10 Erros da Direita Conservadora

Muito se fala de uma onda “conservadora” de direita que ascendeu recentemente, especialmente com as eleições de Trump e Bolsonaro. Muitos dos assim chamados “nacionalistas” tentaram surfar nessa onda e buscar na direita um aliado contra forças subversivas. Mas essa estratégia sempre se mostra um completo fracasso em vista de erros frequentes que, na verdade, são vícios da direita conservadora. Neste texto, vamos observar com cuidado alguns deles.

1. Eles são anti-povo

Se por um lado falam em “povo brasileiro” e em “pátria”, por outro eles adotam uma atitude totalmente vira-lata de considerar o povo brasileiro como naturalmente inferior, um resultado de uma miscigenação que nos trouxe a preguiça e a malandragem. Para eles, o brasileiro não tem condições de ser de “primeiro mundo” enquanto não adotar algum sistema de valores estrangeiro. As nossas manifestações culturais mais tradicionais, especialmente as grandes festas como o carnaval e muitos ritmos musicais, como o samba e a moda de viola, são desprezados como reflexo de uma cultura inferior. Não só os aspectos culturais, como também a própria religião tradicional dos brasileiros acaba por ser desprezada. Os conservadores, justamente aqueles que se propõem a defender a religião, concluem absurdamente que o Brasil herdou diversos males por conta do catolicismo ibérico e que, por isso, deveriam procurar uma religião que tivesse mais a ver com o trabalho e o capitalismo, como algum tipo de protestantismo norte-americano. Aliás, não é incomum ouvirmos eles dizendo que o Brasil deveria ter sido colonizado por Inglaterra ou Holanda.

2. São nacionalistas com o país dos outros

A dita nova direita anseia por uma posição subserviente aos Estados Unidos. Todo o seu desprezo anti-povo leva à conclusão de que o Brasil precisa imitar um povo “superior” para ter sucesso. O Brasil não pode se aliar com seus vizinhos sul-americanos que lhe são mais próximos cultural, política e espiritualmente, mas deve buscar fazer parte do “Ocidente”, do “primeiro mundo”, que é encabeçado pelos EUA. Nossos vizinhos são “comunistas” e “bolivarianos”, já os EUA são o exemplo de civilização cristã e de liberdade. Quando nosso presidente viaja aos EUA e presta continência à bandeira norte-americana, estamos vendo a conclusão mais caricata desse “nacionalismo” de direita.

3. São sionistas

A lambeção de botas para os EUA resulta consequentemente em apoio ao Estado de Israel como o representante da civilização ocidental “judaico-cristã” no Oriente Médio. Esse sionismo é influenciado fortemente pela comunidade evangélica envolvida com essa nova direita, mas não apenas isso, é também reflexo do bombardeio midiático que pinta os inimigos de EUA e Israel no Oriente Médio como os países atrasados, bárbaros, autoritários e radicais. Dessa forma, o Brasil adota posições na política externa que ferem relações próximas historicamente com as nações do mundo árabe e nos deixam em posição de grande desvantagem no comércio internacional.

4. São anti-trabalhador

Os direitistas pregam o valor do trabalho e do mérito ao mesmo tempo que louvam bilionários como heróis. Creem que bilionários sejam de fato o exemplo de como o trabalho duro leva ao sucesso, mas ignoram os milhões de brasileiros que trabalham duro em empregos precarizados e que continuam na miséria. Acreditam que o trabalhador só é pobre porque quer, porque é um brasileiro tipicamente preguiçoso e malandro que só quer “mamar nas tetas” do Estado. Eles não conseguem entender que crianças que nascem na miséria terão muito menos oportunidades em vida que crianças que nascem em famílias ricas. Não conseguem entender como a legislação trabalhista funciona em defesa do trabalhador em relações assimétricas, que não existe uma “negociação” livre entre o patrão e empregado. A crença cega em trabalho duro individual e liberdade de iniciativa leva, consequentemente, ao aumento do precariado, isto é, uma massa de trabalhadores sem qualquer proteção e garantias contra abusos do mercado, ou como eles dizem, “empreendedores”.

5. Eles não defendem a família

A direita conservadora costuma se apresentar como uma defensora da família e da tradição, mas mesmo que acertem ao se colocarem contra pautas identitárias feministas, contra o casamento gay e contra o aborto, eles apoiam ao mesmo tempo a destruição das bases materiais que proporcionam estabilidade às famílias. Empregos precarizados, serviços públicos de educação, saúde e segurança sucateados, especulação imobiliária que leva os imóveis a preços altíssimos, entre outras coisas. Fatores que minam toda a base material sobre a qual as famílias possuíam segurança. Uma família estável e que consegue se defender é uma família com moradia, com emprego e com garantia de saúde e educação de qualidade por parte do Estado. Além disso, acreditam que a família tradicional se resume a uma caricatura apenas com pai, mãe e filhos, mas esquecem a tradição familiar em nosso país de grandes famílias estendidas a diversos parentes que se organizam em torno de um núcleo comum, uma organização que é praticamente um clã e que ainda é bem comum no Brasil.

