Escrito por Dilyana Gaytandzhieva
Continuando com nosso dossiê sobre as pesquisas e experiências do Pentágono no âmbito das armas biológicas, nessa quarta parte avançamos para o uso da Ucrânia ao longo dos últimos 10 anos como campo de testes por diversos biolaboratórios do Pentágono. Os seus cientistas possuem imunidade diplomática, possuem acesso a segredos de Estado da Ucrânia, mas o governo não possui acesso a nada do que é feito nesses lugares. E nos últimos anos o país conheceu estranhos e inexplicáveis surtos de cólera, hepatite A, gripe suína e botulismo, todos eles em regiões próximas aos laboratórios do Pentágono.
Biolaboratórios do Pentágono disseminam doenças na Ucrânia
A Agência de Redução de Ameaças do Departamento de Defesa (DTRA) tem financiado 11 biolaboratórios na Ucrânia, país da ex-União Soviética que faz fronteira com a Rússia.
O programa militar dos EUA é uma informação sensível
A Ucrânia não tem controle sobre os biolaboratórios militares em seu próprio território. De acordo com o Acordo de 2005 entre o Departamento de Defesa dos EUA e o Ministério da Saúde da Ucrânia, o governo ucraniano está proibido de revelar publicamente informações sensíveis sobre o programa dos EUA e a Ucrânia é obrigada a transferir para o Departamento de Defesa dos EUA (DoD) patógenos perigosos para pesquisa biológica. Ao Pentágono foi concedido acesso a certos segredos de Estado da Ucrânia relacionados com os projetos sob o seu acordo.
Cientistas especializados em guerra biológica sob cobertura diplomática
Entre o conjunto de acordos bilaterais entre os EUA e a Ucrânia está a criação do Centro de Ciência e Tecnologia na Ucrânia (STCU) – uma organização internacional financiada principalmente pelo governo dos EUA, à qual foi concedida estatuto diplomático. O STCU apoia oficialmente projetos de cientistas anteriormente envolvidos no programa soviético de armas biológicas. Nos últimos 20 anos, o STCU investiu mais de 285 milhões de dólares no financiamento e gestão de cerca de 1.850 projetos de cientistas que anteriormente trabalhavam no desenvolvimento de armas de destruição em massa.
364 ucranianos morreram devido à gripe suína
Um dos laboratórios do Pentágono está localizado em Kharkiv, onde em janeiro de 2016 pelo menos 20 soldados ucranianos morreram de um vírus semelhante à gripe em apenas dois dias, com mais 200 sendo hospitalizados. O governo ucraniano não informou sobre os soldados ucranianos mortos em Kharkiv. Até março de 2016, foram registradas 364 mortes na Ucrânia (81,3% causadas pela gripe suína A (H1N1) pdm09 – a mesma cepa que causou a pandemia mundial em 2009).
Polícia investiga infecção com doença incurável
Uma infecção por hepatite A altamente suspeita se espalhou rapidamente em poucos meses pelo sudeste da Ucrânia, onde se encontra a maior parte dos biolabs do Pentágono.
37 pessoas foram hospitalizadas por Hepatite A na cidade ucraniana de Mykolaiv a partir de janeiro de 2018. A polícia local lançou uma investigação sobre a “infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e outras doenças incuráveis”. Há três anos, mais de 100 pessoas na mesma cidade foram infectadas pela cólera. Ambas as doenças são alegadamente propagadas através da água potável contaminada.
No verão de 2017 60 pessoas com Hepatite A foram internadas no hospital na cidade de Zaporizhia, a causa deste surto ainda é desconhecida.
Na região de Odessa, 19 crianças de um orfanato foram hospitalizadas por Hepatite A em junho de 2017.
29 casos de Hepatite A foram relatados em Kharkiv em novembro de 2017. O vírus foi isolado em água contaminada. Um dos biolabs do Pentágono está localizado em Kharkiv, que foi culpado pelo surto mortal de gripe há um ano, que ceifou a vida de 364 ucranianos.
Ucrânia e Rússia atingidas por uma nova infecção de cólera altamente virulenta
Em 2011, a Ucrânia foi atingida por um surto de cólera. 33 pacientes foram alegadamente hospitalizados por diarreia grave. Um segundo surto atingiu o país em 2014, quando mais de 800 pessoas em toda a Ucrânia foram reportadas como tendo contraído a doença. Em 2015, pelo menos 100 novos casos foram registrados somente na cidade de Mykolaiv.
Uma nova variante altamente virulenta do agente da cólera Vibrio cholera, com uma elevada semelhança genética com as cepas reportadas na Ucrânia, atingiu Moscou em 2014. De acordo com um estudo genético do Instituto Russo de Pesquisa Anti-Praga de 2014, a cepa isolada em Moscou era semelhante à bactéria que causou a epidemia na vizinha Ucrânia.
