A esquerda se esforça para eleger Bolsonaro

Por incrível que possa parecer hoje, já houve um tempo em que Jair Bolsonaro era apenas mais um entre vários deputados federais eleitos pela população do estado do Rio de Janeiro. Pouco expressivo politicamente e pouco relevante nacionalmente, Bolsonaro era conhecido por uma quantidade relativamente pequena de pessoas.

Nesta época, há aproximadamente 8-10 anos, ele não era mais que um entre vários candidatos de nicho, sempre com mais ou menos o mesmo número de votos. Ocupando cargo de deputado federal desde 1991, em 1994 ele preservou seu mandato recebendo 111.927 votos. Em 1998, 102.893 votos. Em 2002, 88.945 votos. Em 2006, 99.700. E em 2010, foram 120.646 votos.

O que podemos perceber a partir desses números? Um candidato com público cativo, fixo, sem tendência clara de crescimento e, na prática, até de expressão em alguma medida “decadente” ao longo da quase totalidade desse espaço de 20 anos de carreira política. Principalmente se levarmos em conta o crescimento demográfico. Um político de nicho, com um minúsculo punhado de pautas ligadas ao tema da segurança pública e que, inicialmente, nem mesmo se via como sendo “de direita”.

Então, como ele chegou ao patamar de deputado federal mais eleito pelo estado do Rio de Janeiro em 2014, com 464.572 votos? Ele recebeu apoio da grande mídia de massa? Não é o que parece. Ao menos não intencionalmente. Ele foi alavancado financeiramente por algum grupo de empresários ou alguma força política ou econômica estrangeira? Até aquele momento, não havia qualquer evidência disso. Ele recebeu aulas de oratória, se tornou um gênio da propaganda e da manipulação política, seguindo os passos de grandes líderes de movimentos de massa da História? Não chegou nem perto de qualquer coisa do tipo.

Até 2010, Bolsonaro era basicamente eleito pela Vila Militar e por policiais e familiares de policiais, sendo bem pouco conhecido fora desse circuito. Até porque não havia nem mesmo qualquer “cena” político-cultural conservadora (ideologicamente autoconsciente disso), excetuando pelas relações e atividades pseudo-aristocráticas de algumas figuras do topo da elite político-econômica brasileira.

Assim sendo, de onde surgiram, subitamente, quase 350 mil eleitores em 2014 e, a partir daí, 4 anos depois, Bolsonaro se tornou o presidenciável com – até então – a melhor colocação em pesquisas de opinião?

A única narrativa que faz sentido é que esses votos foram entregues a Bolsonaro pela esquerda, e que esses eleitores foram literalmente conjurados pela esquerda.

A esquerda brasileira violou mandamentos básicos das leis da política e do poder, tomando um desafeto irrelevante, inexpressivo e cômico, e o elevando a uma das figuras políticas mais notórias da história política brasileira. Se um inimigo é irrelevante, qualquer pessoa de mínimo conhecimento do funcionamento da mente humana sabe que o jeito correto de lidar com ele é, OU destruí-lo de uma maneira absoluta, OU cooptá-lo para o seu lado, OU ignorá-lo. Ao contrário, a esquerda resolveu pegar um minúsculo ratinho da política brasileira e erguê-lo como um quase-onipotente e absolutamente malévolo espantalho nazi-fascista. E com qual propósito? Assustar as massas e, assim, aumentar seus votos? Mas a esquerda não percebeu que quase tudo que esse até o então “ratinho” defendia era parte das crenças políticas pessoais da maior parte do povo brasileiro?

Ao invocar sentimentos de nojo e alienação perante a figura de Bolsonaro, associando suas ideias a tudo que há de pior e nefasto no mundo, a esquerda conseguiu criar um monstro. Boa parte dessa massa se via em Bolsonaro, e ao perceber os insultos dirigidos a ele, entendia, em alguma medida, que se tratavam de insultos elitistas dirigidos contra si.

Se o Bolsonaro é ignorante, imbecil, criminoso, nazista por ser contra o casamento gay, e se é assim que ele é tratado, como deve se sentir a maior parte da população brasileira (que também é contra) ao ouvir esses insultos e associações? Mais próxima da esquerda ou mais próxima de Bolsonaro?

Na verdade, é um milagre que as intenções de voto em Bolsonaro no 1º turno não sejam muito maiores do que são. Sinal de que pelo menos boa parte dessa massa, apesar de tentada, sabe ver uma fraude quando está diante de uma. Evidência também da mais absoluta incompetência política do próprio Bolsonaro.

Porque, de fato, na popularização de sua figura não há qualquer mérito que seja dele próprio. Há tão somente o demérito da esquerda. Uma esquerda que literalmente abandonou todas as pautas populares em prol de um conciliacionismo burguês; uma esquerda que se fragmentou em dezenas de micro-movimentos pseudo-identitários pós-modernos. uma esquerda alienada que sente nojo, desprezo e ojeriza pelo “povão”, que ou é “manipulado pela Rede Globo” ou “manipulado pelos pastores evangélicos” (e é literalmente por isso que o povão seria, por exemplo, a favor da pena de morte), em distinção a ela, claro, que é iluminada pelos escritos proféticos e messiânicos de Foucault, Lacan e Deleuze.

A esquerda histérica, com cada mínimo gesto e palavra de Bolsonaro, mais parece ter sido infiltrada por agentes que, conhecendo as leis da política e do poder, realmente têm a intenção de eleger o Bolsonaro e que, por isso, atuam dialeticamente forçando a mesma a manter Bolsonaro notório, perpetuamente sob o holofoto da mídia, especialmente agora que ele corre o risco de perder espaço por sua recusa a ir a programas, entrevistas e debates, e pelo pouco tempo que terá no horário eleitoral.

Não importa. Mesmo que Bolsonaro tivesse apenas 1 segundo de programa eleitoral, a esquerda faria questão de ceder a ele horas diárias nas redes sociais, em seus jornais e em todas as suas atividades. Essa tese aparentemente absurda de tão conspiranoica que é, ganha até força com os “cochicos” que já aparecem nos meios esquerdistas de gente que pretende votar em Alckmin (o candidato que é a própria face da elite) para “barrar” a “ameaça fascista” de Bolsonaro.

Com uma esquerda dessas, Bolsonaro não tem precisado nem de partido forte, nem de movimento, nem de investidores, nem de nada mais. Se isso não for suficiente para que ele seja eleito, será mais por sua própria incompetência, incapacidade e debilidade intelectual do que por conta de qualquer estratégia político-eleitoral da esquerda – tal como sua ascensão se deve mais à estupidez da esquerda do que a qualquer mérito do próprio.

Bolsonaro é mais uma evidência de que a esquerda é a principal amiga da direita. Até inconscientemente.

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Nova Resistência
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