Forças kosovares nas Malvinas: ferramentas da ‘Bretanha global’

O presente artigo aborda a importância geo-estratégica e geopolítica das Ilhas Malvinas e do Atlântico Sul para a Grã-Bretanha como potência internacional que disputa a hegemonia diante da transformação para um mundo multipolar.

Em 23 de novembro, foi ratificado acordo entre o Ministério da Defesa do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e o Ministério da Defesa, em nome do Governo da República de Kosovo, para o envio de pessoal das Forças de Segurança do Kosovo (KSF) para as Ilhas Malvinas (Falkland), para a Roulement Infantry Company.

A proposta/decisão, apresentada e explicada na Assembléia pelo Primeiro Ministro kosovar, Albin Kurti, foi aprovada na “109ª reunião do Governo de Kosovo”, sob a Decisão No.08,/109. Após a apresentação do relatório, com as recomendações do Comitê de Segurança e Defesa, a Assembléia decidiu, com 77 votos a favor, enviar a missão KSF ao exterior.

Nesse caminho, com o aval britânico, Kosovo enviará um contingente da KSF para as Ilhas Malvinas sob o selo de “operação de apoio à paz”. De acordo com a declaração emitida na “110ª reunião do governo kosovar”, “a missão KSF apoiará a paz nas Ilhas Malvinas e estará sujeita ao acordo assinado com o Reino Unido”. Até 7 membros da KSF serão enviados para esta missão e que pode durar até três anos com a possibilidade de prorrogação. A KSF estará sob o comando das Forças Armadas do país anfitrião e será financeiramente coberta pelo Orçamento da República de Kosovo”.

Esta decisão ocorre num contexto de tensões crescentes com a Sérvia; um aprofundamento da militarização da OTAN em Kosovo e na Europa; a tentativa de adesão de Kosovo à UE; o avanço dos interesses britânicos sob seu projeto “Global Britain” tanto na Europa Oriental quanto no Atlântico Sul; 57 anos após a adoção da resolução 2065 (XX) da Assembléia Geral da ONU; e a busca desesperada do atlantismo ocidental para hegemonizar e subjugar toda a Europa e cortar qualquer caminho possível das relações entre Rússia/China e a Europa. Sobre este último ponto, os Balcãs Ocidentais e a Sérvia em particular, são extremamente importantes.

Mas o ponto mais importante que trataremos neste artigo é a importância geo-estratégica e geopolítica das Ilhas Malvinas e do Atlântico Sul para a Grã-Bretanha como potência internacional que disputa a hegemonia diante da transformação para um mundo multipolar.

A reação argentina

O Ministério das Relações Exteriores da Argentina emitiu uma declaração em 1º de dezembro, onde “rejeita em absoluto a intenção de enviar novas tropas militares para as Ilhas Malvinas, um território argentino ocupado ilegalmente pelo Reino Unido. Este envio constitui uma demonstração injustificada de força e uma saída deliberada dos apelos de numerosas resoluções internacionais da Assembléia Geral das Nações Unidas e outros fóruns internacionais que instam tanto a Argentina quanto o Reino Unido a retomar as negociações, a fim de encontrar uma solução pacífica e definitiva para a disputa de soberania que envolve ambos os países na Questão das Ilhas Malvinas”.

Especificamente, a Argentina “rejeita o suposto caráter de uma ‘missão de paz’ que se pretende dar à atividade militar” já que “é totalmente injustificada” e mostra a intenção britânica de militarizar o Atlântico Sul.

Na declaração, a Argentina explica que “o envio das “Forças de Segurança” kosovares ao Atlântico Sul contraria especificamente a resolução 31/49 da Assembléia Geral das Nações Unidas que insta ambas as partes (Argentina e Reino Unido) a se absterem de adotar decisões unilaterais que impliquem na introdução de mudanças na situação enquanto as Ilhas passam pelo processo de negociação recomendado pela mesma Assembléia”.

