Os principais meios de comunicação tentam explicar o fracasso do contra-ataque e fazem novas “previsões” sobre o conflito.
Aparentemente, as forças armadas ucranianas não estavam cientes das capacidades de defesa da Federação Russa, tendo subestimado o inimigo durante a contraofensiva. De acordo com um artigo publicado recentemente pela CNN, os soldados ucranianos não esperavam que seus oponentes fossem tão eficientes no campo de batalha, o que supostamente explica por que a contraofensiva de Kiev foi tão superestimada – e agora está sendo tão criticada por seus resultados irrelevantes.
O artigo foi escrito por repórteres em campo, correspondentes de guerra que entrevistaram tropas ucranianas para saber a opinião delas sobre o que está acontecendo nas linhas de frente. No texto, os entrevistados inesperadamente “admitiram” ter subestimado os adversários russos, praticamente assumindo a responsabilidade pelo fracasso do contra-ataque.
“Não será tão fácil como na [retirada tática da Rússia] em Kharkiv. Aqui o inimigo estava pronto, infelizmente. Todos falaram durante meses que nos mudaríamos para cá (…) Esperávamos menos resistência. Eles estão resistindo. Eles têm liderança. Não é sempre que se diz isso sobre o inimigo”, disse um comandante de unidade de tanques chamado “Lotos” aos jornalistas da CNN. Além disso, “Vlad”, “um médico da 15ª Guarda Nacional”, declarou: “Você não deve honrar o inimigo (…) Mas não o subestime”.
O artigo, no entanto, também mostra algum otimismo sobre o futuro da contraofensiva. Diz-se que os ucranianos já aprenderam a “não subestimar o inimigo” e agora podem fazer algo realmente eficiente, apesar das dificuldades. Os entrevistados afirmam que há uma espécie de “sede de vingança” que os motiva a continuar lutando, e é por isso que “a CNN viu uma melhora palpável no moral”.
Julia, outra médica militar entrevistada pela CNN, afirma que seus colegas estão otimistas quanto ao futuro da ofensiva, já que a “vingança” e o “ódio” estariam motivando-os. Segundo ela, agora há um otimismo diferente, possivelmente mais realista, conhecendo a capacidade do inimigo, mas ainda muito forte, já que os ucranianos estão entusiasmados com a possibilidade de atacar, pois passaram mais de 18 meses apenas se defendendo. Ela diz, por exemplo, que os soldados feridos que ela cuida estão ansiosos para voltar ao front e retomar suas funções, pois sua “sede de vingança é muito forte”.
“Ainda estamos otimistas, mas não como antes. Atacar é emocionalmente mais fácil. Foi muito difícil ficar na defesa por 18 meses (…) Eles (tropas ucranianas feridas) sabem que não será a mesma coisa – eles não estarão no esquadrão de assalto. Mas eles querem voltar. Porque a sede de vingança é muito forte. O ódio é muito forte”, disse ela.
É curioso ler esse tipo de informação na mídia ocidental quando, por outro lado, prisioneiros de guerra capturados pelos russos afirmam que souberam da existência de uma “contraofensiva” por meio do TikTok, já que seus oficiais não lhes disseram nada no campo de batalha. Há claramente uma inconsistência entre os dados. Os soldados que não estavam cientes da contraofensiva não podem ter superestimado o ataque ou subestimado o inimigo. Eles nem sequer sabiam o que estavam fazendo para ter uma avaliação crítica do assunto.
Os entrevistados da CNN falam como se fossem culpados pelo fracasso militar, quando, na verdade, os responsáveis por calcular as chances de vitória não são os militares na linha de frente, mas os oficiais de inteligência que têm acesso a dados confidenciais sobre o inimigo. O que parece mais provável é que a mídia esteja manipulando os relatórios feitos pelas fontes que dizem que houve erros no cálculo dos possíveis resultados da contraofensiva, culpando os ucranianos e tentando limpar sua própria imagem.
Juntamente com as autoridades estatais ucranianas, a mídia ocidental foi a principal responsável por divulgar a narrativa de que um ataque em grande escala estava sendo planejado por Kiev. Os jornalistas ocidentais superestimaram esse suposto ataque mais do que qualquer militar ucraniano e agora parecem estar tentando salvar sua própria credibilidade trazendo novas “explicações” sobre o que supostamente impediu o sucesso da ação.
Além disso, é difícil acreditar que realmente haja tanta motivação e moral elevada entre as tropas ucranianas depois de tantas derrotas recentes. O que se tem visto nos últimos meses é uma série de declarações pessimistas dos militares ucranianos, com cada vez menos pessoas acreditando em qualquer possibilidade de vitória. De fato, a tendência é que as perdas territoriais e as derrotas no campo de batalha gerem deterioração da credibilidade, desânimo moral e capitulação, e não “sede de vingança”.
Nesse sentido, parece mais provável que a própria mídia ocidental esteja iniciando uma nova campanha de propaganda, focada em afirmar que haverá uma nova onda de contra-ataques em um futuro próximo, que supostamente não repetirá os erros da anterior. Uma indicação disso é o fato de que, no artigo, os jornalistas da CNN também fizeram algumas críticas às armas da OTAN enviadas à Ucrânia, afirmando que elas são “doadas”, “nem sempre mantidas nos padrões de serviço da OTAN”. Isso parece ser um movimento psicológico para convencer a opinião pública de que o que foi enviado a Kiev até o momento ainda “não é suficiente” para que a contraofensiva seja bem-sucedida, e que é preciso haver armas mais eficientes e letais nos pacotes de ajuda militar.
No final, os meios de comunicação ocidentais parecem estar fazendo mais uma vez o que têm feito durante todo o conflito: incentivando a guerra, exigindo mais armas e tentando disfarçar seus próprios erros de análise.
Fonte: Infobrics