Por Lucas Leiroz
O pensamento comunitarista e quarto-teórico, bebendo das fontes do Conservadorismo Revolucionário, visa a renovação do Homem; sua redescoberta, rumo à superação daquela que é a sua versão mais pobre, fraca e baixa, o indivíduo liberal.
As ideologias da Modernidade rebaixaram o Homem, cada uma à sua maneira particular. Em reação à figura putrefata do indivíduo, o marxismo trouxe a coletividade da classe, que, longe de abandonar a visão liberal do homem, reescreveu-a sob a máscara reducionista e vazia do operário apátrida.
Os fascistas beberam da mesma fonte, submetendo o homem a um objeto do Estado, à ideia de parte de um todo da máquina (in)orgânica, ou, no caso dos alemães, reduzindo-o ao biologismo pueril de seu racismo anglófilo.
O Século XX tratou de reconfigurar o mapa mundial pelo confronto das ideologias. A era dos extremos hobbsbawniana foi fundamentalmente a era da ideologia. Em todos os continentes, ao longo de todo o Século, ideologias se confrontaram. Quando não se confrontaram umas às outras, lutaram internamente entre seus representantes, fosse pela afirmação de alguma vertente ou pelo alcance de interesses específicos.
Destes confrontos, a ideologia liberal foi a indubitável vitoriosa. Em coalizão com os comunistas, derrotou o fascismo. Contra posta ao comunismo, o fez desaparecer ou reduzir-se à figura inócua dos partidos esquerdistas que aceitaram o pacto liberal-democrata.
O liberalismo venceu. Consolidou-se. Tornou-se hegemônico. E com ele tornou-se hegemônica a visão liberal do homem. Tornou-se hegemônico o indivíduo.
Aleksandr Dugin faz nota de como a vitória do liberalismo coincide com o seu desaparecimento enquanto ideologia. Tornando-se hegemônico, o liberalismo já não enxerga mais a necessidade de inserir-se no campo do político. O Conceito do Político schmittiano demarcado pelo binômio amigo-inimigo (Freund-Feind-Unterscheidung) é quebrado, pois já não há mais inimigo. Logo, o amigo perde sua própria razão de ser.
O liberalismo torna-se a própria realidade posta e desfigura-se para um pós-liberalismo, que protagoniza uma pós-modernidade. O indivíduo degenera-se no divíduo e já não temos nem sequer o Homem, mas uma absoluta incógnita individualista. É então que surge o fenômeno do transhumanismo, que em dentro de algumas décadas tende a extinguir a própria humanidade como conhecemos, substituindo-a por hordas de quimeras humano-robóticas.
Ao propor um combate radical e violento contra o liberalismo, não substituindo-o por outra ideologia moderna, mas iniciando uma marcha rumo ao próprio fim da Modernidade, a Quarta Teoria Política também promove uma fundamental redescoberta do Homem, demonstrada principalmente em seu sujeito histórico, o Dasein, promovendo a lembrança a o ressurgimento do Ser.
Rejeitando o indivíduo, tanto em sua forma clássica quanto na aberrante figura moderna do divíduo transhumano, bem como a pobre imagem do trabalhador ateu universal, ou da mera célula do (Etno-)Estado, propomos o Homem em seu estado mais pleno e integral, o narod.
É neste sentido que rejeitamos as democracias liberais modernas e advogamos pelo Laoísmo, o comunistarismo por excelência, o governo do Povo, tomado em sentido qualitativo, rejeitando o sentido quantitativo de “população” que lhe é empurrado pelas democracias capitalistas. Propomos o retorno ao Homem; o retorno do Ser; do narod; do ethnos.
Assim, ao rejeitarmos as democracias modernas e o indivíduo, marchamos rumo ao Império, ao Homus Maximus, à Sociedade Máxima. O Império é a forma máxima da Humanidade, o Paraíso Terrestre, o Reino do Narod. A mais perfeita e vitoriosa forma humana possível.
Dugin estabelece uma Tricotomia Imperial baseada na Antropologia Cristã. Na antropologia paulina clássica o Homem possui uma estrutura tricotômica: corpo, alma e espírito. O Império, como extensão máxima do Homem, possui a sua própria estrutura tricotômica, que em nada mais consiste do que na elevação dos elementos do Homem: Espaço, Narod e Religião. O Espaço é o Corpo. O Narod é a Alma. A Religião é o Espírito.
Ainda Dugin, com o fulcro de estabelecer uma episteme conservadora-revolucionária, estrutura uma nova tricotomia, que a cada um dos três elementos do Império-Homem corresponde uma ciência específica.
Ao Espaço-Corpo corresponde a Geopolítica, a mais sacra das ciências seculares. Ao Narod-Alma corresponde a Etnossociologia, que se encarrega da investigação dos narodi, da compreensão dos povos enquanto povos, do Homem enquanto Homem. À Religião-Espírito, por fim, corresponde a Teologia, a Ciência-Mãe, a Coroa do Conhecimento, a mais elevada Sabedoria.
É sob esta mais básica principiologia conservadora-revolucionária, que propomos a superação do indivíduo rumo ao Homem, ao Narod; das liberal-democracias rumo ao Império, da sociedade burguesa rumo à Sociedade Máxima.
Assim objetivamos a edificação da Potência Telúrica, que, pautada em princípios eternos, coroada a Sabedoria Teológica, preenchida com o conhecimento dos Narodi e inserida no jogo temporal das nações com a Geopolítica, libertará os Povos sob seu manto, elevando-os a uma Nova Humanidade; ao Império.