No mês de setembro, lembramos mais um ano da Revolução Líbia, esta que foi responsável pela subida de Muammar Kadaffi ao poder, e analisamos juntamente a isto o que podemos aprender com a experiência líbia. Antes disso, precisamos compreender que quando falamos em revolução, nos referimos a um processo de mudanças estruturais nos sistemas de governo, e foi isto que o correu na Líbia com a chegada de Kadaffi ao poder.
Uma revolução pode vir a se produzir através de um movimento armado, mobilizações de massas e até mesmo através de eleições livres. No caso da Líbia, falamos de uma revolução que contou com amplo apoio militar e popular no dia 1 de setembro de 1969, fazendo com que ela ocorresse bem dizer sem qualquer derramamento de sangue. Em um país, no qual a corrupção, a desigualdade social e o estado de servidão ao ocidente eram evidentes, uma mudança se fazia necessária, algo pelo qual o povo líbio ansiava.
Com Kadaffi no poder, o povo se viu livre e naquele momento possuidor de condições mínimas para uma vida digna, tendo o povo acesso à saúde, educação e moradia, fazendo com que a Líbia tivesse maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente africano. A nova Líbia era soberana e não mais dependente do estrangeiro, sua nova estrutura de governo se adaptava as peculiaridades e necessidades daquele povo, podendo compreender esta nova estrutura como uma verdadeira democracia, já que agora o povo se fazia presente e ativo no processo político.
Kadaffi possuiu defeitos e também cometeu claras falhas, muitas de suas ações são questionáveis, mas também devemos levar em conta o contexto histórico-sociocultural daquele país, herdeiro de uma longa história de dominação e dependência por parte do ocidente e de uma complexa e conflitante sociedade dividida em diversas tribos, sendo necessário por questões de unidade nacional e soberania um governo forte, e até mesmo podemos dizer autoritário.
O petróleo líbio e a ousada ideia da substituição do dólar-americano pelo dinar de ouro no continente africano foram fatores predominantes para a derrubada de Kadaffi, tendo uma ampla coalização de países se unido contra um consideravelmente pequeno e isolado país. O que foi construído em anos seria destruído em pouco tempo, seu líder veria seu país em ruínas e boa parte de sua família morrer, antes que fosse assassinado covardemente, sem direito a julgamento, pelos supostos crimes que havia cometido.
A revolução líbia é um exemplo da possibilidade de ir além dos modelos políticos vigentes, da possibilidade de construir alternativas que levem em conta o contexto nacional e as reais necessidades do povo. Podemos a partir dela, questionar o modelo de democracia liberal e valorizar a importância das tradições no que se refere à condução do país, acima de tudo, a maior lição é certamente: Não confie no ocidente!
Uma análise crítica, separando seus aspectos positivos e negativos, pode vir a ser algo extremamente proveitoso e válido. Para quem deseja conhecer de fato o que foi a Líbia de Kadaffi, recomendo os livros de Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira e de José Gil de Almeida, respectivamente “A Desordem Mundial: O Espectro da Total Dominação” e “A Líbia de Muamar Kadaffi”. Sem falar, claro, do “Livro Verde”, escrito pelo líder líbio. Livros fundamentais para compreender a experiência revolucionária libia e quem se beneficiou com o seu fim.