Toda vez é a mesma coisa, e considerando o papel global hegemônico dos EUA (que, infelizmente, ainda não cessou), essas discussões sempre respigam no resto do planeta. Massacre em escolas, universidades ou outros lugares públicos, com dezenas de mortos e feridos.
O foco de análise de todos está nas armas. Restringir ou liberar ainda mais. Todos tratam como se fosse essa dualidade a chave da questão: os que defendem a restrição, ou até a proibição, parecem ignorar o número imenso de países violentos com porte de arma proibido; os que pensam que a solução é afrouxar ainda mais as leis, e ter ainda mais gente armada circulando, preferem ignorar os riscos.
O caso americano é singular, sim, e exceções não passam de copiadores. Finlândia e Suíça são os dois países com a maior proporção de cidadãos armados depois dos EUA e não ouvimos falar em massacres escolares nesses países. Não só, como estão entre os países mais seguros do mundo.
Não é uma questão de a legislação americana ser perfeita ou merecer alterações. Não é esse o ponto. Parece ser quase unânime que deva haver algum tipo de alteração nas leis. O ponto é que o problema não está nas armas de fogo. Desarmamentistas costumam de citar o caso britânico, mas ocultam que os crimes em geral e, especialmente, os homicídios com faca estão disparando por lá.
Em um cômputo geral, ademais, estamos falando de uma questão objetivamente menor. Apenas 0.3% dos homicídios nos EUA estão ligados a esses massacres. E considerando que apenas 0.6% das mortes nos EUA são por homicídio, estamos tratando de um fenômeno cujo impacto se deve fundamentalmente à mídia e a sua capacidade de espetacularizar toda tragédia.
A essência da questão é que os EUA são uma fábrica de lunáticos.
O resto do mundo talvez tenha essa impressão já há muito tempo, por causa do cinema, da música, das celebridades e de outras bizarrices em geral vindas dos EUA. Mas esse é um fato clínico por si mesmo. Todos os envolvidos em massacres escolares, ou crimes semelhantes nos EUA, nos últimos anos, eram pessoas mentalmente transtornadas, em tratamento psiquiátrico e dependentes de remédios, usualmente antidepressivos ou antipsicóticos.
Estamos falando de drogas que aceleram e intensificam o processo de mudança de humor no usuário, além de serem gatilhos para surtos psicóticos e transtornos de personalidade.
Esse é um fato sobre o qual o governo e a mídia dos EUA se recusam a abordar, por causa da pressão da indústria farmacêutica e do lobby psiquiátrico, sob a desculpa esfarrapada de que isso aumentaria o “preconceito” contra portadores de transtornos mentais.
Mas não existe “preconceito” quando lidamos com fatos, e impedir massacres é mais importante do que “combater preconceitos”.
Nick Cruz, autor do último massacre americano, era usuário de antidepressivos, segundo um parente. Stephen Paddock, que matou 50 pessoas a partir da janela do seu hotel em Las Vegas, estava tomando diazepam há alguns meses antes do massacre. Os efeitos colaterais do diazepam incluem “confusão, alucinações, pensamentos ou comportamento incomuns; comportamento arriscado, inibições reduzidas, ausência de medo do perigo; humor deprimido, pensamentos suicidas; hiperatividade, agitação, agressão, hostilidade”.
James Holmes, que cometeu um massacre em um cinema em 2012, era usuário do antidepressivo Sertralina, cujos efeitos colaterais incluem “reação agressiva; mudanças comportamentais ou de humor; e fala rápida com excitação ou ações fora de controle”. Gavin Long, veterano que cometeu um massacre na Louisiana, era usuário de Lunesta e Ativan, remédios com uma lista imensa de efeitos colaterais, dentre as quais agressão, agitação, mudanças comportamentais, alucinações, pensamentos suicidas e ideação homicida.
Os estudos sobre os riscos desses e muitos outros remédios têm sido amplos, especialmente na União Europeia. Não obstante, o uso desses medicamentos aumentou em 400% desde 1988. Hoje, 11% dos americanos com mais de 12 anos de idade tomam antidepressivos: o que é mais do que em qualquer outro país.
O poder da indústria farmacêutica é imenso, principalmente nos EUA, seu coração, e onde, há décadas, ela faz experimentos e testes. Os soldados americanos lutam e matam movidos por remédios e drogas, e quando voltam para casa, usualmente traumatizados, se tornam clientes fieis.
A juventude americana, desacreditada, endividada, sem sonhos, sem ideais, sem valores ou crenças sólidas, jogada em um cenário de competição selvagem por prestígio, em uma sociedade que só valoriza status e dinheiro, é a mais deprimida, ansiosa, autista e neurótica no planeta.
Retirem as armas e os lunáticos dessa sociedade doente aprenderão a fazer bombas. Deem um jeito de impedir isso, e eles cometerão massacres com facas.
É fácil encontrar um bode expiatório, um tipo de culpado cujo confronto vai resolver todos os problemas. Sejam as armas, música, RPG, jogos, filmes, religião, política, a mídia sempre vai tentar dirigir a atenção do público para algum tipo de falso problema. Porque a alternativa é admitir que os EUA falharam. O “Sonho Americano” morreu. A sociedade americana está em decadência, uma decadência da qual não há volta possível, e até que chegue o derradeiro fim, ainda haverá muitos corpos inocentes baleados no chão.