Quando falamos sobre e, acima de tudo, criticamos empresas e empresários, principalmente levando em conta a contradição entre proprietários dos meios de produção e os assalariados, que nos é legada pela perspectiva socialista, temos de fazer uma importante especificação.
Não é o mero fato de alguém ser empresário que o torna inimigo e, por isso, nem todo empresário é um inimigo: pensar o contrário seria um grande equívoco. Há uma falha na visão de muitos marxistas, que colocam todos os proprietários dos meios de produção no mesmo patamar. Não estamos nos referindo meramente ao “pipoqueiro”. Este, obviamente, não tem nada a ver com qualquer conceito de burguesia, porque ele não expropria mais-valia, apesar de ser proprietário de meio de produção.
Como salientou o economista Adriano Benayon, podemos dividir os proprietários dos meios de produção em duas subclasses: temos os donos/controladores de grandes grupos capitalistas, ligados ao capitalismo financeiro, às forças internacionais, aos interesses imperialistas que, na prática, controlam o mercado nas sociedades capitalistas. A estes pode-se dar o nome de burguesia compradora. E existem as pequenas e médias empresas nacionais, que lutam na economia de mercado, sendo oprimidas pela burguesia compradora, pelas corporações multinacionais, pelo sistema bancário e pela usurocracia, e que geralmente acabam falindo, sendo expropriadas (isso quando elas já não pertencem, desde o início, aos rentistas, a partir da necessidade de tomar empréstimos bancários para empreender). Isto é algo que tem sido muito ignorado pela maior parte dos marxistas ocidentais.
Obviamente, as pequenas e médias empresas nacionais não possuem condições de competir de forma justa frente ao poder exercido por grandes grupos capitalistas nacionais e internacionais. Justamente aqui, encontramos a necessidade de o Estado entrar em ação, através de políticas que fortaleçam e apoiem as empresas nacionais, não deixando o mercado a mercê das forças estrangeiras e dos parasitas internos. Para isso, é necessário construir uma aliança entre proletários, camponeses, pequenos e médios empresários e outras forças patrióticas.
Como o mesmo Adriano Benayon salientou em seus artigos, apenas um país cujo setor industrial e empresarial se encontra estruturalmente forte, possui condições de lidar com as forças predatórias do capitalismo internacional.
Ainda assim, é necessário ser realista e compreender que esse potencial revolucionário é algo a ser cultivado e que há críticas que devem ser feitas, atualmente, a boa parte dos pequenos e médios empresários nacionais, como o fato de os mesmos, em sua maioria, se encontrarem omissos frente ao avanço de forças estrangeiras, coniventes com o choque neoliberal. Compreendemos isso como fruto de uma aversão gerada pelo petismo, que, apesar de ter governado segundo a cartilha neoliberal, é propagandeado como sendo algum tipo de “socialismo”.
É necessário cultivar, nessas camadas médias, um posicionamento contrário a esta invasão, uma disposição revolucionária, uma compreensão de que estes possuem interesses comuns com o proletariado e o campesinato, e interesses opostos à burguesia compradora e a todas as forças que se beneficiam da exploração capitalista e do imperialismo no Brasil. Para isto, é necessário que haja o desenvolvimento de uma consciência nacional, que demonstre que a contradição fundamental de nossa era é a que coloca, de um lado, os interesses dos povos e nações, e do outro, os interesses desenraizados e parasitários do capitalismo internacional. Acima de tudo, é necessário incutir nessas camadas a consciência de seu papel social, construindo pontes entre elas e as outras camadas populares oprimidas pela tirania do capital: o que colaboraria para que a visão errônea que os demoniza seja desbaratada.
O pequeno empresário possui um forte potencial revolucionário quando ele compreende que está do lado dos oprimidos (proletários e camponeses), e que ele deve colaborar em uma estratégia revolucionária de salvação nacional contra as investidas do capital. Afinal, não é verdade que a maioria desses pequenos empresários está endividada com os bancos e, portanto, não são plenamente proprietários de suas empresas?
Contra o capitalismo, contra o imperialismo e contra o globalismo!