Já é bem conhecido o Lobby de Israel, ou Lobby Sionista, nos Estados Unidos, que algumas vezes faz com que os estadunidenses pratiquem uma política externa contrária aos seus próprios interesses em defesa de interesses do Estado de Israel – algo que já vem acontecendo no Brasil sob o governo fantoche e antinacional de Jair Bolsonaro.
Porém, há um outro lobby não menos nefasto, mas não tão divulgado: o Lobby Saudita, defendido geralmente por empresários do ramo petrolífero, que faz com os Estados Unidos arme e de apoio ao mais tirânico regime do Oriente Médio.
Desde os anos 1950, os Estados Unidos oferecem treinamento e apoio logístico às forças armadas sauditas, além de manter algumas bases militares do país. Nisso, os EUA sucederam o Império Britânico, que desde o século XIX tem mantido relações espúrias com os wahhabis no Oriente Médio.
Em 2017, logo após ter sido eleito, Donald Trump viajou à Arábia Saudita e assinou um acordo de 110 bilhões de dólares para venda de armas, sendo o maior contrato do tipo efetuado pelos Estados Unidos. Hoje, a Arábia Saudita tem uma das forças armadas mais modernas do Oriente Médio, atrás somente de Israel, e possivelmente do Irã, graças ao apoio estadunidense.
De acordo com o Instituto Internacional de Estocolmo para a Pesquisa da Paz, (SIPRI, na sigla em inglês), a Arábia Saudita foi o terceiro maior comprador de armas em 2017, e o primeiro no Oriente Médio. Entre 2008 e 2015, seus gastos militares aumentaram em 74%, alcançando o pico mais alto em 2015, com 90,3 milhões de dólares. Entre 2013 e 2017, 61% dos armamentos vieram dos Estados Unidos e 23% do Reino Unido. O país conta com um exército de cerca de 230,000 homens e sua força aérea, formada por aeronaves de fabricação estadunidense, é uma das mais poderosas da região. Algo que será reforçado ainda mais pelo acordo assinado por Trump.
Essas armas não são apenas para defesa e estão sendo usadas na agressão e genocídio contra os rebeldes xiitas houthis, no Iêmen. Os saudistas lideram uma coalizão militar desde 2015 envolvida na guerra civil iemenita em apoio ao governo de Abd Rabbuh Mansur Hadi, e têm efetuado ataques aéreos contra regiões controladas pelos Houthis, matando indiscriminadamente mulheres e crianças em um conflito que já deixou cerca de 7 mil mortos.
Às vezes, os lobbys sionistas e sauditas podem colidir, como ocorreu nos anos 1980, durante o narcogoverno do ultraliberal Ronald Reagan, tido como um dos presidentes dos Estados Unidos mais sionistas da história, quando da controversa venda de aviões de vigilância AWACS (Airborne Warning and Control System) para a Arábia Saudita. A negociação causou objeções de políticos proeminentes, de Israel e do lobby sionista estadunidense.
Todavia, os petrodólares árabes falaram mais alto e Reagan concretizou o negócio, que incluía cinco aviões E-3 Sentry AWACS e oito KE-3 de reabastecimento, entregues entre 1986 e 1987, além de peças de reposição e suporte, sendo na época a maior exportação de armas de todos os tempos.
O mais irônico disso tudo é que enquanto os Estados Unidos posam como baluartes da luta contra o terrorismo internacional – argumento falacioso quando sabemos que o país apoiou jihadistas no Afeganistão, Líbia, Síria e Sérvia, bem como a própria al-Qaeda de Osama Bin Laden -, fornece armamentos de última geração para o país que mais financia o terrorismo. De fato, a Arábia Saudita é um Estado Islâmico que deu certo por ter recebido reconhecimento internacional. Não há diferença alguma entre o Daesh e a Arábia Saudita. Ambos professam a mesma ideologia, a mesma visão deturpada do islã (wahabismo) e agem da mesma forma.
Os governantes sauditas, assim como doadores privados do país, são os principais financiadores de grupos jihadistas wahabitas pelo mundo, além da construção de madrassas (escolas islâmicas) pelo Oriente Médio, Ásia Central, África Subsaariana e Europa, difundindo a ideologia wahabita em detrimento de formas tradicionais do islã.
Outro fator curioso, é que a grande maioria dos terroristas que perpetraram o 11 de Setembro eram sauditas, além do fato da família de Osama bin Laden ser uma das mais influentes do país. E quando Trump fez uma lista de nacionalidades que não poderiam entrar nos Estados Unidos, deixou de fora a Arábia Saudita, de onde vem a maioria dos terroristas wahabitas, e incluiu países que lutam contra e sofrem com o terrorismo, como Irã e Síria.
Recentemente, os sauditas executaram 37 pessoas acusadas de “terrorismo”, muitos deles pertencentes à minoria xiita, sendo que um deles foi crucificado, enquanto o restante decapitado. O país é conhecido por perseguir e assassinar xiitas e cristãos, bem como açoitar aqueles que discordam do governo, enquanto os países ocidentais fazem vistas grossas.
Ainda assim, o governo brasileiro aponta até mesmo para se posicionar ao lado da Arábia Saudita em suas tensões com o Irã. O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, afirma que nos conflitos entre sunitas e xiitas o Brasil deveria assumir o lado dos sunitas com o objetivo de, assim, “compensar” possíveis efeitos comerciais e diplomáticos negativos de uma hipotética mudança da Embaixada Brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.
Mas apoiar a Arábia Saudita contra o Irã é apoiar a Al-Qaeda, o ISIS, a Frente Al-Nusra, o Boko Haram e várias outras organizações que têm estado engajadas no massacre de cristãos e muçulmanos xiitas ao redor do mundo, e que recebem dinheiro, armas, apoio logístico e ou influência intelectual dos sauditas.
A realidade é que o surgimento do Estado Saudita, criado pela Grã-Bretanha, foi um erro. Esse é um país artificial que deveria deixar de existir.
E estar com eles é estar com o terrorismo.