Os Fundamentos Míticos do Capitalismo

O capitalismo também se apoia em elementos míticos clássicos e possui uma dimensão simbólica que dialoga com arquétipos do inconsciente. Parte de seu poder deriva precisamente dessa capacidade de mobilização e distorção de mitos e símbolos tradicionais.

Quem perdeu os símbolos históricos e não pode se contentar com “substitutos” encontra-se hoje em uma situação difícil: diante dele se abre o nada, frente ao qual o homem desvia o olhar com medo. Pior ainda, o vazio se preenche com ideias políticas e sociais absurdas, todas elas espiritualmente vazias. (Carl G. Jung: Sobre os arquétipos do inconsciente coletivo, 1934).

O poder do mito

O capitalismo, como sistema econômico e social predominante em nível mundial, exerceu e continua a exercer uma influência significativa em nossas vidas e na configuração das sociedades de maneira profunda, complexa e duradoura. Essa formação histórica, enraizada em teorias e práticas econômicas e políticas, opera como um modo de produção material, uma máquina para a geração e concentração de lucros, e um mecanismo de controle social que se apoia em uma lógica de exploração que abrange diversas dimensões, como classe, gênero, raça e espécie. Além disso, constitui uma poderosa força de configuração de subjetividades e um dispositivo hegemônico de reprodução cultural. Por isso, manifesta-se como uma estrutura integral de dominação e transformação do mundo, com a capacidade de influenciar todas as suas esferas, e até mesmo de levar a humanidade a um estado de colapso civilizatório, devido à sua natureza ecocida.

Embora o antropocentrismo e a construção do ego humano já existissem antes do surgimento do capitalismo, este último os intensifica, exacerba e subordina a uma lógica predatória centrada na busca de lucros dentro de um mercado supostamente competitivo, a qual prevalece sobre qualquer outra consideração ética ou forma de relação social.

No entanto, uma exploração mais profunda do capitalismo nos permite analisá-lo sob uma perspectiva mais ampla, adentrando-se em seus fundamentos míticos e arquetípicos. Neste artigo, exploraremos de forma preliminar como a lógica do capitalismo, conformada em torno do século XVI e desenvolvida com crescente intensidade a partir do século XVIII, está especialmente sincronizada com a energia psíquica e social de certos mitos e arquétipos que existiram ao longo da história da humanidade. Essas configurações míticas e arquetípicas estão presentes, com diversas adaptações e matizes, na maioria das culturas humanas, como demonstraram a antropologia e a psicologia profunda. Nesta exploração, apoiaremo-nos na mitologia grega como referência, devido à sua proximidade cultural. Esta deixou uma marca profunda na conformação da psique coletiva do Ocidente, onde o capitalismo surgiu e se desenvolveu.

Deve-se sublinhar que um mito é uma narrativa, geralmente tradicional e sagrada, que tem um significado simbólico e é compartilhada dentro de uma comunidade ou cultura específica. Os mitos funcionam como encarnações culturais dos arquétipos, entendidos estes como as forças impessoais do inconsciente coletivo. Segundo Carl Jung (2004), os arquétipos constituem uma espécie de padrões fundamentais na psique humana, que se manifestam por meio de imagens arquetípicas e se expressam sincronisticamente na forma como as pessoas e os coletivos percebem e respondem ao seu entorno (Jung, 2010). Como aponta Joseph Campbell (2015) em sua conhecida obra O poder do mito, os mitos são verdadeiros metaforicamente, e são valiosos porque transmitem verdades sobre a experiência humana que escapam a uma abordagem exclusivamente racional e científica. Os mitos constituem universais culturais que ao longo da história serviram como relatos simbólicos para dar sentido ao mundo, já que os símbolos que contêm expressam ideias-força que vão além do racional e do temporal, adentrando-se no mistério e no inefável (Chevalier e Gheerbrant, 2007). De fato, como apontava Thomas Berry (2015), os símbolos são fontes de energia e, ao mesmo tempo, meios de transformação psíquica. Os símbolos expressam significados compartilhados, com capacidade para representar algo que é reconhecido e compreendido por um grupo ou uma comunidade. Em todo caso, os mitos que os símbolos articulam costumam ser flexíveis e se adaptam à medida que a sociedade evolui, mantendo sua relevância e significado ao longo do tempo.

Isso acontece porque, como afirmou Carl Kerenyi (2009), o mito sobrevive graças à plasticidade do mitologema, que se refere ao rico material mítico que é revisado, gerado e reconfigurado continuamente com elementos próprios da cultura. Em outras palavras, o mitologema refere-se aos componentes mínimos e universais de um mito, que podem se repetir ou combinar de diversas formas para construir narrativas mitológicas mais complexas. Dessa forma, o mitologema funciona como um motivo recorrente que aparece em diferentes relatos mitológicos e que pode referir-se a personagens, eventos, objetos ou situações. Os mitologemas constituíram os alicerces das histórias que resistiram ao tempo, relatos que, “nas últimas horas de um mundo em dissolução, continuam sendo o espelho para nos contemplarmos e darmos sentido à nossa existência.” (Marcet, 2023).

