Os perigos históricos da politização da ciência: a politização da eugenia e do lockdown

O destino do mundo tal como o conhecemos está em jogo. A pseudociência está dominando as notícias. A crítica a seguir é baseada em um trecho do livro “State of Fear” de Michael Crichton que esclarece os perigos de se politizar a ciência, algo que está acontecendo atualmente.

Escrito por Dr. Simon.

Imagine uma nova “teoria científica”, uma que avise sobre o a iminência de uma crise e que aponte uma saída para essa crise. Essa teoria rapidamente obtém apoio da mídia de massa, de cientistas, de políticos, de celebridades e de influenciadores do mundo todo.

Pesquisas cientificas sobre essa teoria logo são financiadas por filantropos renomados e logo elas são ensinadas em universidades e em institutos de pesquisas prestigiados. A mídia frequentemente noticia a crise. A ciência é então ensinada nas salas de aula das faculdades e das escolas.

Parece, mas não estou falando a respeito do COVID-19. Eu estou me referindo a uma outra teoria que ganhou destaque há quase um século. Os apoiadores dela foram Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson e Wilston Churchell. Ela foi aprovada por juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos, que decidiram a seu favor.

Figura 1: busto do ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt

Estão também entre os apoiadores o inventor do telefone Alexander Graham Bell; Leland Stanford, fundador da renomada Universidade de Stanford; o romancista HG Wells e o dramaturgo George Bernard Shaw. Os vencedores do prêmio Nobel deram apoio. As pesquisas a respeito dessa teoria foram financiadas pela Fundação Carnegie e pelo Instituto Rockefeller. Um trabalho importante a respeito foi desenvolvido pelos amigos de Karl Lauterbach nas universidades de Harvard, de Yale, de Princeton, de Stanford e de Johns Hopkins (esta última, uma das protagonistas da crise atual).

Uma legislação para enfrentar a crise foi aprovada de Nova York à Califórnia. As pesquisas para a aprovação dessa legislação tiveram apoio da Academia Nacional de Ciências, da Associação Médica Americana e do Conselho Nacional de Pesquisa.

Figura 2: perfil da Associação Médica Americana no Twitter.

Propagou-se, inclusive, a ideia de que se Jesus Cristo estivesse vivo ele apoiaria essas pesquisas.

Figura 3: capa da revista alemã “DER SPEIGEL (O ESPELHO)” de outubro de 2020. O título diz: “A vacina: salvação ou ilusão?”

A produção de pesquisas, de legislações e a manipulação da opinião pública em torno dessa teoria duraram por 50 anos. Aqueles que se opuseram a ela foram chamados de reacionários, de alienados e de ignorantes. Mas o que mais me surpreende é o fato de terem sido poucas as pessoas que se opuseram a ela.

Hoje, sabemos que essa teoria que tanto teve apoio foi, na verdade, uma pseudociência. A crise que ela alegava combater nunca existiu e as ações tomadas em nome dessa teoria foram moralmente erradas e criminosas. No final das contas, essas ações resultaram na morte de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Estou me referindo à eugenia e à sua história tão terrível e embaraçosa para aqueles que foram prejudicados por ela. Hoje, raramente se discute sobre esse tema, mas seu legado deveria ser muito bem estudado por todos pois alguns erros cometidos no passado estão se repetindo na atualidade.

Figura 4: A árvore eugênica. Este emblema, mostrando as raízes longínquas da eugenia, fazia parte de um certificado concedido a “exibições meritórias” no Segundo Congresso Internacional de Eugenia, realizado em 1921 no Museu Americano de História Natural em Nova York.

A teoria da eugenia pressupunha a existência de uma crise genética que levaria a deterioração da raça humana. Os seres-humanos superiores supostamente não se reproduziam na mesma frequência que os seres-humanos inferiores, isto é, que os imigrantes, os judeus, os “degenerados”, os inaptos e os “débeis mentais”. Francis Galton, um respeitado cientista britânico, foi o primeiro a especular a respeito, mas suas ideias foram apropriadas por outros cientistas e elas foram levadas muito além do que ele próprio pretendia. Seus estudos foram apropriados tanto por americanos cientificistas tal como por americanos de outras áreas do conhecimento.

Esses cientistas estavam preocupados com a imigração de raças supostamente inferiores no início do século XX. Essas raças eram tratadas como “perigosas pragas humanas” e a imigração dessas raças significava que uma “crescente maré de imbecis” poluiria a melhor das raças humanas.

Nesse sentido, os eugenistas e os críticos da imigração uniram suas forças para acabar com isso. Eles desenvolveram um plano para identificar pessoas supostamente de mente fraca, como os judeus, os gays e os estrangeiros, com o objetivo de impedi-los que eles se reproduzissem, esterilizando-os ou isolando-os da sociedade. O ex-presidente Theodore Roosevelt certa vez disse que “a sociedade não tem estrutura para permitir que degenerados reproduzam sua espécie”. Luther Burbank disse que devemos “parar de permitir que criminosos e fracos se reproduzam”. George Bernard Shaw disse que somente a eugenia poderia salvar a humanidade.