Além disso, “esta nova presença militar no Atlântico Sul também contradiz a resolução 41/11 (Zona de Paz e Cooperação no Atlântico Sul) da Assembléia Geral que, entre outras disposições, insta os Estados de todas as outras regiões, especialmente os Estados de importância militar, a respeitarem escrupulosamente a região do Atlântico Sul como zona de paz e cooperação, particularmente através da redução e eventual eliminação de sua presença militar nesta região”.

Facundo Rodriguez, advogado de direito internacional, mestre em relações internacionais e professor, lembra que o Reino Unido também estaria violando a resolução 2621 (XXV) da Assembléia Geral da ONU que “insta todos os Estados a condenarem e se oporem às atividades e arranjos militares das potências coloniais, já que constituem um obstáculo ao processo de descolonização”.

A Argentina, junto com 60% dos países que compõem a ONU, não reconhece a declaração de independência do Parlamento do Kosovo em fevereiro de 2008. O não reconhecimento de Kosovo pelo país de Nossa América é explicado pela importância que este país dá à resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU de 1999, que destaca o princípio da integridade territorial e a solução de disputas através de um acordo negociado e mutuamente aceito pelas partes envolvidas, princípios que são relevantes para a questão das Ilhas Malvinas.

Em verde: Países que reconhecem o Kosovo como um Estado. Em cinza: países que não reconhecem o Kosovo como um Estado independente. Em vermelho: países que reconheceram anteriormente a independência do Kosovo, mas recuaram dessa decisão mais tarde.

Além disso, de acordo com outra declaração emitida em 8 de dezembro (não mais disponível no site oficial do Ministério das Relações Exteriores), a Argentina convocou em 6 de dezembro a Embaixadora do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte em Buenos Aires, Kirsty Hayes, para transmitir a rejeição do governo argentino de introduzir novos atores militares nas Ilhas Malvinas e o protesto contra o abandono dos apelos de numerosas resoluções da Assembléia Geral das Nações Unidas e de outros fóruns internacionais.

A Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe (CELAC) também rejeitou o acordo entre o Reino Unido e Kosovo para enviar membros da Força de Segurança de Kosovo para as Malvinas, chamando-a de “provocação injustificada”.

A nova tentativa de militarização britânica das Ilhas Malvinas, violando os acordos e resoluções das Nações Unidas, é realizada 57 anos após a adoção da resolução 2065 (XX), a primeira referida exclusivamente à Questão Malvinas, na qual é reconhecida a existência de uma disputa de soberania entre a Argentina e o Reino Unido e ambos os países são convidados a negociar para encontrar uma solução pacífica para a controvérsia.

A Resolução 2065 (XX) é estabelecida cinco anos após a Resolução 1514 (XV) sobre a “Declaração sobre a concessão da independência aos países e povos coloniais” que estabelece “a necessidade de pôr fim, rápida e incondicionalmente, ao colonialismo em todas as suas formas e manifestações”. Por esta razão, entre os principais elementos da Resolução 2065 (XX), estabelece-se que o caso das Ilhas Malvinas é uma das formas de colonialismo que devem ser eliminadas.

É impressionante que um membro da “comunidade democrática ocidental”, paladina da ordem baseada em normas e valores, é aquele que viola e faz vista grossa às resoluções da organização internacional das Nações Unidas.

A reação sérvia

O Ministério das Relações Exteriores da República da Sérvia também “protestou” contra o acordo. Eles se manifestaram “surpresos” de que “tal passo vem de um membro permanente do Conselho de Segurança que, como é conhecido, é o mais alto órgão da ONU encarregado de preservar a paz e a segurança internacional”.

Além disso, o país dos Balcãs adverte a comunidade internacional que a decisão kosovar apoiada por outros países alimenta o processo de militarização das “Forças de Segurança de Kosovo” com o objetivo de alcançar as capacidades operacionais ofensivas das forças acima mencionadas no sentido militar.

Finalmente, a Sérvia também protesta contra a violação e contradição da Resolução 1244 (1999) do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre Kosovo e Metóquia, bem como das resoluções relevantes da Assembléia Geral das Nações Unidas relativas à resolução pacífica da disputa das Ilhas Malvinas.

