A “Odisseia” de Homero “cancelada” e banida de escola americana por racismo e machismo

O projeto de fazer tábula rasa das culturas dos povos, começando pela cultura europeia, não pretende parar. A última vítima é a “Odisseia” de Homero, banida de uma escola americana. Esse expurgo literário lança luz sobre todo um movimento de professores e pedagogos liberais pós-modernos pela proibição de toda a literatura clássica de origem europeia como sendo racista, machista, capacitista e antissemita.

Não passamos um único dia no Ocidente sem tomarmos conhecimento de alguma maluquice defendida ou praticada pela esquerda liberal pós-moderna em sua “longa marcha” rumo à distopia.

Uma escola em Massachusetts, nos EUA, baniu recentemente de seu currículo o estudo de Homero e outros clássicos considerados “racistas” em uma iniciativa capitaneada por gente ligada à “teoria crítica” e aos “estudos culturais” com o objetivo de “sabotar textos” (#DisruptTexts). A justificativa é que a maioria dos clássicos é racista, machista, capacitista, antissemita, etc.

Em uma matéria para o Wall Street Journal, Meghan Cox Gordon escreve:

Está em curso um esforço sustentado para negar às crianças o acesso à literatura. Sob o slogan #DisruptTexts, ideólogos da teoria crítica, professores e agitadores do Twitter expurgando e condenando textos clássicos – tudo de Homero a F. Scott Fitzgerald e a Dr. Seuss.

Seu ethos defende que as crianças não devem ler histórias escritas em nada além do vernáculo atual – especialmente aquelas “em que o racismo, o machismo, o capacitismo, o antissemitismo e outras formas de ódio são a norma”, como escreve a romancista Padma Venkatraman no School Library Journal. Nenhum autor é valioso o suficiente para ser poupado, a Sra. Venkatraman instrui: ‘Absolver Shakespeare da responsabilidade dizendo que ele viveu em uma época em que prevaleciam sentimentos de ódio, arrisca enviar uma mensagem subliminar de que a excelência acadêmica prevalece sobre a retórica odiosa’.

As complexidades sutis da literatura estão sendo reduzidas ao clamor rude das lutas ‘interseccionais’ por empoderamento. Assim, o professor de inglês de Seattle Evin Shinn tuitou em 2018 que ele ‘preferiria morrer’ a ensinar “A Carta Escarlate”, a menos que o romance de Nathaniel Hawthorne seja usado para ‘lutar contra a misoginia e o ódio às vadias’.

A escritora Padma Venkatraman, mencionada no artigo, recentemente publicou um texto em que afirma que “desafiar os clássicos é o equivalente literário a substituir estátuas de figuras racistas da história”. Ela diz:

Expor jovens a narrativas em que racismo, machismo, capacitismo, antissemitismo e outras formas de ódio são a norma pode plantar sementes de preconceito que podem vir a crescer para se tornar indiferença ou discriminação. […]

O racismo nos clássicos não pode ser negado meramente alertando os leitores para sua presença. […] A não ser que empreendamos tempo, energia, atenção, conhecimento e habilidade para provocar diálogos em que mesmo os leitores mais tímidos se sintam empoderados para participar, caso queiram, podemos acabar criando problemas em vez de ajudar. Pressionar leitores de cor a falar também remove a liberdade de escolha e pode ser danoso. […]

Insistir em expor crianças diversas a clássicos racistas em que elas veem personagens parecidas com elas serem diminuídos ou, na melhor das hipóteses, inteiramente excluídos, não é apenas insensível, é cruel.

Ela diz, porém, que não está defendendo que os clássicos sejam banidos das salas de aula. Apenas distorcidos:

Eu não estou defendendo a proibição dos clássicos. Ou o apagamento do passado. Os clássicos são, evidentemente, exemplos de excelente escrita, ou não teriam sobrevivido ao teste do tempo. Eu estou apenas sugerindo que estudemos os clássicos em aulas de estudos sociais, onde idéias subjacentes de desigualdade podem ser expostas e examinadas.

Há muito mais.

