É necessário repetir de maneira radiofônica: dizer que alguma coisa é de esquerda ou é de direita, em geral, não significa absolutamente nada e tem o peso descritivo praticamente NULO.
Jean Wyllys pertence à esquerda, mas tem posicionamentos idênticos a de notórios direitistas como Rodrigo Constantino e Jair Bolsonaro em certos assuntos (sobretudo acerca do Oriente Médio e da entidade sionista). Nas eleições americanas, Hillary Clinton foi considerada à esquerda de Donald Trump por defender pautas LGBT, ao passo que Trump foi classificado à direita de Hillary, ainda que tenha modelado sua campanha a partir de uma retórica vinculada a pautas sindicalistas clássicas (recuperar empregos obrigando empresas americanas a retornarem aos EUA).
Os exemplos podem prosseguir. Partidos trotskistas (de esquerda) no mundo inteiro se posicionam de modo contrário ao governo anti-imperialista de Bashar al-Assad, ao passo que organizações nacionalistas europeias (consideradas de extrema-direita pelo establishment midiático) se posicionam a favor. E pior: grupamentos neonazistas (de extrema-direita) e anarquistas (de extrema-esquerda) chegaram até mesmo a dividir as ruas durante golpe de Estado de Kiev em 2014, que resultou na queda do governo reacionário de Viktor Yanukovytch e na emergência de uma Junta liberal-sionista ainda mais reacionária e violenta.
Em todos esses casos, o binômino esquerda-direita não descreveu coisa alguma nos termos da prática política concreta. No máximo, serviu para descrever motivações, razões subjacentes, vetores ideológicos, valores. Mas a prática concreta, que é o critério final de validade política, permaneceu intocada. E por um motivo muito simples, que é a própria relatividade inerente e a própria vagueza conceitual do chamado espectro político clássico (que de clássico não tem nada, já que surge, basicamente, na modernidade).
Ainda que existam pessoas que não se assumem em nenhum desses extremos por mediocridade (o famoso “nem esquerda, nem direita, pra frente”) ou por uma recusa a se posicionar, preferindo a mornidão de uma “política de centro” inexistente, afirmamos sem sombra de dúvida que, para que o Brasil avance em direção às realizações civilizacionais mais elevadas, é salutar produzir uma crítica radical e devastadora do espectro político convencional. Porque só assim será possível aflorar a criatividade jovial e revolucionária inerente à criação das grandes civilizações.
Nem esquerda, nem direita, CONTRA O CENTRO!