A Fé na Tecnologia será a Ruína do Homem

A dimensão mais profunda do ataque de pagers explosivos contra o Líbano é o quanto a dependência do homem em relação à tecnologia pode, no futuro, representar a sua aniquilação.

Poucas pessoas fizeram a dedução reflexiva fundamental a partir do fato da possibilidade de explodir aparatos tecnológicos repentinamente à distância.

O que essa possibilidade representa à luz do projeto transumanista de fusão entre o homem e máquina? Desde, por exemplo, o projeto do Neuralink, do Elon Musk, que nos verá coom implantes cibernéticos no cérebro, até as ideias de Yuval Harari sobre o “ciborgue” como próxima fase da evolução natural do ser humano.

A resposta é óbvia para todos: no futuro será possível matar seres humanos remotamente com um botão não pela explosão de objetos internos, mas pela explosão de objetos internos.

E essa é apenas a possibilidade mais extrema entre as muitas que se abrem com a tecnificação do ser humano. Do “hacking” à reprogramação neural, passando por infinitos novos métodos de tortura e de dano mental. O que dizer da “liberdade”, por exemplo? Não será mais fácil monitorar, controlar e limitar um cidadão que se recuse a se submeter a alguma diretriz misantrópica imposta de cima para baixo?

Bem, tudo isso não é senão o resultado natural da própria maneira como vemos o mundo e a relação do homem com as coisas que o cercam.

Ao abraçar o mito do progresso e o materialismo, o homem passou a acreditar que seria capaz de produzir o paraíso por meio do desenvolvimento técnico-científico. O “desenvolvimento pelo desenvolvimento”, portanto, é como uma fórmula mágica que permitirá solucionar todos os problemas humanos.

Nisso, se crê piamente que ao desenvolvimento de alguma disciplina técnica há uma melhora geral na condição humana; quando toda observação demonstra que cada avanço é compensado por um recuo, que cada crescimento é compensado por uma diminuição.

Uma determinada tecnologia que acelera o movimento, por exemplo, simultaneamente incentivará a preguiça e resultará em menores níveis atléticos. Uma outra tecnologia que modifica os métodos de produção de alimentos, melhora o sabor de todas as comidas, mas aumentará as taxas de obesidade. Ainda outra facilitará o acesso à informação, com a consequência de prejudicar a capacidade de concentração de longo prazo.

Cada conquista é uma perda, cada vitória uma derrota.

Mas nada disso é percebido pelo homem, ingenuamente otimista de que o paraíso está logo ali após virar a esquina.

Nesse processo não pode mais ser considerada neutra. Ela não é mais apenas ferramenta à disposição do homem. Ao contrário, ela adquiriu autonomia em relação ao homem, com o homem tornando-se ferramenta para o autoaperfeiçoamento da técnica.

A prova disso é que ninguém pergunta o “porquê” e a conveniência de cada pesquisa ou investigação. Por que tudo deve ser mais rápido? Por que tudo deve ser menor? Por que tudo deve ser popularizado? Por que tentar banir a morte do horizonte humano?

Nada disso é questionado. A “necessidade” de que a tecnologia “avance” e de que ela “avance” em uma direção específica é dada como óbvia por todos. Essa maneira de lidar com a técnica não tem como culminar em qualquer outra condição que não seja a aniquilação do homem, vista como “superação” de uma condição inferior ou imperfeita.

Essa fé aproxima o homem, dia após dia, de uma tirania que fará todas as ditaduras e autocracias anteriores parecerem anarquias.

Mas o homem segue marchando, qual lêmingue, na direção desse abismo.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 38

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