Reality shows, propagandas, notícias bombásticas, exposição de produtos, conquistas fascinantes, feitos esportivos em grande escala, o namoro das celebridades, os atentados virulentos, a guerra e o simulacro: o homem moderno vive embriagado com estímulos que o atingem em todas as direções.
Prognósticos modernos de mercado já conseguem mensurar que o bem mais precioso do século XXI é a atenção. Atenção do consumidor, atenção do usuário, atenção do aluno… entre máquinas colossais de big data e mapeamentos complexos de comportamentos em rede, as forças econômicas do capitalismo vão empurrando a massa para o cárcere da distração contínua e da desatenção. Desse modo, todos os projetos de longo prazo se tornam inconsistentes, já que tudo precisa ter o incenso mórbido de originalidade e estar lustrado com a película superficial.
Distraído e sempre ocupado com questões menores das modas que vão e vêm, o sujeito da modernidade é ausência pura: não consegue concentrar seus esforços em nenhum ideal, ignora a eternidade e vive a perambular como os fantasmas famintos da iconografia budista:- sua boca é enorme e seu apetite é voraz, mas o estômago é minúsculo e incapaz de digerir lentamente.
Não se trata, no entanto, de louvar o quietismo e tampouco de defender códigos morais ultrapassados, mas, sim, de constatar que qualquer ação política precisa de homens e mulheres atentos e concentrados no que é essencial e perene.
Um córrego canalizado é potencialmente mais poderoso do que lagos dispersos e sorumbáticos.