ONGs bilionárias, megacorporações transnacionais e instituições internacionais dizem que querem “salvar a natureza”. Mas não seria hipocrisia? Considerando que o homem trata a natureza como lixeira porque sua cultura e seus valores o fazem enxergar o meio ambiente como mera fonte de recursos exploráveis, como poderia ser possível proteger o meio ambiente sem romper com o liberalismo, o capitalismo e os valores modernos? É essa perspectiva que o filósofo Aleksandr Dugin pretende abordar.
O 5 de junho é celebrado como o Dia do Meio Ambiente, já que a defesa do meio ambiente faz parte da agenda política mundial. Veja, por exemplo, a imatura Greta Thunberg que, junto com outros adolescentes, tenta impedir os aviões de decolar porque acha que os humanos estão assediando as nuvens com eles e toda sorte de outros disparates. Os defensores do meio ambiente geralmente fazem esse tipo de reivindicações. Portanto, podemos dizer que hoje Greta está comemorando o Dia da Terra (faltando à escola), enquanto celebra com milionários decrépitos em um iate sobre os problemas pelos quais o meio ambiente passa.
Mircea Eliade, que foi um grande estudioso de mitos e religiões, disse certa vez que a natureza é determinada pela cultura e, portanto, ligada a ela: “nature is culture-bound”. Esta é uma afirmação muito mais profunda do que qualquer uma das ideias ecológicas. Ou, para dizer de outra forma, não existe a natureza em si. A natureza é determinada antes de tudo pela cultura e sua realidade depende do sujeito, do espírito e da própria concepção que existe dela dentro da cultura. A natureza é igual ao nosso espírito. Se nosso espírito for transparente e puro, então nossa cultura será sublime e divina e o ambiente ao nosso redor será igual: as coisas permanecerão limpas e ordenadas.
Os filósofos e teólogos russos falaram sobre este aspecto sofiológico do mundo. O mundo é permeado pelos raios de Sofia, ou seja, da Sabedoria Divina. Mas isto não significa que o mundo é imanente, mas que a existência humana é projetada para horizontes muito mais altos e distantes.
O homem cria este mundo com a ajuda de Deus. Quando ele dispensa esta ajuda, ele simplesmente estraga e distorce tudo impiedosamente. Ele acaba poluindo o meio ambiente, porque sua alma está suja, o que muitas vezes é esquecido. Um indivíduo puramente materialista só pode viver em um mundo materialista: o meio ambiente é apenas uma realidade material. Mas tal ideia é repugnante, pois só existe em um mundo denso onde há uma decomposição contínua que afunda tudo em uma massa amorfa.
No momento em que abandonamos o paraíso, começamos a transformar o mundo ao nosso redor em um inferno, um simples mercado que privatizamos e exploramos. Foi assim que começamos a perverter a natureza porque a consideramos um inimigo cujos bens devemos expropriar.
Mas esta concepção da natureza como uma entidade suja, enfadonha, agressiva, povoada por todo tipo de miasmas imundos e corruptos é um produto do espírito humano: um espírito decaído, doente e pervertido. A natureza é um reflexo do espírito.
O meio ambiente em que vivemos é um produto do capitalismo. A matéria hoje se torna mera propriedade privada ou estatal vendida no mercado. Enquanto isso, jogamos todo o nosso lixo nele sem consideração, como se fosse um enorme aterro sanitário. Tal ação mostra que o espírito do ser humano de hoje, dominado pelo capitalismo, materialismo e modernidade, tornou-se uma lixeira.
Mas só agora começamos a perceber isto e acreditamos que o único problema é nosso meio ambiente. Muitos podem sinceramente acreditar que este é o caso e, portanto, receber doações de potências globalistas que tentam proteger o meio ambiente. No entanto, tudo isso é hipocrisia ou simplesmente estupidez. Podemos preservar a natureza ao mesmo tempo que permitimos que a sociedade permaneça como está agora? Devemos permitir que o espírito da sociedade permaneça impuro, infestado de princípios materialistas perversos?
É comum ouvir que vivemos no Capitaloceno, mais ou menos como o Plioceno, o Pleistoceno ou o Holoceno existiam antes. É precisamente o capitalismo, ou seja, esta visão de mundo capitalista, egoísta e cruel, que determina nossa concepção da natureza. Só podemos proteger o meio ambiente mudando primeiro a causa de tudo isso: o ser humano. É precisamente este ser humano capitalista e globalista que está destruindo e degradando tudo ao seu redor como a expressão última dos Novos Tempos europeus. E foi esta humanidade moderna que decidiu assassinar Deus, preparando assim seu suicídio.
O meio ambiente é apenas um espelho no qual contemplamos nossa morte.
Portanto, é totalmente inútil “limpar o espelho” sem antes ter resolvido a realidade que reflete tudo o que foi dito acima.
Se realmente queremos salvar a natureza, precisamos antes de tudo salvar a cultura e a humanidade. Esse é o verdadeiro problema. A ecologia é simplesmente uma ilusão que nos entorpece e nos paralisa. Em vez de atacar a modernidade europeia e suas ideologias materialistas que atingiram seu auge com o liberalismo e o globalismo, que são nossos verdadeiros inimigos, nos dizem que só é necessário salvar as abelhas. As abelhas são sem dúvida encantadoras, laboriosas e sábias. E, de fato, eles enfrentam a extinção. Mas se nós humanos continuarmos a viver como temos vivido até agora, não conseguiremos salvar as abelhas porque elas desaparecerão completamente devido ao fato de que os humanos não possuem uma cultura que os ajude preservá-las. Afinal, a própria natureza faz parte da cultura, e uma vez que esta última desmorona, a primeira também desmorona.
Fonte: Geopolitica.ru