção a uma estética totalmente original: fusão de alegoria barroca, pajelança antropofágica e cristianismo libertário, num processo que acompanha o seu desligamento progressivo das categorias racionalistas da ortodoxia marxista em direção a um conceito de revolução messiânica, cujo veículo de transformação é precisamente o êxtase místico convertido em agir político.

É, pois, fascinante observar como esse work in progress glauberiano vai se processando ao longo de sua trajetória. Em Barravento (1962) e Deus e Diabo na Terra do Sol (1964), seus primeiros longas-metragens, podemos observar um cinema ainda determinado por parâmetros narrativos e estéticos tradicionais, caudatário, sobretudo, do cinema dialético do soviético de Sergei Eisenstein (1898-1948) e do neo-realismo italiano, não podendo também deixar de ser mencionada, especialmente no que concerne ao trabalho de direção dos atores, uma substancial influência da dramaturgia de Bertolt Brecht. No decorrer de sua carreira, todavia, volto a afirmar, Glauber se afastaria cada vez mais dos modelos europeus, em direção a uma estética totalmente original. Terra em Transe (1967), por exemplo, pode ser visto como o marco inicial desse verdadeiro processo de transfiguração estético-alegórica do projeto de refundação mística e mítica da ação política. Em O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), por seu turno, o intelectual, após enfim ter mergulhado no transe religioso do Povo, compreende que política é Mito e Mística – e Antônio das Mortes, o anjo exterminador, decide por termo à sua saga luciferina e, aliado ao professor e ao pároco local, se engaja na revolução messiânica. É a GRANDE SÍNTESE.

A partir da trinca de longas que dirigiu no exterior, isto é, Cabezas Cortadas (1970), Der Leon has Sept Cabezas (1970), Claro (1975) e, por fim, em A Idade da Terra, obra que é muito mais uma experiência, um ensaio aberto, do que a estrutura fechada com início-meio-fim que tradicionalmente entendemos como um filme, a dimensão ritualística da obra de Glauber, presente como embrião já nos primeiros curtas, atinge o seu ponto máximo de realização. A Idade da Terra é uma “missa bárbara”, que celebra a ascensão de uma nova divindade, o Cristo do Terceiro Mundo, que é o próprio Povo em seu êxtase místico. Um Cristo que não é o do martírio na cruz, mas o Cristo da ressurreição, da libertação. Fazendo uso de linguagens tão diversas como a poesia, o teatro, a entrevista, a farsa, o documentário, Glauber registra o percurso desse Cristo plural, que emana dos anseios mais profundos do povo cristão, que é, ao fim e ao cabo, a materialização simbólica de seu inconsciente coletivo.

A ruptura do cineasta com as engessadas estruturas ideológicas da esquerda oficial, e também com a interpretação materialista da História, se torna, com este filme, irreversível. O Cristo do Terceiro Mundo é, pois, o surgimento de uma nova dimensão revolucionária, o advento da civilização fundada no amor. Como diz o próprio cineasta, em extraordinário texto publicado alguns anos antes (Eztetyka do Sonho, de 1971): “(…) a revolução é uma mágica porque é o imprevisto dentro da razão dominadora” – e outrossim acrescenta: “(…) na medida em que a desrazão planeja a revolução, a razão planeja a repressão”. A dimensão do delírio, transformada em arma do Povo, escapa ao entendimento do dominador, que apenas pode compreender o que atua dentro de sua própria lógica. Só o irracionalismo das massas iluminadas pelo êxtase místico pode romper o círculo vicioso da razão moderna. O racionalismo é, pois, um instrumento de legitimação do Sistema, é a linguagem do dominador. Só a lógica, melhor dizendo, a anti-lógica do sonho, o desreinado delirante do sonho, pode inverter as polaridades e provocar um curto circuito nas estruturas de dominação da racionalidade materialista/capitalista. Trata-se, por conseguinte, da formulação última de seu messianismo-revolucionário, onde o Povo, sem mediações teóricas ou políticas, se converte em sujeito histórico de sua própria libertação na fé do Cristo, encarnação coletiva da liberdade.

