Repousa Zagallo, o maestro do futebol brasileiro

Primeiro e último guardião de uma geração gloriosa, nasce para a eternidade o maestro Zagallo, o Velho Lobo, que das chuteiras à prancheta modelou nosso futebol e lhe conferiu efetivamente a qualidade de “brasileiro”.

É possível dizer muitas coisas sobre Zagallo, mas sua passagem é um marco bastante simbólico em si. O velho lobo ficara para apagar as luzes de uma geração do futebol brasileiro que efetivamente nos deu motivos para que se falasse num futebol, vá lá, “ontologicamente” brasileiro.

Curiosamente, Zagallo nunca foi o craque, o ícone hierofânico que Pelé se tornaria. Ele era a formiguinha operária que conectava todos os elementos através de seus pressentimentos e visão.

Das chuteiras calçadas em 58, passando por sua prancheta mágica em 70 até sua aparição derradeira e trágica em 98, Zagallo marcou o Brasil e o mundo com sua capacidade de modelar taticamente aquilo que parecia uma energia naturalmente divina. Mas se era verdade que o Brasil inaugurou a máxima de que o importante era ter os melhores em campo, e seus melhores eram os melhores dos melhores, era preciso dar tom à genialidade inicialmente dispersa.

Zagallo foi o maestro do futebol brasileiro por excelência. Suas pinceladas discretamente geniais efetivamente moldaram o que seria o jogo bonito.

A despedida de Zagallo é um momento de melancólica sobriedade: o futebol brasileiro, ou aquilo que nos fazia conferir especificamente a qualidade de brasileiro ao futebol, repousa finalmente com seu primeiro e último guardião. É marcante que ele se despeça no período de maior incerteza e críticas em relação ao futebol praticado pela Seleção, no Brasil e pelos brasileiros.

Que Zagallo descanse em paz, no rol dos heróis da Pátria e nas graças da Eternidade. E que no futuro seu espírito sussurre o alvorecer de novos pressentimentos e visões para carregar a essência de nosso povo através das estepes futebolísticas.

Imagem padrão
Augusto Fleck

Gaúcho, líder regional da NR-RS, cientista social em formação e tradutor.

Artigos: 597

Deixar uma resposta