O discurso antimestiço de um tal Leonardo Sacramento

O Prof. André Luiz comenta o artigo de Leonardo Sacramento sobre ”identitarismo branco”, tacha de que ele lança mão para desqualificar quem discorda da sua sectária leitura da miscigenação brasileira.

Acabei de ler um texto de Leonardo Sacramento que acusa de ”identitarismo branco” aqueles que discordam de sua leitura da miscigenação herdeira de estudos de Kabengele Munanga.

Curiosamente, o texto parte de uma petição de princípio e depois termina em puro wishiful thinking.
Segundo ele, o crescimento dos ‘negros’ no censo de 2000 incomoda o ”identitarismo branco” que se esconderia na defesa da miscigenação.

Só que a comparação dos censos de 2010 com o de 2000 revela que o maior crescimento de autodeclaração racial se dá no grupo dos ”pardos”, não dos ”pretos”.
Em 2000, os pretos eram 6,2% da população. Em 2010, 7,6%. Já a proporção de pardos subiu de 38,5% pra 43,1%.

A tendência é que, no próximo censo, os pardos se tornem o maior grupo autodeclarado, superando inclusive os brancos.

Sacramento diz que a mestiçagem no Brasil é instrumento do “embranquecimento”. Mas usa o crescimento estatístico de pardos no censo como defesa de seu discurso antimestiço.

Só que cada vez mais brasileiros declaram exatamente o contrário: que se veem, sim, como mestiços.

Os dados de crescimento acelerado da proporção de ”pardos” nos revelam também o erro das narrativas que leem a mestiçagem brasileira tão somente pela ótica do conflito, da opressão, da violência e do estupro sistemático.

Segundo Sacramento, o movimento negro nunca foi tão forte. Mas os censos revelam que o brasileiro nunca se viu tanto como ”pardo”, ou seja, mestiço.

Talvez porque, diferente do que Kabengele Munanga pensava, as identidades mestiças realmente existem e são operacionais, ou porque a mestiçagem esteja ocorrendo bem diante de nossos olhos, no dia a dia da população, de modo voluntário.

Para desgosto de Sacramento.

Só lhe resta dar aquela forçada de barra, implicando que ”pardo” é preto, enquanto os ”pardos” dizem que não são pretos nem brancos.

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André Luiz dos Reis

 

 

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