Estados Unidos querem uma mudança de poder na China

O 20° Congresso Nacional do Partido Comunista da China está previsto para o dia 16 de outubro. Lá, os delegados definirão a estratégia e as prioridades de desenvolvimento da China e escolherão quem será o líder do país nos próximos cinco anos.

Segundo Valery Kulikov, é provável que o atual Secretário-Geral do Partido, Xi Jinping, seja reeleito para um terceiro mandato, já que, em 2018, foi abolida a regra que dizia que uma mesma pessoa não poderia exercer mais de dois mandatos consecutivos como Secretário-Geral.

Xi Jinping é líder do Partido Comunista há quase uma década e, durante esse período, tem se concentrado constantemente no fortalecimento da soberania nacional da China no âmbito político, bem como nas áreas de comércio, economia e ciência.

Essa política, sem dúvida, reforçou sua autoridade pessoal na China, mas também provocou a ira das potências ocidentais, e Washington está agora determinada a encontrar uma maneira de afastar Xi do poder.

Muitos membros da administração de Joe Biden expressaram oposição à atual política chinesa. O Secretário de Estado Antony Blinken descreveu a China, em maio deste ano, como “o desafio mais sério a longo prazo para a ordem internacional.” Acrescentou que a única resposta à “ameaça” representada por Pequim era a “dissuasão unida” e o “investimento em fortalezas.”

A atitude da elite americana foi exposta pelo ex-diplomata Roger Garside, que, em seu livro China Coup: The Great Leap to Freedom (Golpe de estado na China: o grande salto rumo à liberdade), descreveu descaradamente como o atual líder chinês poderia ser derrubado por seus rivais políticos em uma revolta. De qualquer forma, os golpistas fariam a China ir de um regime socialista para uma democracia liberal nos moldes ocidentais.

Em seu livro, Garside argumenta que, sob “a liderança excessivamente assertiva” de Xi, a China se colocou em rota de colisão com os EUA. A “revolução de palácio” em Pequim seria desencadeada pela ameaça de uma guerra comercial que prejudicaria a economia chinesa. No cenário de Garside, os EUA guiam astutamente a “quinta coluna” da China e criam condições para que os rivais de Xi o enfrentem.

As idéias para uma mudança de poder na China não se limitam ao plano literário. No início deste ano, o especulador bilionário George Soros, de 92 anos, defensor incondicional de todas as “revoluções coloridas” no Ocidente, fez um apelo velado por uma mudança de regime na China em uma reunião do Fórum Econômico Mundial, chamando Xi Jinping de “a maior ameaça à ordem mundial liberal.”

Na tentativa de organizar uma revolução na China nacionalista, Soros e suas várias organizações visaram as jovens elites econômicas e financeiras do país, na esperança de que pudessem atuar como oposição pró-ocidental aos veteranos do partido e aos militares, criando uma crise política interna na China.

Através de sua fundação, Soros segue a mesma fórmula usada na preparação para os golpes: trabalhar com jovens politicamente ativos e selecionar os candidatos mais “promissores”; os mais vulneráveis às tentações do liberalismo, para treiná-los nos Estados Unidos e na Europa, a fim de promover os interesses capitalistas financeiros ocidentais.

Mas os planos do velho especulador e da elite dominante do Ocidente são dificultados pelo fato de que, nos últimos cinco anos, o regime de Xi Jinping estabeleceu uma série de mecanismos para combater a influência estrangeira. O Partido Comunista tem agora uma hierarquia de comando mais forte e o país lançou também campanhas anticorrupção.

Como resultado, a campanha de sabotagem não teve o sucesso inicialmente previsto. Por isso, Washington mudou de tática e lançou uma nova campanha anti-China centrada nas aspirações independentistas da ilha de Taiwan.

Washington escolheu Taiwan como centro de sua ofensiva contra a China continental porque as anteriores tentativas de desestabilização, centradas em Xinjiang e Hong Kong, fracassaram miseravelmente.

Isso ficou claro nesta primavera, quando a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, retornou de uma visita à Região Autônoma Uigur de Xinjiang e foi acusada, após uma entrevista coletiva, de ser “muito branda com a China.” Comunidades muçulmanas em todo o mundo também protestaram contra as tentativas de usar os uigures como arma de propaganda contra a China.

As tentativas de Washington de organizar manifestações contra Xi Jinping em Hong Kong no verão de 2019 não tiveram melhor resultado. Os planos para reconhecer Hong Kong como um estado independente e estabelecer relações comerciais separadas com ele, excluindo assim a China, falharam pelas emendas legais. Assim, os “especialistas” de Washington apontaram, em seguida, para a ilha de Taiwan.

No início de agosto, o governo de Biden enviou Nancy Pelosi, líder do Partido Democrata na Câmara dos Representantes, em uma viagem provocativa a Taipei. O objetivo desta visita era humilhar Xi Jinping e minar sua posição política, bem como atrair apoio de eleitores estadunidenses para os democratas nas próximas eleições de meio de mandato.

Washington está bem ciente de que, neste momento, pouco antes do Congresso do Partido Comunista Chinês, a estabilidade social, econômica e política é de suma importância para Pequim, e, por isso, está fazendo de tudo para desestabilizar o regime de Xi.

Tendo feito seu primeiro movimento no tabuleiro de Taiwan, os Estados Unidos continuaram a provocar a China com mais visitas políticas à ilha. No dia 14 de agosto, uma delegação do Congresso liderada pelo senador Ed Markey e apoiada por quatro outros senadores chegou a Taipei para uma visita de duas semanas. Em seguida, o governador republicano de Indiana, Eric Holcomb, e, pouco depois, a senadora do Tennessee, Marsha Blackburn, fizeram suas visitas.

Para mostrar sua lealdade aos Estados Unidos, a Lituânia, um pequeno estado vassalo báltico sempre disposto a apoiar qualquer projeto de hegemonia ocidental, também enviou uma delegação chefiada pelo Vice-Ministro dos Transportes e Comunicações, Agne Vaiciukevičiūtū, em uma viagem de cinco dias a Taiwan. A Lituânia já se posicionou contra a China no passado, chamando-a “para estar do lado certo da nova cortina de ferro.”

O Japão, antigo inimigo da China na Ásia, também seguiu o exemplo de seu anfitrião transatlântico ao enviar uma delegação liderada pelo ex-ministro da Defesa, o liberal-democrata Shigeru Ishiba, em uma viagem de quatro dias a Taiwan. Logo depois, outro político Japonês, Keiji Furuya, também viajou para a ilha chinesa.

Kulikov interpreta o objetivo dessas visitas como sendo o de “pressionar Taipei a fazer uma declaração formal de independência, na esperança de que uma resposta chinesa moderada a essas provocações seja vista como um golpe à autoridade tanto do partido governante chinês quanto de Xi Jinping.”

Enquanto tais eventos se desenrolam, tanto os EUA quanto a China demonstraram sua força militar nas águas de Taiwan. É provável que os Estados Unidos continuem lançando ameaças, na esperança de que a China erre e entre em um conflito que lhe cause dificuldades semelhantes às que a Rússia teve com a operação especial na Ucrânia.

A administração de Xi Jinping está certamente ciente dos planos cínicos de Washington. O mais provável é que Pequim esteja se preparando para as maquinações dos EUA, avaliando diferentes cenários e preparando contramedidas para o outono.

Fonte: Euro-sinergias

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Markku Siira

Escritor

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