O dilema religioso e geopolítico de Israel

Para todas as confissões cristãs tradicionais, o Israel moderno não tem relevância teológica. Para os judeus religiosos ortodoxos, todos os cristãos são hereges que seguem o “deus errado”. Portanto, a seita protestante holandesa judaico-cristã do século XVII era herética tanto para cristãos quanto para judeus.

O Israel moderno só tem importância teológica para uma parte dos judeus contemporâneos que, ou acreditam que não é mais necessário esperar pelo Messias (que está atrasado) e que é hora de substituí-lo, ou ignoram a proibição talmúdica de restaurar Israel antes de sua chegada.

Israel é uma criação artificial pós-colonial, de importância estratégica secundária para o Ocidente como entidade geopolítica. Por isso, realistas como Mearsheimer não conseguem entender a obsessão com ele na política externa dos EUA.

O Israel moderno só adquire verdadeiro valor religioso em seitas protestantes que compartilham a ideia dispensacionalista — teorias estranhas como a Bíblia de Scofield e Rússia = Gog. Segundo eles, os judeus devem ser batizados no cristianismo no momento da Segunda Vinda, que, para eles, será a primeira.

O dispensacionalismo é comum em algumas seitas protestantes nos EUA, mas ainda é muito marginal. Além disso, a ideia judaico-cristã tem outra versão em que os WASP (brancos anglo-saxões protestantes) são considerados os verdadeiros judeus (as 10 tribos perdidas) — o “British Israelism“.

Alguns holandeses e britânicos judaico-cristãos foram seguidores do pseudomessias judeu Sabbatai Zevi, que pode ser considerado um dos primeiros sionistas.

Portanto, hoje estamos lidando com uma seita marginal tanto no judaísmo quanto no cristianismo, que está empurrando a humanidade para o suicídio nuclear sem motivo algum. Por que ela é tão poderosa? Tudo isso é muito estranho e ameaçador.

Mas, ainda assim, isso poderia não ter relação com o Estado moderno de Israel, já que eles deveriam ser batizados.

De modo geral, após o genocídio em Gaza, podemos discutir Israel, o sionismo e o judaísmo em suas diferentes tendências de maneira mais calma, sem presunções exageradas e sem o risco de ser estigmatizado como “antissemita”. A propósito, os palestinos são árabes, portanto, semitas.

Se o Irã atacasse Israel primeiro, presumo que a discussão teológica sobre a guerra seria consideravelmente diferente.

Fonte: Alexander Dugin
Tradutor: Augusto Fleck

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Nova Resistência
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