Certamente, os mitos podem distorcer mais ou menos a realidade, mas também ajudam a conformá-la, construí-la e dirigi-la. Os mitos servem para estabelecer, sustentar e reforçar os valores, as identidades, as normas e as crenças compartilhadas dentro de uma comunidade, transmitindo-se de geração em geração. São realmente performativos e prescritivos, o que explica sua potência e transcendência. Como defendeu recentemente Vicente Gutiérrez (2023) ao referir-se aos “mitos sustentadores do capitalismo fóssil”, os mitos sustentam culturalmente os modos de produção, que também são modos de produção de mitos, de maneira que, sem mitos, não se entende a permanência, força e aceitação dos sistemas econômicos, políticos e sociais. Pois um mito não consiste em uma simples “superestrutura” derivada do determinismo materialista que caracteriza as relações entre forças produtivas. Antes, supõe uma infraestrutura geradora de conhecimento e significado, uma “estrutura de sentimento”, uma trama simbólica, um quadro interpretativo e uma filosofia cotidiana com inegáveis características numinosas. Os mitos, como tradução cultural dos arquétipos, expressam a força energética destes e sua capacidade de sintonizar, estimular, orientar e potencializar as ações das sociedades humanas e, portanto, dos modos de dominação em cada ciclo histórico.

A hybris do capitalismo

Analisar os fundamentos míticos do capitalismo, isto é, explorar seus mitologemas, serve tanto para calibrar sua força histórica quanto para compreender o quão difícil é reformá-lo, superá-lo ou imaginar alternativas viáveis a ele. Quando Mark Fisher (2016) cunhou o termo “realismo capitalista”, ele tentava descrever uma condição cultural e política na qual o capitalismo permeou tão profundamente a sociedade que é percebido como a única forma possível de organizar a vida. Portanto, mesmo quando as pessoas reconhecem os problemas e falhas do capitalismo, acham difícil imaginar e trabalhar em alternativas significativas, devido à esmagadora hegemonia do pensamento capitalista.

Sabemos muito bem, porque são amplamente estudadas, as motivações e manifestações do poder do capitalismo, em um sentido econômico, político e ideológico. Mas talvez se conheçam menos, devido ao excessivo viés materialista e racionalista das ciências sociais críticas, os impulsos psíquicos e arquetípicos do capitalismo que são veiculados culturalmente através dos mitos clássicos e se expressam em mitologemas. Por isso é necessário prestar atenção a eles, pois, do fundo silencioso do inconsciente coletivo, eles empurram incansavelmente, seguindo uma lógica sincrônica (Jung, 2004), para serem ouvidos, conhecidos e compreendidos. Uma tarefa necessária se quisermos propor alternativas emancipadoras críveis diante de um sistema totalizador que ameaça destruir tudo.

Em nossa modesta abordagem aos fundamentos míticos do capitalismo, focaremos na ideia de que todos eles nos falam de uma inflação patológica e destrutiva do ego. Segundo Marcet (2023), todas as mitologias das culturas da Terra nos alertam sobre a hybris: não podemos ser como deuses, pois pereceremos por isso. Na tradição grega, a hybris ou hubris é um termo que se refere à arrogância desmedida, à falta de respeito pelos deuses, pela natureza. Assim, a hybris na versão capitalista pode ser rastreada em narrativas míticas que apresentam personagens ou situações que refletem a desenfreada busca por poder, riqueza e sucesso, sem considerar as consequências morais ou sociais de suas ações.

A hybris da mitologia grega constituiu um impulso arquetípico vinculado ao longo desenvolvimento histórico da noção de individualidade, entendida como a ilusão de um sujeito independente e autônomo. No entanto, essa hybris foi exacerbada à medida que se configurava a concepção moderna de progresso, que o capitalismo traduziu em uma obsessão compulsiva por avançar, crescer e acumular riqueza e poder, a qualquer custo, sempre olhando para o futuro, um tempo impulsionado por uma modernidade que cancelava a antiga conexão entre humanidade e natureza/divindade (Marcet, 2023). Esse impulso incontível, que implica uma desmesura devido à cegueira e ao orgulho ímpio (Jappe, 2021), manifesta-se na busca por lucros, na ganância sistêmica, na expansão econômica e no crescimento perpétuo. No entanto, as dívidas terão que ser pagas em algum momento.

Dentro desse campo narrativo, muitas vezes as proezas dos “empreendedores”, empresários bem-sucedidos e agentes “disruptivos” do mercado aludem ao arquétipo do herói clássico embriagado de hybris. Esses lendários lutadores da vanguarda capitalista enfrentam desafios, assumem riscos, competem incessantemente e superam obstáculos em sua busca expansiva, razões pelas quais são vistos como venerados garantidores do avanço civilizacional. A vida está à sua disposição. Claro, sempre é possível agir com mais moderação, contenção, compaixão, consenso ou conciliação, mesmo que seja por pura estratégia, e, de fato, em algumas fases históricas do capitalismo, assim foi. Mas, no final, o ímpeto implacável da hybris capitalista faz com que o componente fáustico de sua dinâmica estrutural o leve necessariamente ao desastre. O neoliberalismo selvagem contemporâneo é uma boa prova disso.

