Escrito por Karel Vereycken
A esquerda global caiu mais uma vez no mito de que o Partido Democrata americano é pacifista e anti-imperialista. De onde tiraram isso não sabemos, já que Clinton e Obama foram os presidentes mais beligerantes das últimas décadas. E quem poderia esquecer que o golpe de 1964 no Brasil foi orquestrado pela administração democrata de Lyndon Johnson? Não se trata, aqui, de equiparar as candidaturas. Com o apoio de Bush, Obama e dos Clinton, de Soros, Nuland e Kagan, de Colin Powell, Condoleezza Rice e Madeleine Albright, da Lockeed e da Exxon, o candidato da guerra nas eleições americanas é um só: Joe Biden.
Como um artigo no Les Echos declarou em 1 de julho de 2020: “Ministros e ex-funcionários superiores da Administração Bush (2001-2009) formaram um comitê de ação política, chamado ’43th Alumni for Biden’ (‘Os Veteranos da 43ª por Biden’), tendo George W. Bush sido o 43º Presidente dos Estados Unidos”.
Em 7 de outubro, durante seu intercâmbio público (e cortês) com Mike Pence, o candidato a vice-presidente de Donald Trump, a senadora democrata da Califórnia Kamala Harris, que foi escolhida por Joe Biden para ser sua vice-presidente caso ele entre na Casa Branca em janeiro, fez comentários que confirmam esta situação.
A ex-procuradora vangloriou-se de que a chapa Biden-Harris tem sido apoiada durante meses por altos funcionários da administração Bush, incluindo sete ex-ministros de gabinete e vários neoconservadores linha dura.
Em primeiro lugar Colin Powell, o ex-Secretário de Estado e Chefe de Gabinete das Forças Armadas Americanas durante a primeira Guerra do Golfo em 1991, que é lembrado por seu discurso farsesco nas Nações Unidas, acenando furiosamente com uma garrafa supostamente contendo a “prova” de que Saddam Hussein possuía aquelas famosas armas de destruição em massa que ainda estamos tentando localizar…
Orquestrada por Tony Blair para consolidar a “relação especial” entre Londres e Washington, esta guerra foi apoiada na época pelo representante do estado de Delaware (o maior paraíso fiscal americano), o senador católico de ascendência irlandesa Joe Biden.
Vem em seguida outra mulher, Susan Rice, uma graduada de Oxford próxima a Hillary Clinton, que Biden quase aceitou como candidata a vice-presidente, mas que Biden preferiu indicar para Secretária de Estado. Depois de ter servido como embaixadora de Obama nas Nações Unidas a partir de 2009, ela será sua Conselheira de Segurança Nacional.
A idéia de criar uma zona de exclusão aérea na Líbia em 2011, em nome do “direito de proteger”, em realidade uma armadilha para derrubar o regime de Gaddafi, foi dela.
Na época, embora acreditasse que os Estados Unidos não deveriam participar, Biden sustentou enfaticamente que os europeus, com seu apoio logístico, deveriam fazer o trabalho sujo em seu lugar: “É claro que a OTAN tem toda a capacidade de implementar a resolução da ONU, o que significa garantir que a população seja protegida, que a zona de exclusão aérea seja criada e que haja uma assistência humanitária. Isto está totalmente, profundamente, completamente dentro das capacidades da OTAN…”. Bravo, artista!
O Centro para uma Nova Segurança Americana
Outra sombra na foto é o apoio dado a Biden por Michèle Flournoy, que se esperava que se tornasse sua Ministra da Defesa. Pouco conhecida na França, ela foi subsecretária da política de defesa dos EUA sob Obama. Nesta qualidade, ela serviu tanto Robert Gates quanto Leon Panetta, um antigo amigo íntimo de Biden.
Biden também vê Michèle Flournoy como um trunfo para atrair os votos das mulheres, já que ela é a mulher mais graduada no aparato de Defesa na história do Pentágono.
Ela também é co-fundadora do Centro para uma Nova Segurança Americana (CNAS). Com cerca de trinta funcionários e um orçamento “pequeno” de 6 milhões de dólares, este think-tank neoconservador substituiu o Projeto para um Século Americano (PNAC) para coletar toda uma seleção de intervencionistas da época de Bush e Obama.
O Projeto para um Século Americano foi fundado por Victoria Nuland e seu marido, o historiador neoconservador Robert Kagan.
Além da luta contra o terrorismo, a guerra irregular e a segurança “climática”, o Centro para uma Nova Segurança Americana se concentra na ameaça representada pela ascensão da Ásia, ou seja, da China. Já em 2016, Flournoy advertiu sobre “o papel de uma China cada vez mais poderosa, capaz e autoconfiante, que procura tornar-se a potência dominante na Ásia, mudando unilateralmente o status quo e violando a ordem internacional baseada em regras” (escrita por e para um Império Britânico que se tornou anglo-americano).
Até recentemente, a CEO do CNSA era ninguém menos que Victoria Nuland, ex-conselheira de Dick Cheney e outra associada próxima de Hillary Clinton, a quem ela serviu como porta-voz antes de se tornar secretária de Estado adjunta para a Europa e Eurásia na administração Obama até 2017.
Nuland se distinguiu por seu apoio incondicional aos movimentos neonazistas, que ela, como John McCain (cuja viúva está fazendo campanha para Biden), apoiou de todo o coração durante a “revolução colorida” do Maidan ucraniano, onde o filho de Biden também era conhecido por suas suculentas operações financeiras com os oligarcas locais.
O CNSA de Michèle Flournoy se beneficia de generosos financiamentos da Open Society do bilionário George Soros, e sobretudo da “nata” do complexo militar-industrial e financeiro anglo-americano: a empresa britânica BAE Systems, a BP America, a Northrop Grumman, a Lockheed Martin, a Raytheon, a Chevron, a Exxon Mobil, a Airbus, etc.
Falando com clareza, atrás de Biden está sendo preparando, em termos de política externa, o pior gabinete de guerra possível, reunindo os elementos mais intervencionistas das administrações Clinton, Bush e Obama.
Ao contrário de Trump, que certamente se rodeia de pit bulls na esperança de que eles não o perturbem, Biden é um homem de borracha que será, enquanto viver, o escravo do partido da guerra.
Fonte: Solidarité & Progrès