O cosmopolitismo cultural faz parte da ideologia oficial da classe dominante. Sua função política é despir os povos oprimidos de suas forças motrizes básicas (étnicas e tradicionais), assimilando-os em um sistema de valores importado dos grandes centros financeiros e difundido pelas grandes mídias de massa – que, em últimas instância, serve ao soft-power imperialista e globalista dentro do contexto das guerras híbridas.
Muitas vezes vendido pelo establishment como “contra-cultura” e interpretado como “subversivo” por uma determinada elite acadêmica, boa parte dos elementos que constituem o cosmopolitismo cultural não passam de ferramentas nas mãos da Reação. Como bem compreendeu o professor Wilson do Nascimento Barbosa em seu clássico artigo A Identidade do Negro no Brasil:
“Sabemos que o discurso ‘progressista’, anti-tradicional, do uniculturalismo cosmopolitista tem por objetivo a destruição dos costumes, da consciência étnica e da ideologia social das diferentes culturas que lhes servem de empecilho. ‘Sexo, drogas e rock´n´roll’, uma das bandeiras do cosmopolitismo, visa apenas destruir os fatores projetantes, as forças próprias, dos povos oprimidos, dissolvendo tudo no caldeirão da corrupção e do Capital” (NASCIMENTO, 1984, p. 27).
Suprimindo as identidades orgânicas e dilapidando as forças projetantes dos povos, o cosmopolitismo objetiva mascarar as diferenças de classe que existem na base das sociedades capitalistas: uma vez que todos passam a fazer parte de um mesmo nexo de valores, coloca-se fim às fronteiras que separam a cultura popular, de resistência, que recapitula o orgulho e a identidade própria de um povo, da cultura e dos valores burgueses, modernos e, fundamentalmente, decadentes. E mais: uma vez que as culturas regionais passam a ser encaradas como “obsoletas” e “retrógradas”, faz-se com que as camadas populares e exploradas da sociedade mergulhem na mesma constelação de valores liberais, hedonistas e mercadológicos que caracterizam as sociedades burguesas decadentes. Um grande exemplo disso é o lixo cultural que escoa das produções da Globo.
É o Capitalismo de Sedução de que falava Michel Clouscard, plasmado na Sociedade do Espetáculo de Guy Debord. A geração Netflix, das maratonas de série, da cultura enlatada, do imediatismo, da revolução sexual, da rebeldia pseudo-subversiva dos filhos da burguesia, são frutos inquestionáveis disso.
É por essa razão que o grito pela valorização do regional e pela rejeição do global é necessariamente um grito revolucionário e popular contra a classe dominante e contra a dominação do Capital sobre mentes, que é o Terceiro Colonialismo.
A Revolução socialista e patriótica no Brasil deverá se inspirar nos valores tectônicos do Povo ou não passará de um processo frívolo de manutenção do espírito burguês. E todos sabemos que, se uma revolução destrói as bases materiais da poder burguês, mas não bane o seu espírito, o espírito e o ethos burguês, tal revolução está fadada ao fracasso (burguesia é classe, mas também um ethos e um espírito, sempre é bom lembrar).
artigo SENSACIONAL!!
Sou fãzaço do Wilson Nascimento