Esse movimento eugenista e anti-imigração era assumidamente racista. Mas naquela época o racismo era considerado algo normal e necessário. O racismo era encorajado por aqueles que almejavam a evolução e a melhora da humanidade. Não à-toa, essa vanguarda atraiu as mentes mais liberais e progressistas das gerações mais novas (isso soa familiar?).

A Califórnia foi um dos 29 Estados estadunidenses a aprovar leis que permitiam a esterilização. Em um curto espaço de tempo, o governo da Califórnia foi tido como um dos mais preocupados com o “progresso” dos Estados Unidos por ter realizado maiores quantidades de esterilizações do que outros estados do país. Pesquisas a respeito da eugenia foram, nesse período, financiadas pelo Instituto Carnegie e, mais tarde, pelo Instituto Rockefeller.

Figura 5: “Retomando o controle. Reformulando a resposta americana ao Covid-19” – O Instituto Rockefeller.

Figura 6: “Aprimorando a ciência em tempos de Covid-19”. Artigo no site do Instituto Carnegie.

O Instituto Rockfeller estava tão entusiasmado com as pesquisas que, mesmo após o Centro de Pesquisas em Eugenia ter migrado para a Alemanha e ter se envolvido com atividades que reprimiam instituições de saúde mental, ele continuou a financiar bastante as pesquisas alemãs[1].

Na década de 20, os eugenistas americanos ficaram com ciúmes dos alemães porque estes passaram a liderar as pesquisas. Os alemães eram o símbolo do progresso para os americanos. Os alemães construíram casas onde “deficientes mentais” eram trazidos para serem entrevistados e, mais tarde, eram conduzidos para uma câmera de gás que ficava no fundo dessas casas. Nas câmeras, os supostos deficientes morriam ao entrar em contato com o monóxido de carbono e seus corpos eram descartados em um crematório local.

Eventualmente, esse projeto de extermínio se expandiu e se tornou uma vasta rede de campos de concentração localizados perto das linhas ferroviárias, o que permitia um transporte eficiente de pessoas indesejadas em direção a esses campos.

No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, misteriosamente ninguém era mais eugenista e ninguém nunca tinha sido eugenista. Biógrafos de pessoas poderosas as vezes nem mencionavam a eugenia à medida que narravam a história dessas pessoas.

Dito isso, vale enfatizar três pontos: 1) apesar da construção do laboratório de Cold Spring Harbor, das pesquisas desenvolvidas pelas universidades e da criação de leis, em nenhum momento existiu alguma base científica para a eugenia. Na verdade, naquela época pouco se sabia o que realmente era um gene; 2) o movimento eugenista foi, de fato, um movimento sociopolítico disfarçado de científico e; 3) o establishment científico, tanto nos Estados Unidos quanto na Alemanha, em nenhum momento protestou contra a eugenia. Na Alemanha, os cientistas aderiram rapidamente à essa pseudociência.

Nas palavras de Ute Deichman, “os cientistas alemães, incluindo aqueles que não eram membros do Partido Nacional-Socialista, ajudaram a financiar as atrocidades cooperando diretamente com o estado”[2]. Dessa forma, com o fim da guerra os cientistas alemães orientaram suas pesquisas às novas políticas e os poucos que se recusaram a mudar o foco de estudo desapareceram.

Um segundo exemplo de ciência que foi politizada é um pouco diferente, mas também exemplifica os perigos de se ter um governo que controla e orienta as pesquisas científicas e uma mídia acrítica que propaga conceitos falsos.

Desde janeiro de 2020, estamos nos deparando com uma nova teoria que, mais uma vez, tem recebido o apoio de políticos, de cientistas e de celebridades do mundo todo. Mais uma vez, grande fundações e instituições tem prestado apoio a essa teoria. Alguns cientistas até mudaram, de uma hora para outra, suas opiniões a respeito dela:

Mais uma vez, universidades de prestígio tem realizado pesquisas embasadas nessa teoria:

Figura 7: “Bill Gates, um homem de grande influência”. O esquema mostra o quanto o magnata Bill Gates investe financeiramente em profissionais e em institutos de pesquisa na área da saúde para, supostamente, ajudar a combater o COVID-19.

Mais uma vez, legislações estão sendo aprovadas e programas sociais estão sendo solicitados em prol dessa teoria:

Figura 8.

Mais uma vez, são poucos aqueles que criticam essa teoria e, tal como no passado, esses críticos estão sendo reprimidos.

Mais uma vez, os cientistas honestos estão sendo silenciados:

Mais uma vez, a teoria tem pouco embasamento científico.

Mais uma vez, grupos com outras agendas estão se escondendo atrás de agendas que parecem ser nobres:

Figura 9: “A pandemia representa uma rara oportunidade de refletir, de reimaginar e de recomeçar o nosso mundo” – Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial.

Mais uma vez, o pressuposto da existência de uma superioridade moral tem sido usado para justificar repressão e ridicularização.

Mais uma vez, pessoas que estão se saindo prejudicadas estão sendo ignoradas porque uma causa abstrata é considerada mais relevante do que quaisquer consequências humanas.

