A economia da dádiva versus a “economia” do abismo – e como esta passou a dominar sobre aquela. Contra a crematística dos malditos e condenados.
O tema da economia, embora secundário para a alma humana, tem ainda assim certo direito de ocupar nossa atenção.
Devemos lidar com a economia segundo um princípio residual – caso contrário, nosso pensamento se afoga no material. Tornamo-nos obcecados pela economia, queremos sempre mais e mais, e no fim acabamos por aniquilar o humano em nós.
O próprio termo “economia” é uma palavra grega (oikonomía) que significa literalmente “ordenação da casa”, “construção do lar”, “gestão doméstica”. “Casa”, aqui, também deve ser entendida à maneira grega – como território de convivência íntima (não apenas a moradia, mas também tudo o que a circunda). A economia é o domínio do imediato. Não é tarefa de castas ou classes específicas, mas um denominador comum: a edificação do lar está presente tanto entre os pobres quanto entre a classe média e os estratos mais elevados.
Assim, o domostroi – a construção do lar – é o destino do homem, e o mundo deve ser organizado conforme nossos ideais. A maneira como organizamos nossa casa reflete nossa visão de mundo.
Essa compreensão foi expressa com clareza pelo padre Serguei Bulgakov em Filosofia da Economia: trata-se da organização do mundo exterior, daquele que circunda o homem. Queremos construir uma economia segundo os desígnios de Santa Sofia. Daí advém o significado elevado e o componente espiritual da economia: não é apenas uma preocupação com o material, mas – ao contrário – uma tarefa do espírito.
Nesse sentido, a economia para Aristóteles, para o homem medieval, ou o Domostroi tradicional russo – tudo isso representava uma extensão da prática espiritual.
Mas será que os manuais de economia falam disso hoje? Será que é isso o que os economistas debatem nos fóruns? Fala-se apenas da extração do lucro material. Isso já estava presente na economia liberal desde o final do século XVIII e foi incorporado pelo marxismo – invertendo apenas o juízo ético. A obsessão pela economia como método de maximização do lucro tornou-se o princípio central da civilização, segundo Marx – e depois vieram os próprios marxistas.
Curiosamente, essa concepção já era conhecida no tempo de Aristóteles, sob o nome de crematística (chrematistiké) – a arte de extrair lucro por qualquer meio. Chrema vem de chre – “necessidade”. A economia pertence aos fortes, aos que doam, aos que oferecem. É a ordenação do ser. Já a crematística baseia-se em um vazio – algo que falta e precisa ser incessantemente preenchido. É um tipo de buraco negro da carência interminável, em que nunca é o bastante. A economia é praticada por homens nobres (independentemente de sua posição social); a crematística, pelos malditos.
Na economia, fala-se de suficiência, abundância e dádiva. Na crematística, fala-se de escassez, do desejo de tomar o alheio, do buraco negro. É na crematística que se encontram os empréstimos e todos os demais vícios do sistema capitalista – até a venda de órgãos humanos.
É hora de devolver à economia seu sentido originário, separando-a da crematística. A HSE de hoje não é uma Escola Superior de Economia, mas uma Escola Superior de Crematística. E o ministro da Economia é, na verdade, ministro do vampirismo e dos espíritos famélicos dos cemitérios.
O próprio amor ao dinheiro é uma patologia, e o dinheiro fede. E não apenas quando acumulado: ele fede sempre. É uma sujeira que um homem nobre jamais tocaria.
Fonte: Geopolitika.ru.