Porque, assim como os mitos gregos nos alertam sobre os excessos da hybris, desafiar certos limites, sejam naturais ou divinos, ignorar os avisos sobre a extralimitação, cometer repetidamente os mesmos erros, tem um alto custo, que se manifesta dramaticamente em quedas, crises ou colapsos. Esses eventos, longe de parar ou diminuir, tendem a se repetir ciclicamente no capitalismo, intensificando-se e colocando em risco a própria vida no planeta. O sistema aprendeu algo com as lições históricas fornecidas pelo poder de seus fundamentos míticos? Não parece ser o caso, o que é bastante inquietante. Vejamos, ainda que de maneira impressionista, alguns desses antigos mitos especialmente reveladores.

Os antigos mitos da moderna hybris capitalista

O mito de Ícaro

Este e seu pai, Dédalo, escaparam de Creta, onde estavam presos pelo rei Minos, utilizando asas confeccionadas com penas coladas com cera nos ombros. No entanto, Ícaro, cegado por sua própria arrogância, desobedeceu às advertências paternas de não se elevar demais sobre o mar, aproximando-se perigosamente do sol, o que fez com que a cera derretesse e Ícaro caísse na água. Este mito ilustra as consequências desastrosas da ambição desmedida, da imprudência tecnológica, da megalomania, da vaidade e da temeridade, características tão distintivas do capitalismo. O mito aponta como ignorar as advertências de não ultrapassar certos limites pode levar ao fracasso e à ruína. Simbolicamente, também sugere que o excesso de calor da civilização termoindustrial, representado pelo aquecimento global, leva à sua ruína, ao precipitá-la no abismo do mar, que é, por sua vez, um símbolo fundamental do inconsciente coletivo e do submundo.

O mito do rei Midas

Devido à sua hospitalidade para com o sátiro Sileno, preceptor e leal companheiro de Dioniso, este deus concedeu ao rei Midas o poder de transformar em ouro tudo o que tocasse. Embora a princípio parecesse uma bênção, o rei Midas logo descobriu as consequências desastrosas desse dom, pois até mesmo sua comida e sua filha se transformavam em ouro ao tocá-las. Ao perceber que não podia desfrutar dos alimentos que se transformavam em metal ao contato, suplicou a Dioniso que o libertasse de seu dom. Este lhe indicou que se lavasse no rio Pactolo, o que lhe devolveu a normalidade. O mito adverte sobre como a obsessão pela riqueza (fazer proliferar o ouro) e a acumulação de bens podem levar à desgraça generalizada, como ocorre especialmente sob o capitalismo financeiro global, desconectado da esfera produtiva e entregue à mais brutal especulação. Esta situação simboliza essa busca insaciável por lucros (ouro) que guia o capitalismo (o rei), desconectado de qualquer instância transcendente, sensível ou espiritual, o que inevitavelmente conduz à alienação, à degradação da humanidade e à aniquilação da vida. De certa forma, o desejo final do rei Midas de desfazer o erro sugere a possibilidade de certo arrependimento na forma de decrescimento, contenção ou moderação das ansiedades materiais inerentes ao funcionamento do sistema, embora isso ainda esteja por ser visto.

O mito de Tântalo

Após ser convidado pelos deuses para seu banquete, Tântalo sucumbiu à tentação de se igualar a eles, oferecendo-lhes comida, chegando ao extremo de sacrificar seu próprio filho para servi-los em pedaços. Como castigo, Tântalo foi condenado a um tormento eterno no submundo, onde lhe eram apresentados comida e bebida que sempre se retiravam quando ele tentava pegá-los. Além disso, uma enorme rocha oscilante pendia sobre ele, ameaçando esmagá-lo. Este mito exemplifica a desmedida adicção do sistema de querer ser como um deus, centrado exclusivamente em uma voraz obsessão pelos bens materiais. O capitalismo, refletido neste mito, gera um desejo insaciável e constante, como o consumismo em massa que promove em nível global. No entanto, o objeto do desejo nunca pode ser completamente satisfeito, pois novos apetites surgem constantemente e a busca ávida continua para que a taxa de lucro continue crescendo, com os riscos que isso implica (a rocha oscilante). Esta narrativa reflete a realidade sistêmica de uma ambição permanente, uma busca interminável de desejos a serem satisfeitos e uma frustração crônica que não traz mais do que ansiedade, frustração e infelicidade.

O mito de Prometeu

O titã Prometeu enganou Zeus e, como castigo, o deus supremo do Olimpo lhe negou o acesso ao fogo. No entanto, Prometeu roubou sementes de fogo para dá-las aos humanos e, assim, ajudá-los em seu desenvolvimento. Em resposta, Zeus o acorrentou a uma rocha, onde uma águia devorava repetidamente seu fígado, pois este se regenerava. Ele foi libertado por Heracles, filho de Zeus, e pelo centauro Quíron, embora Prometeu tivesse que carregar um anel unido a um pedaço da rocha à qual havia sido acorrentado. Esse mito expõe o desejo de progresso, de superação intelectual e material, bem como a equiparação com a inteligência divina, que a sociedade capitalista tão bem encarna (agora com a “inteligência artificial”).

