Por Patrick J. Buchanan
Qual a fonte de autoridade moral para a doutrina moderna que trata a homossexualidade como moral, e não uma ideologia passageira como a religião política da qual nos lembra Russell Kirk? Qual a fonte da moralidade que supõe as uniões de mesmo sexo como equivalentes ao casamento tradicional e que rechaça qualquer regime não associado às suas ideias?
O primeiro-ministro holandês Mark Rutte instruiu categoricamente o húngaro Viktor Orban na última reunião da União Europeia em Bruxelas: Respeite os direitos LGBT ou saída da UE.
De acordo com a Reuters, os participantes descreveram o caso como “o enfrentamento pessoal mais intenso entre líderes em anos.”
Qual a sua causa?
A Hungria acaba de aprovar uma lei que bane materiais pró-homossexualidade das escolas. De acordo com a Associated Press, a nova lei “proíbe a divulgação de material sobre homossexualidade ou mudança de gênero para jovens abaixo dos 18 anos em programas de educação sexual, filmes ou propaganda.”
Rutte detalhou avidamente seu confronto com Orban: “Era realmente necessário, um sentimento profundo de que isso não pode ser assim. É sobre nossos valores; sobre o que defendemos.”
“Eu disse, ‘Pare: você deve retirar essa lei, e se você não gosta disso e acha que os valores europeus não são os seus, então você deve repensar a permanência na União Europeia.’”
Orban afirma ser um defensor da liberdade e dos valores Católicos, que acredita na democracia, mas não no liberalismo: “A nação húngara não é uma mera pilha de indivíduos.”
Quase todos foram duros com Orban.
O presidente do conselho europeu, Charles Michel, lembrou Orban que “valores como liberdade, tolerância e dignidade humana estão no núcleo da UE.”
Diversos estados participantes da UE assinaram um documento declarando que “Respeito e tolerância estão no centro do projeto europeu. Estamos comprometidos com a continuidade desse esforço, garantindo às futuras gerações europeias uma atmosfera de igualdade e respeito.”
Presente na reunião, o Secretário Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, questionado sobre a nova lei húngara, disse que “todas as formas de discriminação são totalmente inaceitáveis e, obviamente, todas as formas de discriminação aos grupos LGBTQ+ são inaceitáveis.”
Os problemas levantados por esse confronto são diversos.
Primeiro, isso prova que corretos estavam os avisos dados nos anos 60 sobre a UE, que esta começando como uma Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, uma zona franco-germânica de mercado aberto entre seis nações, evoluiria inevitavelmente e se expandiria para um regime transnacional que buscaria impor seus “valores” sobre os membros.
E quais são esses valores? Quem os declara; quem os define?
Os ensinamentos cristãos possuem um pedigree milenar.
Mas qual a fonte dessa autoridade moral sobre a homossexualidade?
Pois essa posição adotada pela UE – que a homossexualidade é natural, normal e deve ser moral e legalmente igual às outras formas de expressão sexual – contradiz a crença Cristã e valores que a própria Europa refletia na infância da UE.
Os valores mudam? Ou as pessoas são simplesmente convertidas a novas fés, crenças, ideias e “valores” que contradizem os antigos ensinamentos e crenças de séculos?
Se a tolerância é, conforme Michel declara, um valor da UE, a cobertura dessa tolerância é tão pequena assim para ser incapaz de incluir os valores cristãos de Orban, embora eles contradigam os valores de Rutte e outros?
Não seria esse o caso da Hungria estar sujeita à discriminação da UE pela ofensa moral de defender valores que diferem daqueles que formam o consenso europeu?
Será o liberalismo europeu tão intolerante ao dissenso que expulsaria um membro que não abraça os ensinamentos LGBT do século XXI?
Somente neste século que a homossexualidade foi declarada um direito constitucional dos EUA. O jurista Antonin Scalia foi notoriamente contrário a essa decisão.
E se a Hungria é forçada a sair da UE por se agarrar às mesmas ideias e crenças de Scalia, e dezenas de milhões de americanos também as agarram, por que os americanos não ficariam ao lado do direito húngaro ao dissenso?
Os valores americanos, certa vez declarados como autonomia, liberdade e independência, evoluíram para inclusão, diversidade e tolerância.
Isso nos traz à cultura do cancelamento.
Onde está a tolerância para diferenças na crença sobre a moralidade da homossexualidade? Aqueles que rejeitam opiniões recém-estabelecidas não podem ser incluídos na companhia de homens decentes? Até onde vai essa inclusão e diversidade?
Por que devemos excluir os dissidentes sobre a igualdade moral da homossexualidade do círculo da decência?
Estamos chegando perto de conhecer a cultura do cancelamento pelo que ela realmente é.
Será o propósito ensinar às futuras gerações que a posição Cristã sobre a homossexualidade era retrógrada, fanática e odiosa, e que seu abandono marca um grande passo no progresso humano?
Se o povo húngaro considera que os valores europeus entram em conflito com os valores húngaros e católicos, eles devem se declarar independentes da UE como nada além de um bloco comercial.
Fonte: The Imaginative Conservative
Tradução: Augusto Fleck