6. Insistem na dicotomia público vs privado

Os direitistas partem da crença de que apenas a iniciativa privada pode criar bons serviços, com base na percepção de que a livre concorrência melhora os preços e a qualidade. Mas não é isso que a realidade mostra. São diversos os exemplos de empresas estatais que foram privatizadas e que se revelaram como um grande fracasso. Alguns casos resultaram até em desastres, como em Mariana e Brumadinho e nos casos recentes de falhas de fornecimento de energia em alguns estados, como aconteceu no Amapá. Empresas estatais que são bem-sucedidas e que prestam bons serviços acabam sendo sucateadas e vendidas a preço de banana para investidores estrangeiros. Os direitistas são incapazes de entender conceitos como setores estratégicos e soberania econômica. Apoiam veementemente a entrega de toda nossa riqueza nacional para estrangeiros da iniciativa privada na crença de que os serviços e preços melhorarão, mas depois de poucas décadas de várias privatizações, vivemos hoje com os preços cada vez mais altos e os serviços cada vez piores. A solução que eles propõem? Mais privatizações, pois o “verdadeiro liberalismo nunca foi feito”. Não é diferente de quando esquerdistas passam pano para os erros dos regimes de esquerda dizendo que “o verdadeiro socialismo nunca foi feito”.

7. Apoiam a destruição da cultura nacional

Pela dificuldade em entender questões políticas de valor público, da soberania e dos setores estratégicos, os direitistas apoiam políticas que visam integrar ainda mais nosso país no caldeirão da globalização, que visa apagar as fronteiras culturais e políticas em nome de um livre mercado. A livre circulação não será apenas de mercadorias, mas também de seres humanos. As identidades e tradições culturais estarão evidentemente no caminho da marcha do livre mercado global e deverão ser destruídas em seu nome. Coisas como ideologia de gêneros, casamento gay, aborto e pronomes neutros não são nada além de um reflexo da ideologia liberal buscando destruir as divisões tradicionais entre homem e mulher e os valores da família. Não é a toa que justamente nos países do dito “primeiro mundo” que mais se propagam tais coisas.

8. Acreditam em uma ameaça comunista

Presos numa mentalidade de Guerra Fria, ou então até de anos 30, os conservadores acreditam que há uma ameaça comunista constante. Talvez alguns guerrilheiros do Foro de São Paulo já estejam instalados em alguns locais preparando uma guerrilha. A imposição da ideologia de gênero nas escolas é apenas uma estratégia do “marxismo cultural” para desestabilizar o país antes da guerrilha. Mas a verdade é que nada disso se trata de “marxismo cultural”, mas do capitalismo expresso nos seus maiores extremos, é o próprio capitalismo cultural, ou melhor ainda, liberalismo cultural duro e puro, que, como dito no item anterior, visa obliterar as identidades tradicionais para implantar o livre mercado global num mundo sem distinções de homem e mulher, famílias, nações, etnias, etc; em vez disso, um mundo massificado em que seres humanos são apenas mercadorias individuais.

9. Acreditam numa ameaça fascista

Mais recentemente virou moda entre direitistas conservadores a adoção de um antifascismo de viés liberal. O anticomunismo fanático dos direitistas os leva a serem automaticamente considerados como “fascistas” pelos seus opositores. Os direitistas, por sua vez, respondem que o fascismo não é nada mais que um movimento de “esquerda”, um extremismo ideológico comunista. Considerando ainda a afinidade frequente com o sionismo, a postura antifascista casa-se muito bem com a direita conservadora, por mais paradoxal que isso possa parecer aos seus opositores de esquerda.

10. Ignoram o verdadeiro inimigo

O anticomunismo e o antifascismo fanático levam inevitavelmente a um erro de leitura do jogo político. Dessa forma, o verdadeiro inimigo, o liberalismo e todo seu conjunto de valores, sejam econômicos, sociais e filosóficos, continua com a legitimidade para implantar seu projeto. Todos os verdadeiros críticos e opositores do liberalismo acabam sendo classificados como “comunistas” pelos direitistas, logo, como extremistas a serem combatidos.

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Nova Resistência
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