A direita conservadora e liberal-conservadora costuma falar muito em “família tradicional”. Supostamente, eles seriam os defensores dessa tal “família tradicional” e outras forças estariam tentando destruir essa tal “família tradicional”.
Mas o que é essa “família tradicional”? Aparentemente, quando a direita lida com esse conceito, ela está se referindo ao arranjo por casamento entre um homem e uma mulher, que então vão morar em uma casa (própria ou alugada) e ali constituem uma família com seus 1-3 filhos e 1 cachorro (ou gato). Isso seria a “família tradicional” defendida pela direita conservadora e liberal-conservadora.
Observamos aqui que o conceito de “tradicional” está sendo usado com enorme generosidade e pouquíssimo rigor. Porque essa instituição é grotescamente recente, está essencialmente ligada à modernidade e ao desenvolvimento do capitalismo e onde ela existe há mais tempo, que é no mundo anglossaxão, ela só existe desde o início do século XVIII.
Isso quer dizer que não há nada de realmente tradicional nessa família nuclear burguesa propagandeada pela direita como sendo a “base da sociedade” e tudo mais. Ela é extremamente recente. Ela é fundamentalmente moderna. Ela tem origens circunscritas a uma parte específica do planeta. Ela surge já em um período de decadência civilizacional.
Então, como entender corretamente a questão? Sendo mostrada a farsa deste conceito burguês e liberal de família, aonde devemos buscar concepções mais sólidas, longevas e enraizadas?
Não precisamos ir longe. O mundo latino-americano, neste quesito, é infinitamente superior ao mundo anglossaxão. “Família Tradicional” em qualquer sentido concreto e relevante do termo só pode ser o que veio a ser entendido como família estendida ou extensa. Ou seja, a rede de relações familiares orbitando um centro constituído por um patriarca e/ou uma matriarca e que une, geralmente, vários casais e sua descendência, bem como ramos colaterais, etc.
Colocando em outros termos mais familiares, família tradicional real é o que alguns povos chamam de “clã”. Às vezes vivendo todos ou quase todos sob um mesmo teto, às vezes vivendo em várias casas, mas relativamente próximos. Às vezes até um pouco mais geograficamente distantes, mas sempre se compreendendo como parte de uma mesma família, reconhecendo a liderança e autoridade de uma mesma figura patriarcal, etc.
E isso é algo que conhecemos bem aqui no Brasil, apesar de não ser algo exclusivo nosso e de poder ser verificado em todos os continentes, entre vários povos, naturalmente com variações locais.
O que a direita concebe como “família tradicional” é essencialmente família moderna. As relações familiares no mundo anglossaxão, e no mundo culturalmente influenciado pelo ocidentalismo capitalista, estão radicalmente fragmentadas. Aos olhos de pessoas normais, não raro, parece que os americanos odeiam os próprios pais. Eles não veem a hora de abandonar seus pais o mais rápido possível, de morar o mais longe possível deles, e acham normal manter contato com parentes apenas no Natal e no Dia de Ação de Graças. O destino do idoso nesse universo é fenecer em um asilo.
Essa concepção liberal e burguesa da família, defendida pela direita, realmente tem que ser destruída. Mas não para ser substituída por uma concepção líquida e voluntarista de família, como defendido por parte da esquerda e pelos pós-modernos em geral, mas sim para que se possa resgatar as concepções familiares de nossos ancestrais, concepções que foram sustentáculo de incontáveis civilizações e culturas.
Contra a família burguesa dos liberais de direita.
Contra a família líquida dos liberais de esquerda.
Deve-se defender a verdadeira família tradicional.
e qual é a verdadeira?