Kosovo e OTAN

Em um artigo anterior, analisamos alguns pontos essenciais dos processos históricos da Sérvia e de Kosovo, e dos principais atores envolvidos, para entender as tensões atuais entre os dois. A PIA Global conversou com Guillermo Caviasca, que fez um tour exaustivo dos processos, que convido os leitores a ler.

Aqui vamos nos concentrar no papel dos atores internacionais envolvidos, especialmente a OTAN. Dois dias depois que o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a resolução 1244 em 1999 após o fim da guerra, a OTAN entrou no território kosovar sob o selo da KFOR (Força de Kosovo) com o objetivo de “manter a ordem e a segurança em Kosovo e assegurar os pontos acordados no acordo de paz e prestar assistência ao programa da missão da ONU em Kosovo (UNMIK)”.

“Embora pareça algo muito pequeno, a ocupação de Kosovo, a instalação de um protetorado da OTAN naquela área que manteria disciplinado um ator indisciplinado na estratégia ocidental como a Sérvia, tinha o objetivo de eliminar qualquer possibilidade de desenvolvimento de atores independentes em relação ao que era o antigo espaço russo, o antigo espaço soviético ou seus aliados”, explicou Caviasca.

Desde então, Kosovo desenvolveu um forte interesse na OTAN a ponto de, entre os principais objetivos do governo kosovar estarem a integração euro-atlântica, a adesão à ONU e à OTAN, e a construção de um exército moderno baseado no modelo da OTAN. Eles participaram inclusive de missões com membros da OTAN, como no ano passado, quando as Forças de Segurança de Kosovo serviram no Kuwait ao lado das forças armadas dos EUA.

Além disso, explica o analista político internacional Pablo Jofré Leal: “Kosovo sedia o Campo Militar Bondsteel, uma das maiores e mais caras bases militares construídas pelos Estados Unidos. A realidade da construção do Campo de Bondsteel não é exclusivamente sobre o Kosovo e a OTAN. Há interesses geoestratégicos relacionados aos Bálcãs, à Ásia Ocidental e à fronteira ocidental da Rússia. Lembremos que a base está localizada em uma área sem abastecimento de aviões que se dirigem para a Ásia Ocidental, o Cáucaso e a Rússia. Desta forma, oleodutos vitais e corredores de energia podem ser controlados, como o oleoduto Transbalkan, onde multinacionais norte-americanas como a Halliburton têm presença e interesses”.

O último evento significativo — e não ocasional — relativo à intervenção da OTAN em Kosovo ocorreu há alguns dias, quando a Aliança Atlântica anunciou que realizaria exercícios militares perto de sua base em Novo Selo. Isto não é coincidência porque esta ação foi decidida justamente quando as tensões entre a Sérvia e Kosovo que analisaremos a seguir foram desencadeadas.

Tensão crescente entre Sérvia e Kosovo

As tensões entre a Sérvia e o Kosovo persistem há anos e sua intensidade tem variado ao longo do tempo. Confrontos se desenvolveram, mas também negociações e acordos com países e instituições externas como mediadores.

Desde o ano passado, e especialmente na metade deste ano, as tensões aumentaram depois que as autoridades de Pristina anunciaram que proibiriam o uso de placas (placas ou patentes de veículos) e documentos sérvios em território kosovar. Estas tensões foram momentaneamente apaziguadas após uma série de consultas de Pristina com os embaixadores da UE e dos EUA. Entretanto, nas últimas semanas, a situação se agravou seriamente.

Em meados de dezembro, funcionários de etnia albanesa que apoiam Pristina capturaram o maior município sérvio do norte de Kosovo. Como relatado pela RT, os funcionários sérvios que se demitiram em protesto no mês passado foram substituídos por um novo conselho municipal do norte de Mitrovica, que prestaram juramento acompanhados por uma guarda policial armada. Além disso, as forças da KFOR estavam do lado de fora do edifício.

Este evento ocorreu exatamente no mesmo dia em que o governo de Kosovo decidiu solicitar a adesão à UE, embora Chipre, Grécia, Romênia, Eslováquia e Espanha ainda não reconheçam a independência de Kosovo.

