Dos Benefícios da Amizade

No mundo neoliberal cada vez mais atomizado, a amizade aparece como luz na escuridão. Artigo sobre o paradoxo da amizade, fruto do desconhecido e ao mesmo tempo fortalecimento da identidade social.

Visualizando as questões da psicologia, nos deparamos com o termo subjetividade. Segundo Fernando Rey González, as teorias são formações simbólicas sociais construídas por indivíduos durante a vida, dependendo da configuração histórica de cada um. Como isso se reflete na metapsicologia como informação? Então, em grande parte da sociedade existem diferenças, por mais que mínimas, dentro de cada ser em cada sociedade: contribuídas pelas suas histórias, pelas suas pulsões e suas simbolizações para com o Outro.

Lacan também contribui com uma questão primordial na compreensão do desejo, atribuição de um combustível, que é a falta. Quando se diz aqui desejo, não estou propondo assim como Freud usou por longo tempo uma proposta exclusiva ao sexual, não que essa deva ser diminuída.

Nossa sociedade carrega um vício moderno pertinente. Permitam-me uma analogia: precisamos trancar nossas casas, usamos inúmeros cadeados, trancas, carregamos medos frequentes do pior pelo simples fato de que há violência lá fora que não queremos trazer para nossos lares. O que esquecemos? Ora, que há violência em nossas casas também!

Ao empregar o termo violência, me refiro aos casos de alienação parental, nos quais pais e mães que criam seus filhos para reprodução a fim de que esse seja seu objeto de desejo – desejar seu filho ao ponto de que só haja esse desejo alienado e alienante para os pais. Haverá amor? Sim, mas com esse amor, cedo ou tarde mostrará a face do ódio e uma profunda insegurança nessa criança.

Nossa sociedade pós-moderna se estabelece como alienadora de crianças aos desejos dos pais, construindo crianças inseguras e incapazes, porém há uma luz no fim do túnel que pode ser uma faca de dois gumes: a amizade. O que há de benéfico na amizade? O diferente.

O que o diferente pode estabelecer em relação ao sujeito que possui sofrimentos perante o desejo do Outro alienado? Uma nova chance de frustração, uma descoberta de que há todo um universo além do seu, uma coleção de pequenas chances de adaptação à deficiência do desejo alienado aos pais. Aqui se encontram as benesses da escola durante a infância, as possibilidades de socialização e de lidar com as contingências do mundo.

Não esquecendo que nem toda possível adaptabilidade é benéfica e estamos também vulneráveis à maldade dos outros, nos trancar em nosso universo carrega uma possível alimentação ao ego, ao invés da dissolução, e é muito mais perigoso um isolamento em que se retroalimente o ego do sujeito. A amizade em nossos tempos (e outrora) carrega um benefício de compreensão de si, pois apenas sabe quem és, se há quem o possa dizer.

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Guilherme Alvares

Estudante de Psicologia, adepto do zen budismo e membro da NR-DF.

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