A professora de inglês, Heather Levine, que trabalha em uma escola pública de Massachusetts, celebrou no Twitter o fato de que a “Odisseia” de Homero foi removida do currículo escolar, em resposta a um tuíte que dizia que o poema épico grego era um “lixo” e devia ser expurgado de qualquer currículo escolar.

Gordon, que escreveu o artigo para o Wall Street Journal, aparentemente tentou contatar a “professora” Levine para confirmar essa informação de que a escola baniu a Odisseia, mas recebeu a resposta de que seu questionamento era “invasivo”. A escola em questão também parece não ter respondido às tentativas de contato.

Essas pessoas, naturalmente, não querem que o mundo saiba o que elas estão fazendo. Elas querem travar sua guerra discretamente, longe dos holofotes, para que quando o mundo descubra seja tarde demais para reagir, porque aí então até os alunos estarão queimando as obras de Homero, Shakespeare e outros em praça pública após anos de lavagem cerebral.

Naturalmente, estamos diante de mais uma evidência do totalitarismo liberal, que sempre nos recorda obras como “1984” de George Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley.

Os intelectuais, jornalistas, professores e artistas liberais pós-modernos são os guardiões do novo dogma liberal-libertário e politicamente correto. Eles são o clero do globalismo. Eles definem o que devemos pensar e pretender expurgar tudo que não se enquadra em seu dogma.

Evidentemente, os primeiros e principais alvos dessa campanha de expurgo cultural é tudo que possua relação com a civilização européia, considerada a principal inimiga e maior ameaça cultural e simbólica à hegemonia globalista.

Apagar o passado promove o desenraizamento e uma juventude desenraizada é mais facilmente controlada.

Entendam, trata-se de guerra travada por um lado repleto de ódio e ressentimento, contra uma ampla população que nem sabe que está sendo atacada. Vejam o que o também professor Evin Shinn tuitou:

Para quem não sabe inglês, o professor em questão afirma que prefere morrer a ensinar “A Letra Escarlate”, de Nataniel Hawthorne. E que só usaria esse clássico em sala de aula se fosse para atacá-lo como maneira de combater a misoginia e a difamação de “vadias”.

Como se pode ver, todos parecem vinculados à campanha #DisruptTexts. Do que se trata isso? Um artigo na Quillette diz o seguinte:

No passado, uma resposta à pergunta: ‘Por que deveríamos forçar Silas Marner nas crianças?’ era ‘alfabetização cultural’ – um termo popularizado pelo estudioso E.D. Hirsch, que se refere à capacidade de uma pessoa compreender e se comunicar usando alusões literárias e históricas como “caça às bruxas” ou “cavalo de Tróia” ou “se inclinar em moinhos de vento”. Crianças de origens desfavorecidas têm menos probabilidade de adquirir este conhecimento cultural e, conseqüentemente, menor probabilidade de alcançar um domínio superior da língua inglesa.

Mas o movimento #DisruptTexts não concebe a educação como o processo, entre outros, de transmitir a herança cultural ocidental para a próxima geração. Afinal, por que eles acreditariam nisso, quando eles vêem essa herança como um catálogo sombrio e lamentável de crimes humanos? Por que eles deveriam dar primazia à literatura que interpreta o mundo através do olhar branco? ‘Sejamos honestos’, admite Germán, ‘a conversa não é realmente sobre universalidade, e não é sobre estar equipado para identificar todas as referências culturais possíveis’. Trata-se de uma elevação implícita e internalizada de Shakespeare de uma forma que exclui outras vozes. Trata-se de supremacia branca e colonização’.

O Sol é para Todos [To Kill a Mockingbird] foi votado “O Romance Favorito da América” em um concurso da PBS em 2018, mas #DisruptTexts descobre que Atticus Finch é um messias branco, e um messias ineficaz aliás. E O Senhor das Moscas, um romance retratando ‘estudantes de uma escola particular das classes abastadas, que são homens, brancos, europeus e cis’, é condenado pelo que implica sobre civilização e selvageria. Assim, o #DisruptTexts criou guias de leitura que emparelham os clássicos com a literatura complementar de autores de cor, um remédio inteligente e apropriado para a falta de diversidade no cânone. No entanto, a lista curada é diversa em tudo, menos na temática – cinco dos oito livros são sobre adolescentes de várias etnias que lutam com sua identidade. Uma das leituras recomendadas é O Bebê Antirracista de Ibram X. Kendi.