Ainda assim, Marx e o socialismo também admiraram Prometeu como símbolo de revolução e avanço civilizatório. Ao longo da história da cultura ocidental, o mito de Prometeu foi interpretado de três maneiras: como uma figura carismática que permite o progresso humano; como o protótipo romântico do rebelde que desafia os deuses e a natureza; mas também como uma figura funesta cujo conhecimento e capacidade tecnológica causaram grandes desastres e enorme sofrimento. Esse mito distintivo da modernidade, que o Frankenstein de Mary Shelley atualizou (não por acaso é subtitulado «ou o moderno Prometeu»), narra novamente a perigosa tendência de querer ser como a divindade. Em outras palavras, relata como a ambição tecnológica e a perversão do conhecimento científico no contexto capitalista, inerentemente titânico, podem desencadear monstruosidades éticas e efeitos distópicos imprevistos. Além disso, o mito destaca que, embora exista a oportunidade de se libertar desses males, a humanidade deve manter a humildade e lembrar-se de seus colapsos anteriores, como indica a imagem do anel com o pedaço de rocha que Prometeu deve sempre carregar.

O mito de Narciso

A dimensão psicopatológica do capitalismo é enunciada pela figura de Narciso. Ele era famoso por sua extraordinária beleza, mas também por sua profunda vaidade. Para punir sua arrogância, a deusa Nêmesis fez com que ele se apaixonasse por sua própria imagem refletida em um lago. Absorvido em sua contemplação, era incapaz de se afastar de seu próprio reflexo. Em uma versão romana do mito, conta-se que, ao ver seu semblante nas águas, Narciso ficou preso: com medo de danificar sua imagem, ele não a tocava e era incapaz de parar de olhá-la. Diz-se que Narciso se suicidou atirando-se ao lago ao não poder possuir o objeto de seu desejo. Este mito aponta para a autoabsorção e o chamado narcisismo, aspectos claramente característicos do capitalismo. Este se apresenta seduzido por sua própria dinâmica de destruição criativa (a “beleza” do capital). Essa fascinação o impede de moderar seus apetites, conduzindo-o inevitavelmente à alienação definitiva e, em última instância, ao suicídio por meio do ecocídio.

O mito de Faetonte

Faetonte era filho de Hélio e, desejoso de exibir sua linhagem diante de seus amigos, persuadiu seu pai a lhe conceder um desejo. Ele pediu a oportunidade de guiar a carruagem do sol através do céu por um dia. Apesar das tentativas de Hélio de dissuadi-lo, Faetonte permaneceu inflexível em sua determinação. Quando chegou o dia, o jovem foi tomado pelo pânico e perdeu o controle dos cavalos brancos que puxavam a carruagem. Em seu desespero, subiu alto demais, esfriando a terra, e depois desceu demais, provocando a seca e os incêndios. Faetonte inadvertidamente transformou grande parte da África em um deserto, queimando a pele dos etíopes até torná-la escura. Finalmente, Zeus foi forçado a intervir, atingindo a carruagem desgovernada com um raio para detê-la, o que provocou a queda de Faetonte, que se afogou no rio Erídano (Po). Este mito exemplifica de modo impressionante como o excesso de ambição e a irresponsabilidade ao lidar com determinadas tecnologias podem desencadear a alteração antropogênica do planeta, como ocorre na realidade atual com o caos climático provocado pelo capitalismo e sua religião tecnológica dogmática.

O mito do Minotauro

Este relato mítico reflete o processo pelo qual um engendro antinatural (o capitalismo global) pode levar à barbárie e ao sacrifício do futuro de uma sociedade (as novas gerações e as que estão por vir). O Minotauro ou «Touro de Minos» era filho de Pasífae, esposa do rei cretense Minos, e de um touro branco que ele valorizava muito, pois havia sido presenteado por Poseidon. O Minotauro só comia carne humana e, à medida que crescia, tornava-se mais selvagem. Quando o monstro se tornou incontrolável — como a civilização industrial capitalista —, Dédalo construiu o labirinto de Creta, uma estrutura gigantesca composta por inúmeras passagens entrecruzadas, das quais apenas uma conduzia ao centro da estrutura, onde o Minotauro foi abandonado. Durante anos, Atenas, subjugada pelo rei Minos, teve que entregar quatorze de seus jovens, que eram introduzidos no labirinto, onde vagavam perdidos durante dias até se encontrarem com o Minotauro, servindo-lhe de alimento. E assim foi até que o herói Teseu, ajudado pelo famoso fio fornecido por Ariadne, filha do rei Minos, conseguiu entrar no labirinto para matar o Minotauro. O que aponta para a mensagem de que, embora se tente conter o capitalismo, sua natureza predatória não muda, portanto, só serve acabar com ele.

