Do jeito que a mídia fala, tudo que há de ruim no Brasil é culpa da corrupção. O país não se desenvolve por causa da corrupção. Não se industrializa por causa da corrupção. A saúde e a educação vão mal por causa da corrupção. E assim entende o senso comum do brasileiro.
Realmente, a corrupção é extremamente danosa. Mas não é ela a origem dos problemas estruturais brasileiros: ela não está por trás dos nossos problemas e ela nem é o problema mais importante que temos a resolver. Há coisas muito maiores e piores que atrapalham o nosso desenvolvimento.
A escravidão dos juros da dívida; a doença holandesa; nossa sujeição vergonhosa à divisão internacional do trabalho; a configuração semifeudal da nossa estrutura fundiária; o poder desproporcional que nossa mídia de massa tem sobre a política, a economia e a cultura; o desequilíbrio de nosso sistema tributário. Tudo isso é pior e causa mais danos que a corrupção.
Esse foco da mídia – quase exclusivo – na corrupção, deve ser visto com suspeitas. De que nos adiantaria um candidato “limpo” que não só não quisesse resolver os problemas estruturais brasileiros, mas estivesse disposto a agravá-los?
Há personagens políticos “incorruptíveis” que têm maior poder de destruir um país do que os maiores corruptos. Aliás, nada mais seria do agrado para a classe rentista do que figuras “gestoras”, “de alta probidade moral”, que fossem capazes de emplacar as reformas que pretendem afundar o país, sem qualquer escândalo ou um único centavo fora da contabilidade.
Nós devemos ficar atentos. Observem toda a gana que a Rede Globo tem, eventualmente, por derrubar a atual Junta governista. Não é porque a Globo é “do bem” e isso tampouco significa, ao contrário, que Temer não deva cair.
O que o Brasil precisa é de um autêntico projeto civilizatório, guiado por um grande homem, capaz de liderar as massas rumo aos grandes feitos. E não um “zé gestor”, e muito menos alguém cuja única virtude seja o de “veja bem, pelo menos não sou corrupto”.