Não para por aí:

Os líderes e seguidores do movimento #DisruptTexts sustentam as seguintes verdades como sendo evidentes por si mesmas:

* É uma “responsabilidade profissional desenvolver as habilidades críticas de alfabetização dos estudantes para questionar o status quo”.
* Ensinar alfabetização é ensinar as crianças “a discernir onde e como existe opressão na sociedade, a articular a opressão que testemunhamos ou experimentamos e a defender a justiça, e a lutar por um mundo mais eqüitativo”. Isto “chega ao âmago do porquê de ler e escrever”.
* Devemos “reconhecer as formas como somos todos cúmplices na perpetuação da opressão sistêmica e, conseqüentemente, responsáveis pelo seu desmantelamento”.
* Estas verdades não são falseáveis porque qualquer objeção (invariavelmente descrita como um “ataque”) é motivada por supremacismo branco.

E embora o pai médio possa nunca ter ouvido falar em #DisruptTexts, o movimento tem tido um impacto significativo na educação pública. Apesar de sua retórica insurrecional e do punho cerrado no perfil do Twitter de seu movimento, estes ativistas não são obrigados a disfarçar seus esforços “para alimentar a resistência e a transformação social positiva” e “trazer o poder da alfabetização para a libertação coletiva”. Eles não são forçados, como os professores da era McCarthy, a fazer um juramento de lealdade. Pelo contrário, os co-fundadores falam em conferências e workshops educacionais, são promovidos pela Tolerance, um programa subsidiário do Southern Poverty Law Center; são apresentados nos websites e publicações da Associação para Supervisão e Desenvolvimento Curricular (ASCD) e da Associação Internacional de Alfabetização; têm uma coluna regular na revista do Conselho Nacional de Professores de Inglês (NCTE), cuja próxima convenção é dedicada a “Eqüidade, Justiça e Ensino Anti-Racista”; e a Penguin Books fez uma parceria com eles para promover romances de escritores “de cor” para jovens adultos.

E tudo isso foi realizado sem (aparentemente) incorporar #DisruptTexts como uma sociedade ou ONG. É um movimento de base, financiado de maneira autônoma e apoiado por professores, operando sem a responsabilidade que vem de se tornar uma entidade legal.

Estes ativistas também não estão simplesmente assumindo uma postura modista quando expressam seu desejo de transformar a sociedade. Eles são sérios. E eles estão convencidos de que seus ideais são tão auto-evidentemente corretos, sua causa tão justa e a necessidade tão imperativa, que falam abertamente em “jogar fora o cânone branco” e empurrar seus alunos a adotar seus pontos de vista. Professores inspirados pelo movimento trocam idéias no Twitter, em podcasts, em websites e em vários fóruns. “Como me engajar autenticamente com uma população estudantil predominantemente branca americana? Como posso gerenciar a resistência dos estudantes a esses tópicos”, pergunta o podcast Pushing the Edge. Outro podcaster relata que “é a postura contrária a O Sol é para Todos e O Grande Gatsby que se deparou com mais fragilidade branca”.

Ainda que talvez demore um pouco para essas idéias chegarem aqui no Brasil com força, na verdade já estamos nos deparando com projetos para banir ou mutilar a obra de Monteiro Lobato, considerada racista. Quando será a vez de outros clássicos brasileiros?

Para finalizar, reitero:

O projeto globalista de uma Cosmópole mundial sem fronteiras não pode funcionar se os povos do mundo estiverem enraizados em suas próprias tradições e culturas. É por isso que é imperativo para os liberais pós-modernos fazer tábula rasa das culturas dos povos, começando pelos europeus, em relação aos quais a elite cosmopolita possui mais ressentimento.

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Nova Resistência
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