Figura 10: opinião: “Eu adoraria morrer da vacina AstraZeneca”.

Mais uma vez, termos que não têm definição consensual como “sustentabilidade” e “justiça geracional”, isto é, conceito academicamente vagos, estão sendo empregados à serviço dessa nova crise.

O excerto original da obra State of Fear discute as semelhanças da teoria da Eugenia com a teoria do aquecimento global. Eu, no entanto, acredito sim que devemos cuidar do nosso planeta, da nossa biodiversidade etc., mas ele tem razão quando denuncia o silenciamento de opiniões contrárias. O mesmo vale para o atual debate do COVID-19.

É totalmente normal ter uma opinião própria, desde que se possa apresentar dados e argumentos razoáveis. Este princípio é denominado de pluralismo (“eu não concordo com as coisas que você fala, mas eu defenderei até a morte o direito de você dizê-las”). A doutrinação de opiniões, entretanto, é uma ameaça significativa à sociedade.

É muito preocupante, por exemplo, o fato de dissidentes estarem sendo silenciados. Muitos perderam seus empregos e as pessoas que estão trazendo argumentos objetivos e interessantes estão sendo ridicularizadas por intelectuais como Erik Fiegl-Ding, Eric Topol, Karl Lauterbach, Atila Amarino, Florian Krammer e por outros tantos ‘queridinhos’ da mídia de massa.

É muito preocupante, por exemplo, o fato de que quase todos os cientistas que assinaram o John Snow Memorandum sejam financiados pela Nerd Sweter Mafia. Isso não respeita os princípios da integridade e da imparcialidade das ciências:

Figura 11: “Consenso científico a respeito da pandemia do COVID-19: nós precisamos agir agora.”

Os nomes abaixo do título são dos cientistas que assinaram o ‘John Snow Memorandum’.

A mídia de massa tem desempenhado uma função também preocupante. Sabe-se que os jornalistas são obrigados a reportar notícias de forma neutra. No entanto, muitos jornalistas dos principais meios de comunicação estão postando no Twitter que são a favor do Lockdown.

É preocupante, por exemplo, que o Karl Lauterbach, o ‘criador de medo’ número um da Alemanha, seja convidado regularmente para talk shows. Profissionais que tem opiniões contrárias dificilmente são convidados. Muitas vezes, parece que o objetivo da mídia é espalhar informações tendenciosas e não contar toda a história. Agindo como se fosse a única a portar a verdade, a mídia divide as pessoas em “nós e eles”: o povo, que segue uma abordagem racional e científica, e aqueles que seguem os pseudocientistas, que afirmam ter o monopólio da verdade.

O desenrolar dessa história é, para dizer o mínimo, bastante problemática porque um enorme grupo de radicais recebem suporte da mídia. Esse grupo é formado predominantemente por cientistas desonestos, pela indústria farmacêutica e por ONG’s milionárias.

Antes do início da crise, muitos eventos incomuns ocorreram. Normalmente, entende-se que o papel da mídia é de questionar os acontecimentos do nosso dia-a-dia. Entretanto, vários responsáveis por essa crise estão sendo, na verdade, adorados como semideuses hoje em dia.

Figura 12: “A pandemia do Corona vírus surgiu em 30 dias?”

Eu sou a favor dos debates e das trocas de opinião, mas eu não hesito em expressar minhas convicções. Há quem, certamente, consiga se expressar de maneira mais diplomática. No final das contas, o que interessa é se as pessoas têm o direito de defenderem o que acreditam e se, simultaneamente, estão abertas para ouvir novas opiniões. Contudo, o que tenho observado nos últimos tempos é que existe uma espécie de “caça às bruxas”, uma perseguição às vozes críticas. Profissionais totalmente irrelevantes acusam cientistas renomados como John Ioannidis de farsantes enquanto pessoas como Huntersville Cardwell e outros entusiastas do apocalipse estão sendo promovidas. Alguma coisa está muito errada.

Figura 13.

Figura 14.

Se olharmos para o passado, conseguiremos entender que a história humana está repleta de advertências. Nós matávamos milhares de semelhantes porque acreditávamos que eles tinham feito algum pacto com o diabo e então se tornado bruxos e ainda hoje nós continuamos a matar milhares de “bruxos” todo ano.

Ainda tenho esperanças de que algum dia nós iremos superar esse “mundo assombrado por demônios”. Eu sou esperançoso graças a ciência. Entretanto, como disse A. Chase: “Quando a busca pela verdade é confundida com ideologia política, a busca pela verdade se reduz a busca pelo poder.”

Esse é o perigo que nós enfrentamos atualmente e é por isso que politizar a ciência é algo problemático. Devemos sempre nos lembrar dos erros que cometemos no passado para termos certeza de que as informações que hoje nós compartilhamos são imparciais e sinceras. Nosso futuro depende disso e o futuro depende de nós!

REFERÊNCIAS:

  1. BLACK, Edwin. The Horrifying American Roots of Nazi Eugenics.
  2. UTTE, Deichmann. Biologists Under Hitler.
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