Sobre Parahybas, entreguismo e Jackson do Pandeiro

Camarada leitor, é ponto pacífico que a declaração de Bolsonaro sobre os governadores de “paraíba” tem caráter pejorativo. O presidente disse que a fala foi crítica a Dino, figura com a qual não guardamos qualquer afinidade, seja dito de passagem. Aliás, a justificativa apresentada por Bolsonaro também revela que ele sustenta a retórica da campanha eleitoral, apelando para o enfrentamento e a polêmica, em particular com a esquerda. Esses aspectos saltam aos olhos, não se trata de insight nosso, estamos sumarizando-os a fim de entrar no mérito do presente texto, cujo título deve ter causado certo estranhamento no leitor habitué do site.

Primeiramente nos reportamos ao leitor mais desprevenido, advertindo-o para o fato de que criticamos o estímulo da militância petista à cisão entre nordestinos e sulistas, bem como o erro homogeneizante da política cultural e identitária da Era Vargas.

Isto posto, seria Bolsonaro um petista de sinal trocado, que, por seu turno, privilegiaria o branco sulista em detrimento dos nordestinos? Bem, agora apelamos ao leitor nordestino, que deve evitar essa avaliação simplista, maniqueísta, pois as gentes sulistas que nos legaram o monge José Maria e o Contestado, Vargas, Jango e Brizola não têm nada que ver com as parasitárias e apátridas forças por trás do presidente, inimigo despudorado, escancarado do Trabalhismo e do Brasil Profundo. A parceria entre Embraer e Boeing, a venda do controle da BR Distribuidora, o anúncio do desinvestimento de oito das 13 refinarias da Petrobras e o sinal verde para privatização da Eletrobras demonstram que, com efeito, Bolsonaro odeia este país de alto a baixo, do Oiapoque ao Chuí.

Há, sim, um ódio de classe e racial nas posições do presidente, mas ele não se identifica com o branco sulista, como apregoam os esquerdistas. Para ele, o nativo, o “bom negro e o bom branco da Nação Brasileira” devem ser guiados por um novo messias anglo-saxão ou judeu, rico, neoliberal e iluminado. Por isso, a libertação do Brasil não deve se limitar a nacionalizações e reestatizações. Sem um acirrado combate cultural e sem uma sólida teoria da cultura brasileira que ressignifiquem os símbolos e experiências fundantes do país, nossa linha de desenvolvimento seguirá com as intermitências, arrancos e recuos de praxe.

E por falar em cultura brasileira, não é desarrazoado evocar uma personagem mais vibrante do que o sinistro presidente, representativa de um Brasil de voo altaneiro, airoso, que dançava: o parahyba Jackson do Pandeiro, O Rei do Ritmo, cujo centenário está sendo celebrado neste mês. Sua desenvoltura em baião, marchinhas de carnaval, samba e rojão é emblemática, e deveria encorajar tantos quantos se interessem por sincretismos e sínteses. Jackson do Pandeiro era o parahyba quatrocentão, o “Nortista Quatrocentão”:

“Vai nesses versos, São Paulo / Toda a minha gratidão / Gratidão de um nortista / Que aqui ganhasse o pão / Vai nesses versos, paulista / Um obrigado nortista / Um obrigado de irmão
É por isso que os paulistas / Se orgulham e têm razão / Por que São Paulo de fato / Tem grande organização / É um nortista que fala / Que veio de pau-de-arara / Hoje é quatrocentão.”

No Rio de Janeiro, sambara na Portela, “Que só desfila pra ganhar”, e transformara a gafieira num forró:

“Olhe aqui, pau-de-arara, / Se a aula não for cara eu quero a lição / Peguei a escura e fiz um traçado / Dancei um trocado numa perna só / Falando assim parece brincadeira / Num instante a gafieira virou um forró”

Em 1954, ano da morte de Getúlio Vargas, O Rei do Ritmo gravou o rojão “Ele disse”, em homenagem ao presidente cujo legado e memória amiúde têm sido atacados pelo atual governo.

E então, camarada leitor, você prefere um país de adiposos que falam às cuspidelas em defesa de usurários, varejista, ranzinza, sovina, reacionário, cindido, ou o Brasil das cores e formas de Di Cavalcanti, nacional-revolucionário, dançando garbosamente à Jackson do Pandeiro?

Jackson do Pandeiro, presente!

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Ewerton Alípio
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