Da Sérvia, eles argumentaram que a medida de formar um novo Conselho é equivalente à limpeza étnica. O comissário sérvio do governo de Kosovo, Petar Petkovic, disse que a medida constitui “uma violação de todos os acordos, incluindo as próprias leis de Pristina. Ninguém elegeu ou votou a favor dos novos membros do Conselho”.

O governo sérvio decidiu enviar um pedido à KFOR para destacar até 1.000 soldados e policiais sérvios para a região do conflito, em conformidade com a resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU. Esta resolução permite que Belgrado envie seu pessoal militar e policial para o Kosovo em certas situações.

E embora seja uma obrigação para a KFOR, o presidente sérvio sabe antecipadamente que o pedido será rejeitado, portanto ele “não tem ilusões”. O enviado especial dos EUA para Kosovo, Gabriel Escobar, disse que Washington “categoricamente” se opõe ao retorno de algumas forças de segurança sérvias à província, citando também a Resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU.

Para Caviasca, a OTAN e os EUA utilizam formas de guerra como “escalada de conflitos que nunca foram resolvidos, como o conflito em Kosovo; criação de algumas novas escaladas entre o Azerbaijão e a Armênia; conflitos que podem ocorrer em diferentes lugares; a última provocação dos EUA em Taiwan; a aliança AUKUS e a tentativa de cercar e conter estrategicamente a China para impedir que ela saia do Mar Interior chinês; e nos Bálcãs algo semelhante”.

De fato, no relatório britânico Bretanha Global em uma era competitiva: a revisão integrada de Segurança, Defesa, Desenvolvimento e Política Externa, está explícito que, como haverá um “aumento do conflito e da instabilidade impulsionados pela competição sistêmica, as potências externas provavelmente continuarão envolvidas em conflitos nacionais e regionais, influenciando seu curso em seu próprio benefício. Isto aumentará o risco de uma escalada dos conflitos”.

Embora a decisão dos poderes de treinar forças dos países aliados ou parceiros levando-as para seus territórios não seja nova, as decisões relativas aos atores e territórios escolhidos não são acidentais.

O ponto em comum entre Kosovo e Argentina, nesta situação, é o Reino Unido. Kosovo está interessado em fazer parte de qualquer plataforma, acordo ou projeto ditado pelo bloco anglo-saxão do Ocidente (EUA/Reino Unido /NATO), especialmente quando se trata de treinamento militar e reconhecimento internacional como um país independente.

É do interesse do Reino Unido ter relações estreitas e uma presença em Kosovo, pois o país é um protetorado da OTAN geopoliticamente posicionado como uma ponte entre a Ásia e a Europa Ocidental, pronto para ser usado como uma ferramenta de desestabilização.

Mas o Reino Unido também está interessado em consolidar sua presença no Atlântico Sul. É fundamental entender este ponto como parte do contexto internacional da disputa sobre a reconfiguração do sistema de ordem mundial, onde há um claro declínio do bloco anglo-saxão ocidental como líderes do unipolarismo contra o avanço do bloco multipolar liderado pela Rússia e pela China.

Para aprofundar esta análise, a PIA Global conversou com Guillermo Caviasca e Julián Bilmes.

Em seu trabalho intitulado Malvinas versus Brexit e a disputa geopolítica global: ameaças e oportunidades para a reivindicação argentina, Bilmes explicou que “as ilhas e espaços marítimos do Atlântico Sudoeste e da Antártida não são alheios a este processo, dada sua grande relevância geoestratégica, em termos econômicos, geopolíticos e militares”. Para Caviasca, “a Inglaterra, como um dos principais atores da ordem mundial, não abrirá mão de parte de seus locais-chave que lhe permitem se posicionar como uma potência no mundo, como o Atlântico Sul”.

“O que é central para as reivindicações nacionalistas britânicas é sua própria projeção de poder a fim de revigorar suas exportações, complexos militar-industriais e científico-tecnológicos em outros territórios, para preservar seu papel como “ator global” diante da transição geopolítica deste século XXI, apontando para suas esferas históricas de influência. Esse é o papel essencial dos 14 territórios britânicos ultramarinos, as dependências da Coroa Britânica e da Commonwealth of Nations”, explicou Bilmes.

