No último final de semana estivemos reunidos 50 camaradas da Nova Resistência em São Paulo, para refletir sobre as condições objetivas da luta política patriótica no Brasil e definir as nossas diretrizes futuras. Para além de algumas decisões que ainda serão divulgadas no momento correto, vou pontuar algumas conclusões consensuais dentro da nossa organização.
A nossa impressão sobre a política nacional tem sido de que não há nada de positivo no horizonte nacional para os próximos anos. Não há nenhuma “virada nacionalista” espreitando na esquina, tampouco qualquer “despertar” prestes a entrar em erupção a partir do inconsciente coletivo nas massas. O cenário nacional é um deserto niilista em que a imbecilidade geral reduz tudo à falsa oposição entre direita liberal e esquerda liberal, sem nada específico que representa uma oposição fundamental à hegemonia liberal. O Brasil ainda vive uma longa “década perdida” (que já dura algumas décadas), onde cada pequena vitória em um campo é “compensada” por uma derrota em outro campo.
Não há elite, não há ideologia, não há horizonte, não há nem mesmo “povo brasileiro” em um sentido ontológico-existencial. E os mitos políticos vigentes não passam de deturpações liberais do messianismo sebastianista, lançados em choque um contra o outro para fomentar uma guerra civil. Para piorar, há uma forte tendência de que o Brasil possa se tornar cenário de perseguições políticas ainda mais intensas e draconianas nos próximos anos por causa das condições internacionais e da postura do Brasil na atual era geopolítica.
As condições internacionais em questão são as condições de uma disputa pela conformação futura da ordem mundial, em que se chocam uma visão unipolarista decadente e uma visão multipolarista ascendente. Os EUA decidiram apostar tudo no antagonismo contra as potências contra-hegemônicas, enquanto a Rússia e o Irã de forma direta, e a China e outros países de forma indireta, decidiram acelerar o colapso da ordem unipolar e preparar as condições para a construção de uma nova arquitetura internacional. O Brasil, nesse cenário, não é um ator. Ele não tem papel ativo. E isso porque ele é um deserto niilista, sem conteúdo ou direção. Mesmo o temperamento cultivado como o “ideal” nas relações internacionais brasileiras (a mornidão vacilante travestida de “pragmatismo”) é inadequado para a atual era de transição. O Brasil, portanto, decidiu ser palco, campo de batalha, agente passivo nas relações internacionais contemporâneas, não decidindo nada, não pautando nada.
Para piorar, as suas elites ainda pensam o mundo como se estes fossem os anos 90, com um “Estado-mercado” cosmopolita planetário como um horizonte inevitável, nos restando apenas discutir os detalhes do “processo civilizatório”. Entre todos os países não ocidentais, assim, o Brasil é um daqueles que menos proveito vai tirar da era atual. Especificamente no chamado “campo nacionalista”, “bolha nacionalista” ou o nome que for, o que vemos é o mesmo niilismo que encontramos em nosso país em outras áreas.
É impossível ter certeza sobre quais serão as posições político-ideológicas assumidas pelos outros amanhã, porque fora da Nova Resistência quase ninguém é guiado por uma filosofia clara, uma ideologia bem definida, uma doutrina específica; de modo que posições assumidas ano passado podem ser invertidas ano que vem com base em mudanças de humor, crises emocionais, problemas pessoais, etc. Tudo gira em torno do ego individual e suas transformações, o que é propriamente expressão também das doenças espirituais de nossa era, cuja expressão política mais recente é a transição de um ativismo centrado em movimentos organizados para um discurso pautado por influenciadores individuais em bolhas virtuais.
Tampouco existe qualquer consenso teórico, conceitual e principiológico suficiente para, por exemplo, se construir um “partido político” ou qualquer coisa semelhante. Os consensos existentes são triviais e dizem respeito a questões menores como “construir ferrovias” ou “investir na indústria nacional” – slogans genéricos que podem ser adotados por literalmente qualquer organização política, de qualquer ideologia, com qualquer conteúdo. A Nova Resistência se recusa a participar de qualquer projeto político-partidário que se paute apenas pelo menor denominador comum dessas bagatelas.
A nossa preocupação é consumida pelo lugar do Brasil na guerra eterna travada entre as forças da luz e as forças das trevas – um conflito que se expressa hoje nos debates sobre transumanismo, gênero, enraizamento, identidade, etc. As questões materiais são meios para esse fim ou expressões dos ajustes necessários para concretizar no Brasil o Estado Ideal. Nós, como portadores de uma tradição intelectual com décadas e décadas (até séculos!) de conceitos, princípios, definições, terminologias, etc., bem definidos, estamos simplesmente cansados de debater repetidamente sobre coisas que, para nós, são como ter que lidar com a pretensão de quem quer reinventar a roda ou redescobrir o fogo.
O provincianismo intelectual brasileiro, que é típico também na “bolha nacionalista” (e que nos anos 30-40, por exemplo, se debatia contra a introdução no Brasil da “moda estrangeira da geopolítica”), representa um atraso para qualquer projeto no qual estejamos interessados e queremos tomar distância total desse tipo de esforço inútil de debater conceitos e princípios que, para nós, estão fixos e possuem fundamentos lógicos cristalinos. Nos próximos meses vocês verão que decidimos deixar as coisas “seguirem seu curso” politicamente, focando precisamente naquilo que mais faz falta no Brasil: um esforço metapolítico fundamental, concretizado em cursos, seminários e publicações formais.
Ademais, a maior parte de nossa práxis estará voltada para questões culturais, filantrópicas, jornalísticas e comunitárias. No âmbito político-partidário, até podemos colaborar com pessoas de quaisquer partido, mas como técnicos e especialistas, auxiliando profissionalmente em troca de contrapartidas específicas. Mas no curto prazo e no plano macro, nacional, não é a militância política que, hoje, retificará os rumos do Brasil.