Glauber sintetiza de forma magistral a natureza messiânica e mítica da Revolução, a dimensão mística, irracional, imprevisível e emocional presente intrinsecamente em todo processo revolucionário. É a Revolução como categoria mítica, fenômeno que pode ser interpretado por uma analítica científica, não se enquadra em nenhum dos pressupostos epistemológicos e metodológicos da razão científica; ao contrário, afigura-se muito mais como fenômeno de cunho mítico-religioso, impermeável a análises racionalistas, o que fica patente em outras passagens memoráveis de Eztetyka do Sonho: “As revoluções se fazem na imprevisibilidade da prática histórica que é a cabala do encontro das forças irracionais das massas pobres (…) a revolução, como possessão do homem que lança sua vida rumo a uma ideia, é o mais alto astral do misticismo”. Revolução, portanto, não como processo meramente político-ideológico, mas sim como Arte, Delírio, Sonho, Mito e Mística, espiral estratosférica em direção à Grande Síntese.

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Por fim, transcrevo para cá a íntegra de Eztetyka do Sonho, bem como do magnífico monólogo de Glauber em A Idade da Terra, textos-chave para o entendimento de sua cosmovisão.
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Eztetyka do Sonho (1971)

(…) Este congresso em Columbia é uma oportunidade que tenho para desenvolver algumas idéias a respeito de arte e revolução. O tema da pobreza está ligado a isto.

As Ciências Sociais informam estatísticas e permitem interpretações sobre a pobreza.

As conclusões dos relatórios dos sistemas capitalistas encaram o homem pobre como um objeto que deve ser alimentado. E nos países socialistas, observamos a permanente polêmica entre os profetas da revolução total e os burocratas que tratam o homem como objeto a ser massificado. A maioria dos profetas da revolução total é composta por artistas (…).

Arte revolucionária foi a palavra de ordem no Terceiro Mundo nos anos 60 e continuará a ser nesta década. Acho, porém, que a mudança de muitas condições políticas e mentais exige um desenvolvimento contínuo dos conceitos de arte revolucionária.

O primarismo muitas vezes se confunde com os manifestos ideológicos. O pior inimigo da arte revolucionária é sua mediocridade.

Diante da evolução sutil dos conceitos reformistas da ideologia imperialista, o artista deve oferecer respostas revolucionárias capazes de não aceitar, em nenhuma hipótese, as evasivas propostas.

E, o que é mais difícil, exige uma precisa identificação do que é arte revolucionária útil ao ativismo político, do que é arte revolucionária lançada na abertura de novas discussões do que é arte revolucionária rejeitada pela esquerda e instrumentalizada pela direita (…).

(…) Uma obra de arte revolucionária deveria não só atuar de modo imediatamente político, como também promover a especulação filosófica, criando uma estética do eterno movimento humano rumo à sua integração cósmica.

A existência descontínua desta arte revolucionária no Terceiro Mundo se deve fundamentalmente às repressões do racionalismo.

Os sistemas culturais atuantes, de direita e de esquerda, estão presos a uma razão conservadora. O fracasso das esquerdas no Brasil é resultado deste vício colonizador.

A direita pensa segundo a razão da ordem e do desenvolvimento (…). As respostas da esquerda, exemplifico outra vez no Brasil, foram paternalistas em relação ao tema central dos conflitos políticos: as massas pobres.

O Povo é o mito da burguesia.

A razão do povo se converte na razão da burguesia sobre o povo.

(…) A razão de esquerda revela-se herdeira da razão revolucionária burguesa européia. A colonização, em tal nível, impossibilita uma ideologia revolucionária integral, que teria na arte sua expressão maior, porque somente a arte pode se aproximar do homem na profundidade que o sonho desta compreensão possa permitir.

A ruptura com os racionalismos colonizadores é a única saída.

(…) A revolução é a anti-razão que comunica as tensões e rebeliões do mais irracional de todos os fenômenos que é a pobreza.