O economista grego Yanis Varoufakis (2024) faz referência ao mito do Minotauro, destacando que satisfazer a fome dessa criatura era crucial para manter a paz imposta pelo rei Minos, que permitia que o comércio atravessasse os mares, trazendo consigo os benefícios da prosperidade para todos. Adaptando essa metáfora ao capitalismo contemporâneo, Varoufakis identifica um Minotauro global na forma da hegemonia econômica dos Estados Unidos e de Wall Street. Essa hegemonia se sustentava no déficit comercial americano, que importava massivamente manufaturas do resto do mundo para beneficiar Wall Street e os grandes investidores norte-americanos. Segundo Varoufakis, alimentado por esse fluxo constante de tributos, o Minotauro global, vinculado ao neoliberalismo e à informatização das finanças, permitiu e manteve a ordem mundial pós-Bretton Woods, de maneira semelhante a como seu predecessor cretense havia preservado a Pax cretana, embora com um custo significativo de sofrimento para as populações do mundo e enormes riscos financeiros. No entanto, assim como o Minotauro original, esse sistema também começou a entrar em colapso com a crise econômica de 2008. Por isso, Varoufakis (2024) conclui: “No final, nosso Minotauro será lembrado como uma besta triste e ruidosa cujo reinado de trinta anos criou, e depois destruiu, a ilusão de que o capitalismo pode ser estável, a ganância pode ser uma virtude e as finanças podem ser produtivas.”

O mito de Sísifo

Sísifo, conhecido por ter irritado os deuses devido à sua astúcia extraordinária, foi condenado a uma tarefa aparentemente interminável e fútil no submundo (o reino do inconsciente coletivo). Seu trabalho consistia em empurrar uma enorme pedra morro acima por uma colina íngreme. No entanto, cada vez que estava prestes a alcançar o topo e se livrar de sua carga, a pedra rolava para baixo novamente, forçando-o a recomeçar. Esse ciclo se repetia eternamente, e Sísifo nunca conseguia completar a tarefa.

Este mito tem sido interpretado de várias maneiras. Alguns o veem como uma história sobre o esforço interminável e sem sentido, que evidencia o absurdo da condição humana. Outros o interpretam como uma metáfora da coragem, determinação, esforço e resistência humanas diante de dificuldades aparentemente insuperáveis. Do ponto de vista do funcionamento histórico do capitalismo, o mito de Sísifo parece estar relacionado com a considerável potência de forças arquetípicas que se sintonizam com um sistema regido por uma concepção puramente expansiva, ascendente e técnico-material do progresso. Essa obsessão insana pela acumulação de riqueza e pela sensação de domínio acarreta um ciclo interminável de trabalho e estresse sem uma recompensa significativa, pois os problemas acabam reaparecendo, levando a uma nova queda que destrói grande parte do que foi criado e obriga a buscar novas maneiras de ascender com pesadas cargas às costas. Essas cargas, como a exploração, a desigualdade, a violência ou a dominação, fazem parte da própria lógica perversa do sistema, o que estruturalmente freia suas ambições desmedidas. Assim, a inconsciência ou arrogância diante dos limites do sistema, impostos pela natureza (o divino), geram crises ou colapsos recorrentes, dos quais realmente não se aprende. Isso abre a porta a novas tentativas irracionais de ascensão, também condenadas ao fracasso.

O mito de Erictião e o capitalismo catabólico

Mas se existe um mito, embora pouco conhecido, sobre a atual deriva para o capitalismo catabólico e autolítico, esse é o mito de Erictião. Mas antes de abordá-lo, devemos lembrar que o capitalismo catabólico se refere a um capitalismo sedento de energia e sem possibilidade de crescimento, entendendo o catabolismo como um conjunto de mecanismos metabólicos de degradação pelos quais um ser vivo se devora a si mesmo. Como aponta Collins (2018), à medida que os recursos energéticos e as fontes de produção rentáveis se esgotam, o capitalismo é forçado, por sua contínua fome de lucros, a consumir os bens sociais que outrora criou. De modo que, ao canibalizar a si mesmo, o capitalismo catabólico transforma a escassez, a crise, o desastre e o conflito em uma nova esfera de obtenção de lucros. Em outras palavras, a mercantilização do apocalipse acaba gerando lucrativas expectativas de negócio (Horvat, 2021). Em consequência, intensifica-se o processo de colapso desencadeado pela própria contradição entre a lógica expansiva capitalista e os limites naturais do planeta.

A condição catabólica deste capitalismo crepuscular se reforça com sua deriva autolítica. Na biologia, a autólise é um processo pelo qual as enzimas presentes nas células de um organismo morto começam a decompor a estrutura celular. No entanto, a autólise também pode ocorrer em corpos vivos, mas doentes, de modo que, sob certas condições patológicas, como doenças degenerativas ou lesões graves, as células podem ativar os mecanismos de autólise, o que leva à degradação dos tecidos e estruturas celulares dentro do organismo vivo. Um símile que ilustra de maneira vívida a decadência e desintegração do tecido social já doente, como resultado da ação do capitalismo histórico, que por sua vez intensifica o capitalismo catabólico. Este último define um sistema em estado terminal, prestes a ser substituído por um emergente potencialmente mais pernicioso, possivelmente de natureza neofeudal ou tecnofeudal (Varoufakis, 2024).

