Cortar o orçamento da ciência é transformar o Brasil em um FAZENDÃO

Poucos cenários revelam de modo tão contundente o projeto de submissão do nosso país aos interesses dos países centrais do capitalismo global do que a atual demolição de nosso potencial de desenvolvimento científico e tecnológico. A fatia do orçamento destinada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações caiu para R$ 5,1 bilhões em 2019, patamar que é não somente o mais baixo dos últimos anos – em 2010, a área havia recebido mais de R$ 10 bilhões a preços atuais –, como também implica no agravamento da defasagem brasileira em relação aos principais centros produtores do mundo.

As equipes econômicas dos governos da Nova República foram formadas em uma matriz neoliberal míope para as reais necessidades estratégicas do Estado. Incluir a área de Pesquisa e Desenvolvimento em pacotes de “cortes de gastos” sufoca as possibilidades do país a médio e longo prazo. Não é à toa que a China aumentou em 9% o orçamento em pesquisa básica como forma de encarar os desafios trazidos pela desaceleração econômica.

A posição do Brasil no ranking de investimentos em ciência em relação ao PIB já era ruim antes dos cortes abruptos recentes e da emenda constitucional do teto de gastos. Enquanto a pequena Coréia do Sul destina mais de 4% do seu PIB à inovação, o Brasil se encontrava no 28° lugar, com pouco mais de 1,2%. Com governantes mais preocupados com os lucros do mercado financeiro do que com um projeto real de desenvolvimento, vamos cair ainda mais no ranking, adiando indefinidamente a superação de nossa condição marginal no sistema econômico global.

Os cortes atuais afetam principalmente os complexos industriais mais sofisticados e importantes, limitando setores diversos, que vão desde o de alimentos e medicamentos, passando pela exploração intensiva de materiais já existentes e a geração de novos equipamentos, até a nanotecnologia, redes de informações e satélites, e sistemas de Defesa. Desnecessário dizer que, ao ficar para trás em todos esses quesitos, só resta ao país importar bens de alta tecnologia agregada em troca do fornecimento de “commoditties”, cujos preços sequer são estabelecidos nacionalmente.

Eis aí um ciclo vicioso cujo fim é a perpetuação de um histórico processo de espoliação do povo brasileiro. A destinação de recursos para a Ciência e Tecnologia é mais do que investimento, no fim das contas. É condição sine qua non para nossa independência e soberania. O Brasil pode e deve usar suas potencialidades para desenvolver um parque industrial moderno, que atenda não só nossas necessidades como também garanta nossa liberdade diante das demais nações.

O futuro do Brasil é se assemelhar a um Haiti ou uma República Dominicana ou quem sabe a uma Somália. Vão sobrar as plantações de banana e os empregos de Uber e entregador do iFoods.

Derrubar o atual governo e limpar todo o sistema político demopartidário de suas formações liberais tornou-se questão de sobrevivência nacional.

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Nova Resistência
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