O Southern Research Institute, um dos terceirizados norte-americanos que trabalham nos laboratórios biológicos na Ucrânia, tem projetos sobre a cólera, bem como sobre o influenza e o zika – todos patógenos de importância militar para o Pentágono.
Juntamente com o Southern Research Institute, duas outras empresas privadas americanas operam biolaboratórios militares na Ucrânia – Black&Veatch e Metabiota.
Black & Veatch Special Project Corp. recebeu contratos de $198,7 milhões da DTRA para construir e operar laboratórios biológicos na Ucrânia (sob dois contratos de 5 anos em 2008 e 2012 totalizando $128,5 milhões), assim como na Alemanha, Azerbaijão, Camarões, Tailândia, Etiópia, Vietnã e Armênia.
A Metabiota recebeu um contrato federal de 18,4 milhões de dólares no âmbito do programa na Geórgia e na Ucrânia. Esta empresa americana também foi contratada para executar trabalhos para a DTRA antes e durante a crise do ebola na África Ocidental, a empresa recebeu $3,1 milhões de dólares (2012-2015) para trabalhos na Serra Leoa.
O Southern Research Institute tem sido um dos principais subempreiteiros do programa DTRA na Ucrânia desde 2008. A empresa também foi uma das principais terceirizadas do Pentágono no passado, no âmbito do Programa de Armas Biológicas dos EUA para pesquisa e desenvolvimento de bio-agentes, com 16 contratos entre 1951 e 1962.
Desertor Soviético produziu antraz para o Pentágono
O Southern Research Institute também foi subempreiteiro de um programa do Pentágono para pesquisa em antraz em 2001. O terceirizado primário era a Advanced Biosystems, cujo presidente na época era Ken Alibek (um ex-microbiólogo soviético e especialista em guerra biológica do Cazaquistão, que desertou para os EUA em 1992).
Ken Alibek era o primeiro diretor adjunto da Biopreparat, onde supervisionou um programa de instalações de armas biológicas e foi o principal especialista da União Soviética em antraz. Depois de sua deserção para os EUA, ele esteve envolvido em projetos de pesquisa do Pentágono.
250 mil dólares para fazer lobby com Jeff Sessions para “pesquisas para a inteligência dos EUA”.
O Southern Research Institute fez lobby junto ao Congresso e ao Departamento de Estado dos EUA para “questões relacionadas à pesquisa e desenvolvimento para a inteligência norte-americana” e “pesquisa e desenvolvimento relacionados à defesa”. As atividades de lobby coincidiram com o início dos projetos do Pentágono sobre biolabs na Ucrânia e em outros Estados outrora soviéticos.
A empresa pagou 250 mil dólares para fazer lobbying com o então senador Jeff Sessions em 2008-2009 (atualmente o Procurador Geral dos EUA nomeado por Donald Trump), quando o instituto recebeu uma série de contratos federais.
Por um período de 10 anos (2006-2016), o Southern Research Institute pagou US$ 1,28 milhão para fazer lobby junto ao Senado, Câmara dos Deputados, Departamento de Estado e Departamento de Defesa (DoD). O assistente do Senador Jeff Sessions no Capitólio – Watson Donald, é agora Diretor Sênior do Southern Research Institute.
Polícia investiga envenenamento por toxinas botulínicas na Ucrânia
115 casos de botulismo, com 12 mortes, foram relatados na Ucrânia em 2016. Em 2017, o Ministério da Saúde da Ucrânia confirmou mais 90 novos casos, com 8 mortes, de envenenamento por toxinas botulínicas (uma das substâncias biológicas mais venenosas conhecidas). De acordo com as autoridades sanitárias locais, a causa do surto foi uma intoxicação alimentar, sobre a qual a polícia iniciou uma investigação.
O governo ucraniano deixou de fornecer antitoxinas em 2014 e não havia vacinas contra o botulismo em estoque durante o surto de 2016-2017.
O botulismo é uma doença rara e extremamente perigosa causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum.
1 gm da toxina pode matar até 1 milhão de pessoas.
A neurotoxina botulínica representa uma grande ameaça no âmbito das armas biológicas devido à sua extrema potência, facilidade de produção e transporte. Ela causa paralisia muscular, insuficiência respiratória e finalmente morte se não for tratada imediatamente. Uma única grama de toxina cristalina, dispersa uniformemente e inalada pode matar mais de um milhão de pessoas. Ela pode ser disseminada através de aerossol, ou por contaminação da água e/ou dos alimentos.
O Pentágono produz Vírus, Bactérias e Toxinas vivas
A toxina botulínica foi testada como arma biológica pelo exército americano no passado, assim como o antraz, a brucella e a tularemia. Embora o programa de bio-armas dos EUA tenha sido oficialmente terminado em 1969, documentos mostram que as experiências militares nunca terminaram. Atualmente o Pentágono produz e testa agentes biológicos vivos na mesma instalação militar que no passado – a Área de Testes Dugway.
Esta é a quarta parte em uma séria, para a quinta e última clique aqui.
Fonte: Arms Watch