Voltando ao mito de Erictião, este relata a história de um rei da Tessália conhecido por um apetite brutal e uma ambição desenfreada. Sabíamos que o capitalismo possui um caráter canibal, que o leva a devorar tudo à sua volta para continuar crescendo (Fraser, 2023). Mas o mito de Erictião vai além, e é resgatado por Anselm Jappe (2019) em sua obra A Sociedade Autofágica: Capitalismo, Desmesura e Autodestruição, que se ocupa do caráter autocanibalizador do capitalismo contemporâneo. Segundo Jappe, o mito de Erictião, registrado na época pelo poeta grego Calímaco e pelo romano Ovídio, trata de um personagem que se tornou rei da Tessália após expulsar seus habitantes autóctones, os pelágios, que haviam consagrado um magnífico bosque a Deméter, a deusa das colheitas. No centro do bosque, erguia-se uma árvore gigantesca e, à sombra de seus galhos, dançavam as dríades, as ninfas dos bosques. Mas Ericsitão, desejoso de converter a árvore sagrada em tábuas de madeira para construir seu palácio, foi ao bosque com seus servos com a intenção de cortá-la. A própria deusa Deméter tentou dissuadi-lo de seu propósito, mas o rei respondeu com desprezo. Como os servos se recusaram a cometer o sacrilégio, Erictião pessoalmente derrubou a árvore, apesar de dela brotar sangue e do aviso de um castigo. Nesse caso, o desmatamento do bosque sagrado representa uma afronta direta aos deuses e à própria natureza. A história ilustra como ações imprudentes e egoístas podem levar à degradação e ao desastre, tanto em nível pessoal quanto ambiental.

De fato, Deméter enviou a fome personificada a Erictião, penetrando em seu corpo através de sua respiração. O rei foi tomado por uma fome insaciável, e quanto mais comia, mais fome sentia. Engoliu e consumiu tudo o que estava ao seu alcance, vendendo sua filha para obter mais comida. Mas como nada acalmava seu incrível apetite, ele mesmo começou a dilacerar seus próprios membros, de modo que, à medida que se autodevorava, seu corpo foi diminuindo até morrer. Para Jappe, trata-se de um dos mitos gregos que evoca a hybris, que acaba por provocar a nêmesis, ou seja, o mesmo castigo divino que também sofreriam Prometeu, Tântalo, Sísifo, Ícaro, Midas ou Faetonte, entre outros. Um mito que surpreende por sua atualidade vibrante, já que funciona como uma antecipação arquetípica do que acontece quando não se respeita a natureza, pois tal desconsideração atrai necessariamente a ira dos deuses, ou da própria natureza. Para Jappe, apenas o quase completo desaparecimento da familiaridade com a Antiguidade clássica pode explicar por que o valor metafórico desse mito escapou até hoje aos porta-vozes do pensamento ecológico.

Segundo Jappe, a fome de Erictião não tem nada de natural, e por isso nada natural pode acalmá-la. É uma fome descomunal, impossível de saciar. Sua desesperada tentativa de mitigá-la empurra o rei a consumir sem tréguas, em uma clara alusão mítica à lógica do valor, da mercadoria e do dinheiro. Mas a ânsia e a avidez não cessam: “Não é simplesmente a maldade do rico que está em jogo aqui, mas um encantamento que cria uma barreira entre os recursos disponíveis e a possibilidade de desfrutá-los” (Jappe, 2019:13). A deusa castiga Erictião de forma adequada ao seu delito: ao não conseguir se alimentar, ele vive como se toda a natureza tivesse se transformado em um deserto que se recusa a prestar auxílio natural à vida humana.

Contudo, sublinha Jappe, o aspecto mais notável do mito de Erictião é o seu final. Uma raiva abstrata que nem sequer contém a devastação do mundo e que termina com a autodestruição e a autoconsumição. O mito, portanto, nos fala não apenas da aniquilação da natureza e da injustiça social, mas também do caráter abstrato e fetichista da lógica mercantil e de seus efeitos destrutivos e autodestrutivos no contexto do capitalismo catabólico. É como a imagem de um barco a vapor que continua navegando enquanto consome gradualmente seus próprios componentes, ou a famosa cena dos irmãos Marx a bordo de uma locomotiva em plena marcha, onde para mantê-la em funcionamento é necessário desmontar os vagões e utilizá-los como combustível, até que, no final, também sejam consumidos pelo fogo.

Mas, como propõe Jappe, o mito também lembra a trajetória dos dependentes químicos com síndrome de abstinência, como essa constante sede de dinheiro que caracteriza a lógica capitalista e que nunca se satisfaz completamente. Érictião é um narcisista patológico, que nega a objetividade e a sensibilidade do mundo exterior, que por sua vez lhe nega a assistência material. A hybris de Érictião reflete a tendência à autodestruição implícita no capitalismo catabólico, levado por um impulso suicida “que ninguém deseja conscientemente, mas ao qual todos contribuem” (Jappe, 2019:15).

