O Conflito

É natural ponderar por quanto tempo Israel ainda conseguirá manter sua guerra aérea contra o Irã, considerando que, em menos de dois dias após o ataque surpresa israelense, Teerã já começou a reagir com poderosos ataques de mísseis e múltiplos lançamentos de drones, atingindo com sucesso a região de Tel Aviv.

Os armamentos hipersônicos iranianos demonstraram sua superioridade sobre os melhores sistemas de defesa aérea ocidentais, confirmando que apenas algumas velhas “vassouras voadoras” no estilo V1 ainda podem ser facilmente abatidas, mas a situação muda radicalmente quando mísseis hipersônicos — invisíveis aos sistemas de ponta tão adorados pelo Ocidente (e tão caros) — entram em cena. É um espetáculo já visto na Ucrânia, diante dos olhos de todos.

Israel lançou um ataque de decapitação contra a República Islâmica na noite de quinta-feira, 12 de junho, atingindo alvos importantes com precisão e método, cuja eliminação supostamente colocaria Teerã de joelhos. Seguiram-se ameaças ferozes de mais destruição e exigências humilhantes de rendição incondicional.

O Irã escolheu lutar.

Seria hipócrita não reconhecer o grau excepcional de preparo que as forças armadas e os serviços secretos israelenses demonstraram ao cumprir sua missão, mas seria ingênuo acreditar que agiram sozinhos: Teerã tem um problema evidente com traidores internos, que primeiro permitiram que células adormecidas de sabotadores se estabelecessem e depois lhes deram liberdade para agir em território iraniano.

É possível identificar uma ligação entre os afiliados do movimento Mujahedin-e Khalq (MEK) — ainda mantido vivo por Washington e Londres —, os nostálgicos da dinastia Pahlavi, iranianos que simplesmente odeiam a teocracia xiita (agora vista mais como um freio sufocante do que como fonte revolucionária de progresso) e a habitual burguesia compradora, que sempre segue o dinheiro.

É uma mistura heterogênea e improvável, cujas contradições internas inevitavelmente surgiriam após uma mudança de regime em Teerã que substituísse os aiatolás por figuras mais maleáveis e aceitáveis ao Ocidente coletivo. Mas quem se importaria com um Irã em caos?

Benjamin Netanyahu alertou o mundo sobre os perigos de uma bomba atômica xiita pela primeira vez em 1992: ela estaria pronta em dois ou três anos, ou seja, por volta de 1995. Depois, repetiu o aviso em 1995, 1996, 2002, 2009, 2010, 2012, 2018, 2024 e agora em 2025. Enquanto isso, “Bibi” foi investigado várias vezes por corrupção, sempre escapando dos juízes, ainda conseguindo divertir o mundo com desenhinhos engraçados da bomba atômica iraniana, apresentados com descaramento na ONU. Também tentou reformar Israel, transformando-o em uma teocracia judaica e restaurando a autoridade do Sinédrio, mas falhou devido a uma mini revolução colorida interna — ele e seus acólitos devem ter optado por esperar tempos melhores.

O massacre de palestinos continuou desde 1992 sem hesitação ou freio, até a destruição total de Gaza sob um furacão de bombas, motivado mais por sede de sangue do que por necessidade militar. Todos vimos o que aconteceu com os gazenses desde outubro de 2024: uma onda de destruição sem precedentes, indiferença ao seu sofrimento.

Deve ter sido intoxicante, primeiro, conseguir matar Nasrallah, neutralizando o Hezbollah, e depois eliminar a Síria de Assad, transformando aquele país nobre em um “Caostão” dominado pelos habituais fanáticos assassinos — o grupo HTC, cujo nome lembra uma empresa de tecnologia.

Portanto, não surpreende que Israel, embriagado por uma sensação de vitória divina, tenha se sentido no direito de atacar o Irã, achando que finalmente era a hora certa.

Escrevi “sensação de vitória divina” porque me lembro claramente da perturbadora interpretação escatológica que Youssef Hindi fez em 2022 sobre o embate entre o Ocidente coletivo de um lado e o Oriente Médio árabe e a Rússia do outro. Seríamos realmente surpreendidos se o Talmude e as interpretações dos rabinos mais conservadores também estivessem envolvidos?

No entanto, é errado acreditar que Israel está sozinho nessa guerra: o Irã está lutando não apenas contra Israel, mas contra Israel e toda a OTAN. Washington e seus vassalos europeus estão fornecendo a Tel Aviv inteligência, apoio aéreo, logística, combustível, bombas, sistemas antiaéreos e, provavelmente, auxílio para a exfiltração de agentes israelenses em território iraniano.

E o Azerbaijão? Baku há muito mantém boas relações com Israel, e, segundo alguns relatos, houve uma movimentação intensa de helicópteros entre territórios azerbaijano e iraniano. A notícia não foi confirmada, mas a destruição da base aérea de Tabriz pela força aérea israelense pode estar ligada a isso — e ao objetivo de impedir uma ponte aérea da Rússia para o Irã.

A diplomacia ocidental alterna entre a inexistência e um estado de coma ridículo: Donald Trump se gabando publicamente de ter enganado os iranianos, fazendo-os crer que queria um acordo nuclear razoável apenas para dar tempo a Israel de aperfeiçoar seu ataque, e as palavras do ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, sobre como o Irã “perdeu a chance de diálogo construtivo” são apenas dois exemplos que contrastam com o comportamento diplomático da Rússia, China e Irã.

Há uma forte impressão de que quem lida com o Ocidente está lidando com imbecis acostumados a não responder por seus atos e palavras, com crianças mimadas que se recusam a amadurecer, mas mesmo assim alcançam posições de poder para as quais são claramente despreparadas. Até no caso de Donald Trump, que fez do “anti-wokeness” e da rejeição ao “cancelamento” seu lema.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Ismail Baqaei, respondeu a Wadephul com ironia em um tweet no X:

“Lembrete histórico: #Alemanha iniciou duas guerras mundiais. O Irã abrigou judeus fugindo de Hitler — pergunte aos refugiados poloneses/franceses que receberam passaportes iranianos. Quem sempre esteve do lado errado da história deve ficar em silêncio agora.”

Se tentarmos analisar a situação como um todo, considerando seu desenvolvimento histórico e seus pontos mais críticos, é impossível não concordar com a análise de Youssef Hindi e com a opinião de Pepe Escobar, quando afirma que todo o planeta está refém de um culto à morte.

Esse culto não parará no Irã — continuará contra a Rússia e a China. É, de fato, um culto mortal, carnívoro, canibal e insaciável. No entanto, sua vitória não é certa, e a última palavra ainda não foi escrita.

Fonte: Geopolitika

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Nova Resistência
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