Aos três anos do martírio de Daria Dugina

Três anos se passaram desde o martírio e transfiguração de nossa querida camarada Daria Dugina, e mesmo com a ferida da saudade ainda aberta, a chama de seu gesto continua a nos inspirar na direção de nossa vitória.

Há três anos, ao sair do festival Tradição, Daria Dugina deixava este vale de lágrimas. Com sua passagem, os corações dissidentes em todo o mundo pausaram por um momento, um momento demasiadamente longo, terrivelmente longo e melancólico.

Uma parte de nós, familiares, amigos e camaradas, permanece naquele momento, como se uma ferida tivesse se aberto em nossa existência e teimasse em não fechar, não só para machucar, mas para que nunca nos esqueçamos.

Outra parte de nós, nós que tratamos a Morte não com o temor dos servos nem com a infamiliaridade dos descrentes, seguimos adiante carregando o estandarte de Daria entre nossas fileiras, sua sabedoria, sua memória, seu fervor ideológico.

Rilke declara em sua sexta elegia que o herói é o misterioso irmão dos que morrem jovens, e Daria é sua confirmação.

Heroína e mártir de sua Pátria, família e causa dos povos, Daria Dugina foi tudo que nós podemos aspirar a ser. Estudiosa, dominava com franca habilidade as diversas bacias do pensamento, tendo estudado a filosofia desde cedo e conhecendo seus labirintos, adentrou o Palácio das Ideias e foi coroada com o direito de se proclamar Platonova, ou Filha de Platão, abraçando a filosofia platônica como sua arma e escudo contra a obscuridade do mundo moderno.

Brava, encarou todos os desafios e perigos das disputas intelectuais e terrenas, debatendo com colegas e adversários, além de cumprir uma função investigativa e jornalística admirável nas entranhas da guerra e contra as perversidades que se ocluem nas sombras da modernidade liberal.

Os covardes que visaram tolher do mundo a sua graça e mergulhar-nos em desespero não podiam imaginar ou calcular o erro que cometiam e o quanto seu ato hediondo seria convertido pela própria Daria no mais vertical e poderoso dos gestos de virtude, pois Daria é a Luz que a escuridão não pode compreender (João 1:5).

Seu otimismo escatológico conecta todos nós e nos lembra pelo que estamos lutando. Ele liga os pensamentos de todos aqueles que vislumbraram com fé o fim do fim da história, juntando cada gesto e reflexão no pulsante éter da possibilidade. Possibilidade de vida, de filosofia, de Ser.

Verdadeira Artemisia, transformou a chama de seu martírio em uma seta flamejante do Logos, mirando a escuridão metafísica de nossa era e acendendo um farol de esperança e vitória ao qual todos respondemos prontamente, chamados para seguir seu exemplo destemido.

Assim, princesa da filosofia, guerreira dissidente, filha de Platão, Daria ascendeu para fora da caverna de sombras e ilusões deste mundo murmurante, e ascendente rainha-filósofa permanece para nos guiar na direção de nossa própria liberdade.

Seja sua memória eterna,

DARIA DUGINA, PRESENTE!

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Augusto Fleck

Gaúcho, dissidente, bacharel em Ciências Sociais e tradutor.

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