Na verdade, neste ponto é crucial mencionar o profundo vínculo entre o mito de Marte (Ares), deus da guerra, e o capitalismo, dado que este último opera como um regime de guerra permanente contra a vida. Sob esta perspectiva, o “terrível amor pela guerra”, um arquétipo universal ao qual o psicólogo junguiano James Hillman (2010) se refere, é amplificado notavelmente pela lógica capitalista. Isso ocorre porque esse devastador “amor pela guerra”, capaz de gerar uma sensação de significado, propósito e transcendência em sua ação destrutiva, é especialmente sacralizado sob os pressupostos existenciais do capitalismo. Consequentemente, devido à convergência mítico-arquetípica entre a hybris e o amor pela guerra, o capitalismo tende inevitavelmente à devastação do mundo.

Dos fundamentos míticos do capitalismo ao impossível capitalismo mítico

Como vimos, o capitalismo possui fundamentos míticos evidenciados nos grandes mitos da antiguidade clássica ocidental, que por sua vez traduzem e encarnam arquétipos universais. Tais fundamentos míticos falam da hybris, essa arrogância que desafia os deuses, e apesar das advertências para não ultrapassar certos limites, estas são ignoradas, com as graves consequências que isso acarreta, tal como tem acontecido e continua a acontecer com os excessos inerentes ao funcionamento do capitalismo. Mas, paradoxalmente, embora o capitalismo busque se tornar um mito para melhorar sua reprodução, adquirindo uma aura de autenticidade e singularidade que lhe dê uma aparência de transcendência, é impossível alcançá-lo. Isso se deve ao fato de que o mito se comunica através do símbolo, que é inacessível ao capitalismo devido à sua natureza “diabólica”.

Isso requer uma explicação. O capitalismo, especialmente em sua forma mais contemporânea como sociedade de mercado consumista, também conhecida como “capitalismo libidinal” (Fernández-Savater, 2024), aproveita amplamente um desejo perpetuamente insatisfeito, buscando definir, consagrar e reforçar sua própria condição mítica. Apresenta-se como a encarnação atual dos antigos heróis clássicos, especialmente impulsionado por todo tipo de pulsões prometeicas. Além disso, pretende incorporar e reinterpretar secularmente o paraíso terrestre bíblico como uma terra de abundância e felicidade. Aproveita diversos meios para tentar conseguir isso, como demonstram as grandes superproduções artísticas da indústria cultural, os parques temáticos, as narrativas midiáticas sobre avanços em conquistas, inovações, invenções, progresso científico e tecnológico, assim como no conhecimento dos segredos do macrocosmo e do microcosmo. A atenção é chamada escandalosamente com a exploração espacial, a descoberta de energias milagrosas, os desenvolvimentos disruptivos na economia da atenção, os algoritmos sofisticados, as possibilidades de consumo imediato sob demanda, de computação quântica, de criptomoedas, de ciberespaço, de robótica de última geração, de inteligência artificial. No entanto, apesar dos esforços do capitalismo para se constituir como um mito com tudo isso, trata-se de um falso mito, apenas de vistosos fogos de artifício, porque no final a desolação causada pelo capital avança, o colapso ecossocial se intensifica, a extinção da natureza se propaga, os danos para a humanidade proliferam e tudo isso não descreve um mito, mas sim seu aborto. O capitalismo mítico torna-se um impossível.

O mundo dos mitos autênticos recoloca as coisas em seu devido lugar: “O capitalismo libidinal é um monstro, um centauro em concreto, dividido entre uma pulsão de conservação, de estabilização, de normalização, e uma pulsão desvairada de conquista, de pilhagem e de saque. Um regime dual, a promessa e o veneno, a produtividade e a devastação, o bem-estar e a guerra, atravessando cada instituição e cada dispositivo, cada objeto de consumo e cada um de nós.” (Fernández-Savater, 2024:6-7).

Isso acontece porque o mito remete ao símbolo e o símbolo remete à união, ao que une, vincula, liga e cria. Enquanto o contrário do símbolo é o diabólico, ou seja, o que separa, o que divide, o contraditório, o destrutivo. Como assinala Marcet (2023), o mal só pode ser o antônimo do Símbolo. Para os cristãos antigos, assim como para os gregos clássicos, o Símbolo constituía a essência de seus mitos, poesia e religião, aquilo que vertebrava e religava tudo. Por esse motivo, se o Símbolo era o que unia de novo, o maligno tinha que ser necessariamente o que dividia e confrontava as pessoas. De fato, sublinha Marcet, as raízes gregas das palavras símbolo e diabo são iluminadoras. Símbolo vem de synballein (syn, «um»), que significa «lançar juntos, unir». Por outro lado, diaballein (dia, «dois»), proveniente do grego diábolos (διάβολος), significa «lançar separadamente, causar briga (dividir)». O oposto do símbolo, portanto, é o diabo: aquele que divide o «um» em «dois» e dá início ao conflito irresolúvel entre opostos. Do mesmo modo, o capitalismo não é apenas ambivalente, contraditório e conflituoso em suas pulsões, mas acaba sendo arrastado por aquelas de caráter mais perverso, que provocam mais divisão, desestruturação, fragmentação, caos e perdição. O capitalismo aspira a ser miticamente dionisíaco, afrodisíaco e paradisíaco, ou seja, o Jardim das Delícias, mas acaba sendo sordidamente catabólico, hiperbólico e diabólico, ou seja, Mordor. Exatamente o oposto do símbolo. Em resumo, a própria antítese do mito unificador do mundo que o capital pretende encarnar.