Nenhuma estatística pode informar a dimensão da pobreza.

A pobreza é a carga autodestrutiva máxima de cada homem, e repercute psiquicamente de tal forma que este pobre se converte num animal de duas cabeças: uma é fatalista e submissa à razão que o explora como escravo. A outra, na medida em que o pobre não pode explicar o absurdo de sua própria pobreza, é naturalmente mística.

A razão dominadora classifica o misticismo de irracionalista, e o reprime à bala. Para ela, tudo que é irracional deve ser destruído, seja a mística religiosa, seja a mística política. A revolução, como possessão do homem que lança sua vida rumo a uma idéia, é o mais alto astral do misticismo. As revoluções fracassam quando esta possessão não é total (…), quando, ainda acionados pela razão burguesa, método e ideologia se confundem a tal ponto que paralisam as transações da luta.

Na medida em que a desrazão planeja as revoluções a razão planeja a repressão. (…)

Há que tocar, pela comunhão, o ponto vital da pobreza que é seu misticismo. Este misticismo é a única linguagem que transcende o esquema racional da opressão. A revolução é uma mágica porque é o imprevisto dentro da razão dominadora. No máximo é vista como uma possibilidade compreensível (…).

O irracionalismo libertador é a mais forte arma do revolucionário. E a libertação, mesmo nos encontros da violência provocada pelo sistema, significa sempre negar a violência em nome de uma comunidade fundada pelo sentido do amor ilimitado entre os homens. Este amor nada tem a ver com o humanismo tradicional, símbolo da boa consciência dominadora.

As raízes índias e negras do povo latino-americano devem ser compreendidas como única força desenvolvida deste continente. Nossas classes médias e burguesias são caricaturas decadentes das sociedades colonizadoras.

A cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore, mas a linguagem popular de permanente rebelião histórica.

O encontro dos revolucionários desligados da razão burguesa com as estruturas mais significativas desta cultura popular, será a primeira configuração de um novo significado revolucionário.

O sonho é o único direito que não se pode proibir.

(…) Hoje recuso falar em qualquer estética. A plena vivência não pode se sujeitar a conceitos filosóficos. Arte revolucionária deve ser uma mágica capaz de enfeitiçar o homem a tal ponto que ele não mais suporte viver nesta realidade absurda.

Borges, superando esta realidade, escreveu as mais libertadoras irrealidades de nosso tempo. Sua estética é a do sonho. Para mim é uma iluminação espiritual que contribuiu para dilatar minha sensibilidade afro-índia na direção dos mitos originais da minha raça.

Esta raça, pobre e aparentemente sem destino, elabora na mística seu momento de liberdade. Os Deuses Afro-índios negarão a mística colonizadora do catolicismo, que é feitiçaria da repressão e da redenção moral dos ricos.

Não justifico nem explico meu sonho porque ele nasce de uma intimidade cada vez maior com o tema dos meus filmes, sentido natural de minha vida.

Glauber Rocha

Columbia University – New York
Janeiro de 1971

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Discurso final (em off) de A Idade da Terra:

No dia em que Pasolini, o grande poeta italiano, foi assassinado, eu pensei em filmar a vida de Cristo no Terceiro Mundo. Pasolini filmou a vida de Cristo na mesma época em que João XXIII quebrava o imobilismo ideológico da Igreja Católica em relação aos problemas dos povos subdesenvolvidos do Terceiro Mundo e também em relação à classe operária européia. Foi um renascimento. A ressurreição de um Cristo que não era adorado na cruz, mas um Cristo que era venerado, revivido, revolucionado num êxtase da ressurreição.

