Uma das figuras mais influentes dos últimos 40 anos tem sido o financista George Soros, arquiteto do globalismo.
George Soros, autoproclamado defensor de uma “sociedade aberta” em oposição a uma “sociedade fechada” e descrito como “viciado em filantropia política”, é, antes de tudo, um gênio dos mercados financeiros que construiu um império antes de impor sua ideologia. Inicialmente envolvido na abertura do sistema soviético, Soros tornou-se um defensor do progressismo em todas as suas formas. Quem é realmente esse bilionário de 94 anos que recentemente transferiu a direção da Open Society Foundations (OSF) para seu filho?
Nascido György Schwartz, em 1930, na Hungria, Soros recebeu de seu pai, um renomado advogado de Budapeste, uma educação judaica secular e um senso precoce de internacionalismo. Durante a Segunda Guerra Mundial, para escapar do Holocausto, sua família adotou o sobrenome “Soros”, que significa “ascender” em esperanto. Após a guerra, ele ingressou na London School of Economics, financiando seus estudos ao trabalhar em uma boate. Foi lá que conheceu o famoso filósofo Karl Popper, de quem tomou emprestado o conceito de “sociedade aberta” para fundar, em 1979, a OSF, hoje presente em 120 países. Em um discurso no Fórum de Davos, em 24 de janeiro de 2019, Soros relembrou os objetivos iniciais de sua fundação: “Meus primeiros esforços foram para minar o sistema de apartheid na África do Sul. Depois, voltei minha atenção para a abertura do sistema soviético. Criei uma colaboração com a Academia de Ciências da Hungria, que estava sob controle comunista. Esse arranjo superou meus sonhos mais ousados… Isso foi em 1984.”
Em setembro de 1992, após uma ousada especulação que levou à desvalorização da libra esterlina, Soros ganhou o apelido de “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”. Ele lucrou 1,1 bilhão de dólares em 24 horas ao vender grandes volumes da moeda e recomprá-la a um preço mais baixo. Na mesma época, também atacou a lira italiana e o franco francês. Segundo um economista que trabalhou com ele, Soros é “o maior trader da história”. Sua fortuna atual é estimada em 7,2 bilhões de dólares pela Forbes, após doar mais de 32 bilhões à OSF, de acordo com a própria organização. Quem já gastou tanto para defender suas ideias?
Autor do livro Soros e a Sociedade Aberta (Culture & Racines, 2018), Pierre-Antoine Plaquevent descreve a OSF como uma ferramenta de influência e ingerência global. Assumidamente favorável à imigração e descrito como o “pai milionário da descriminalização das drogas”, Soros também defende a liberalização da prostituição e do aborto. A OSF financia movimentos contrários ao Estado de Israel, incluindo ONGs acusadas de apoiar o terrorismo, e lobbies como o LGBT e o Black Lives Matter. Além disso, apoia um círculo de deputados “confiáveis” no Parlamento Europeu e mantém vínculos com sindicatos judiciais na França. O objetivo seria impor uma nova ordem mundial, nas palavras do próprio Soros, acima dos Estados, mesmo que isso implique desestabilizar regimes políticos: “Nossa tarefa não pode ser deixada aos governos.” (24/01/2019).
Dentro de sua visão de mundo, a promoção da imigração em massa é essencial. Durante a crise de 2015, Soros exigiu que a União Europeia, a partir de Nova York, acolhesse 1 milhão de migrantes por ano, financiando essa iniciativa por meio de dívidas. Ele propôs: “A UE deveria destinar 15 mil euros por requerente de asilo. […] A UE poderia levantar esses fundos emitindo obrigações de longo prazo, aproveitando sua capacidade de endividamento AAA amplamente inexplorada.” Segundo Pierre-Antoine Plaquevent, a Open Society destinou mais de 500 milhões de dólares para promover o acolhimento de migrantes em 2017. No mesmo ano, embora tenha crescido desde então, o orçamento da Frontex (agência europeia de controle de fronteiras) era de 300 milhões de euros. Para Gaëtan Cliquennois, pesquisador do CNRS, essa promoção dos direitos das minorias e migrantes seria uma forma de impor um “capitalismo sem fronteiras”, caracterizado pela livre circulação de bens e pessoas. Valores conservadores, nacionalismo e religiões são vistos como obstáculos a essa lógica neoliberal e, portanto, devem ser combatidos.
Apoiador permanente das campanhas democratas nos Estados Unidos, Soros investe generosamente no setor midiático. No início de 2024, tornou-se o principal acionista da Audacy, o segundo maior grupo de radiodifusão com 170 milhões de ouvintes mensais. Antes disso, investiu mais de 80 milhões de dólares na rede Latino Media Networks, que reúne 18 rádios hispanófonas. Soros também financiou, ao longo dos anos, diversos veículos de comunicação europeus, como o portal de extrema esquerda StreetPress na França, e na Polônia, apoiando a imprensa local desde 2016 e adquirindo, em 2023, participação no Wirtualna Polska Holding (“Polônia Virtual”), que administra o site mais visitado do país. A reeleição de Donald Tusk, candidato pró-aborto, não é alheia a essas ações. Em vários casos, como o do StreetPress ou do fundo Assa Traoré, os apoios financeiros da OSF são transparentemente declarados.
Presente na Ucrânia com a OSF desde 1990, o húngaro naturalizado Soros também esteve fortemente envolvido na guerra contra a Rússia. Durante uma recente conferência de segurança em Munique (16/02/2023), declarou: “Uma vitória ucraniana levaria ao colapso do império russo. A Rússia deixaria de representar uma ameaça à Europa e ao mundo. […] Isso seria um imenso alívio para as sociedades abertas e causaria enormes problemas às sociedades fechadas.” Segundo a imprensa húngara, ele já havia financiado o golpe de Estado de 2014, enquanto os dados da OSF indicam doações de 230 milhões de dólares à Ucrânia desde o início de suas operações no país. Além disso, a OSF exerceu lobby junto à União Europeia para garantir apoio significativo ao esforço de guerra ucraniano. Mesmo que uma derrota russa já não pareça realista, a redução das atividades da OSF na Europa, anunciada em 2023, sugere um sentimento de dever cumprido, com o deslocamento definitivo do centro de gravidade para o Ocidente.
O uso do direito como ferramenta de influência também é destacado. Um relatório detalhado do think tank ECLJ (European Center for Law and Justice) revelou o caso dos chamados “juízes Soros”. Entre 2009 e 2019, 22 dos 100 juízes permanentes do Tribunal Europeu de Direitos Humanos eram ligados à OSF e a outras seis ONGs financiadas em parte por Soros. Esses juízes julgaram mais de 100 casos apresentados por suas próprias ONGs ao Tribunal. Enquanto a jurisprudência do Tribunal é vinculante para os Estados membros, a Open Society utiliza o “litígio estratégico” (ações judiciais destinadas a impor novas normas políticas). Grégor Puppinck, doutor em direito e diretor do ECLJ, afirma que sua publicação levou o Tribunal a modificar seu regulamento interno e reforçar suas regras éticas, embora problemas, como a opacidade do gabinete, ainda persistam.
Aos 94 anos, Soros decidiu, em 2023, transferir a gestão de seu império para seu filho Alexander, um fervoroso democrata e opositor radical de Donald Trump. “Pensamos da mesma forma”, declarou o pai. O filho, por sua vez, planeja envolver-se ainda mais na política. A influência da Open Society sobre os assuntos globais parece estar longe de terminar.
Fonte: La Selection du Jour