Como vimos, o capitalismo, em sua busca por expansão e crescimento ilimitados, sintoniza, traduz e atualiza a descomunal energia dos arquétipos, que através dos mitos, expressam a hybris e suas consequências. Em todos eles encontramos o motivo ou mitologema dos avisos divinos/naturais diante dos efeitos dos excessos da hybris, assim como o motivo ou mitologema do fato de ignorá-los deliberadamente. Desde os próprios inícios da Revolução Industrial capitalista, têm existido numerosos avisos sobre as nefastas consequências do desenvolvimento do sistema para a natureza e a humanidade. Mas, apesar disso, os responsáveis pela expansão capitalista têm feito e continuam fazendo uma escolha consciente da destruição (Riechmann, 2024).

Por isso, um capitalismo mítico é inviável, já que não pode ser construído sobre símbolos reais, ou seja, sobre construtos com a capacidade unificadora de representar algo que seja reconhecido, compreendido e assumido por um grupo ou uma coletividade. Se os mitos genuínos tendem a sincronizar as pessoas através de símbolos compartilhados, na medida em que são suscetíveis de compreensão universal devido ao seu caráter arquetípico, os falsos mitos, como o capitalismo que pretende se tornar mito, se erguem sobre a divisão, a desigualdade e a exclusão, sobre a própria negação do mito. E se traduzem algum arquétipo, é o do diabo, entendido como uma energia do inconsciente coletivo que é sinônimo de separação, incompreensão, desvio ou erro.

O capitalismo, apesar de sua promessa renovada e sempre traída de progresso, abundância e prosperidade, perpetua a exploração, a divisão e a infelicidade. Tanto sua incompetência mítico-simbólica quanto sua inevitável inclinação para o colapso se tornam visíveis nesse “apocalipse” que funciona como “revelação” de seus limites, como terrível convergência desses “pontos de inflexão escatológicos” (Horvat, 2021) que certificam o fracasso existencial do capital. Estando arquetipicamente ligado às configurações míticas da hybris, está condenado a enfrentar as consequências de seus excessos. A questão é se outros mitos poderosos, com seus símbolos autênticos, poderão evitar que o capitalismo arraste o mundo.

Bibliografia

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– Campbell, J. (2015): El poder del mito, Madrid, Capitán Swing.

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– Collins, C. (2018): “Catabolismo: el futuro aterrador del capitalismo”, CounterPunch, 1 noviembre 2018.

– Fernández-Savater, A. (2024): Capitalismo libidinal. Antropología neoliberal, políticas del deseo, derechización del malestar, Barcelona, Ned Ediciones.

– Fisher, M. (2016): Realismo capitalista. ¿No hay alternativa?, Buenos Aires, Caja Negra Editora.

– Fraser, N. (2023): Capitalismo caníbal. Qué hacer con este sistema que devora la democracia y el planeta, y hasta pone peligro su propia existencia, Buenos Aires, Siglo XXI.

– Gutiérrez, V. (2023): “Contra los mitos sostenedores del capitalismo fosilista. La subjetividad colectiva atrapada entre el metamito del progreso y el protomito del colapso”, Ekintza Zuzena, número 49.

– Hillman, J. (2010): Un terrible amor por la guerra, Madrid, Sexto Piso.

– Horvat, S. (2021): Després de l’apocal·lipsi, Barcelona, Arcàdia.

– Jappe, A. (2019): La sociedad autófaga. Capitalismo, desmesura y autodestrucción, Logroño, Pepitas de Calabaza.

– Jung, C.G. (2004): La dinámica de lo inconsciente, Madrid, Trotta.

– Jung, C.G. (2010): Arquetipos e inconsciente colectivo, Barcelona, Paidós.

– Kereny, C. (2009): Los héroes griegos, Vilaür, Atalanta.

– Marcet, I. (2023): La historia del futuro, Barcelona, Plaza y Janés.
– Riechmann, J. (2024): Ecologismo: pasado y presente (con un par de ideas sobre el futuro), Madrid, Los Libros de la Catarata.
– Varoufakis, Y. (2024): Tecnofeudalismo. El sigiloso sucesor del capitalismo, Barcelona, Deusto.

Fonte: Geoestrategia

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Gil-Manuel Hernàndez i Martí
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