Sobre o cadáver de Pasolini, eu pensava que o Cristo era um fenômeno novo, primitivo numa civilização muito primitiva, muito nova. (…)

São quinhentos anos de civilização branca, portuguesa, européia, misturada com índios e negros e são milênios além da medida dos tempos aritméticos ou da loucura matemática que não se sabe de onde veio nem mesmo a nebulosa do caos, no nada. Ou seja, Deus ou nada, quem não acredita em Deus, acredita no nada. Se nada for Deus…

Então, é muito rápida a história. É uma história de uma velocidade fantástica, é um desespero lisérgico. (…)

Aqui, por exemplo, em Brasília, neste palco fantástico no coração do planalto Brasileiro, forte irradiação, luz do Terceiro Mundo, numa metáfora que não se realiza na história, mas preenche um sentimento de grandeza, a visão do paraíso, essa pirâmide, esta pirâmide que é a geometria dramática do estado social, no vértice o poder, embaixo, as bases e depois os labirintos intrincados das mediações…

Toda essa ideologia do amor se concentraria no cristianismo, que é uma religião linda dos povos africanos, asiáticos, latino-americanos, dos povos totais, um cristianismo que não se realiza somente na Igreja Católica, mas em todas as religiões que encontram seus símbolos mais profundos, mais recônditos, mais eternos , mais subterrâneos, mais perdidos, na figura do Cristo, um Cristo que não está morto, mas está vivo espalhando amor e criatividade.
A busca da eternidade e a vitória sobre a morte, porque a morte é uma estruturação determinada por um código fatalista, talvez de origens sexuais ou genéticas, quien lo sabe… pero se pode vencer a morte.

Então, a civilização é muito pequena. Antes de Cristo e depois de Cristo. Um desenvolvimento tecnológico na Europa, econômico, o mercantilismo, capitalismo, neocapitalismo, socialismo, o transcapitalismo, o trans-socialismo, o anarco-construtivismo, todo um desespero de uma humanidade em busca de uma sociedade perfeita, as utopias, a marcha… Conflitos religiosos entre católicos e protestantes provocaram explosões, navegações, guerras, invasões mouras na Europa, invasões cristãs na África do Norte; Espanha, Portugal e Inglaterra ocupam a América no outro lado. Índios massacrados, negros importados, guerras de independência, latifúndios e indústrias, guerras de latifúndios e indústrias, guerras de indústrias e latifúndios, guerras civis, levantes, caudilhos, guerras, guerrilheiros, revoluções, golpes de estados, democracias, regressões, avanços, recuos, sacrifícios, martírios, América. América do Norte se desenvolve.

O desenvolvimento tecnológico americano leva a civilização ao mundo do século XX. A Revolução Soviética, a Revolução Soviética, a Re-volução Soviética de 1917 comandada por Lenine, Trotski e Stalin subverte completamente o discurso capitalista norte-americano. Enquanto isso, os povos subdesenvolvidos da América Latina, da África e da Ásia pagam o preço do desenvolvimento tecnológico da Europa, dos Estados Unidos, da Europa capitalista, da Europa socialista, da Europa católica, da Europa protestante, da Europa atéia, dos Estados Unidos.
Os povos subdesenvolvidos estão na base da pirâmide. Não podem fazer nada. Todos buscam a paz. Todos devem buscar a paz. Existirá uma síntese dialética entre o capitalismo e o comunismo, estou certo disso. E do Terceiro Mundo. Seria o nascimento da nova, da verdadeira democracia. A democracia não é socialista, não é comunista, não é capitalista. A democracia não tem adjetivos.

A democracia é o reinado do povo. A de-mo-cra-cia, a democracia é o desreinado do povo. Sabemos todos que morremos de fome nos terceiros mundos, sabemos todos das crianças pobres, dos velhos abandonados, dos loucos famintos, tanta miséria, tanta feiúra, tanta desgraça, sabemos todos disso.

É necessária uma revolução econômica, social, tecnológica, cultural, espiritual, sexual, a fim de que as pessoas possam realmente viver o prazer. O Brasil é um país grande, a América Latina, África, não se pode pensar num só país. Temos que multinacionalizar, internacionalizar o mundo dentro de um regime interdemocrático, com a grande contribuição do cristianismo e de outras religiões, todas as religiões. O cristianismo e todas as religiões são as mesmas religiões. Entre o entendimento dos religiosos e dos políticos convertidos ao amor… “

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Alfredo R.R. de Souza
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