Para Bilmes, a decisão da Inglaterra sobre a militarização na região do Atlântico Sul é fundamental, mas não é nova, já que este progresso vem acontecendo constantemente há vários anos. O especialista destaca a posição das Malvinas como um enclave colonial militar imperial onde podemos encontrar o Complexo Militar de Monte Pleasant (Monte Agradable em espanhol argentino) e a Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos, responsável por todas as operações no Caribe, América Central e América do Sul.

Como detalhado do Centro de Estudos da Integração Latino-Americana Manuel Ugarte, “o complexo de bases militares britânicas no Monte Pleasant (Monte Agradable na toponímia argentina) é o centro militar mais importante de toda a América Ibérica e integra o dispositivo de segurança global criado pela OTAN, o que mostra a relevância estratégica que os britânicos e seus aliados dão ao Atlântico Sul”.

Possui uma base naval, uma base aérea e uma base de lançamento de mísseis, além do centro de comunicações e monitoramento. Com “2.500 soldados e quase 400 civis, forma uma série ou ‘colar de pérolas’ com as bases de Ascensión, Tristán da Cunha e Santa Helena, que junto com a base Diego García no Oceano Índico atuam como um tripé de controle militar para a dupla confluência oceânica Índico-Atlântico e Atlântico-Pacífico”.

Segundo Caviasca, embora seja surpreendente que se trate de Kosovo, a intenção do Reino Unido não deve surpreender, pois mais uma vez “eles procuram demonstrar que têm controle sobre o território, que exercem a soberania”. Não devemos nos surpreender de forma alguma com a presença de forças de um enclave de treinamento da OTAN nas Malvinas”.

Caviasca explica que para os britânicos, “as Malvinas são, em aspectos estritamente técnicos, um território amplo e seguro onde o treinamento militar pode ser realizado. São grandes ilhas com um espaço marítimo e aéreo muito importante que ninguém contesta em termos reais”. Na verdade, Malvinas tem sido usada repetidamente para aclimatar as tropas antes de enviá-las a outros cenários de combate.

“Os ingleses não param de progredir na consolidação de sua presença nas Malvinas”

O Centro Manuel Ugarte mostra em detalhes no mapa a seguir como “desde 1982, a Grã-Bretanha continua a expandir arbitrariamente e unilateralmente a área usurpada (…) explorando seus recursos pesqueiros e de hidrocarbonetos”.

Em entrevista à PIA Global e United World International, o Secretário de Estado para as Malvinas, Antártica e Atlântico Sul, Guillermo Carmona, confirmou que “os arquivos que se tornaram públicos pelo Reino Unido mostram que, durante a Guerra das Malvinas, Londres decidiu implantar armas nucleares nas ilhas”.

“Existem 31 bombas de profundidade com carga nuclear equivalente, cujo poder destrutivo é igual a 15 vezes ou mais do que o da bomba de Hiroshima”, disse o oficial.

Ele também deixou claro que atualmente “o Reino Unido continua a militarizar parte do território argentino” e que “com a “Bretanha Global” o Reino Unido tenta reviver as tradições imperialistas” fingindo “desempenhar um papel na manutenção do colonialismo, no que territórios ultramarinos são um dos elementos-chave”.

Além da importância do potencial geoestratégico militar das Ilhas Malvinas e da região do Atlântico Sul, é também “uma imensa região na qual as Malvinas atuam como um “pivô” entre vastos espaços marítimos, insulares e continentais, ricos em recursos pesqueiros e hidrocarbonetos e outros recursos estratégicos”, explicam a partir do Centro Manuel Ugarte.

“Pensar as Malvinas a partir desta perspectiva nos permite dar conta da encruzilhada geopolítica pela qual passa a região mais austral da América do Sul num contexto de esgotamento das reservas em escala planetária”. Ela nos permite compreender as razões estruturais pelas quais uma potência mundial está disposta a defender os vestígios de seu domínio colonial “perecido”.

Outro ponto-chave destacado pelo Centro é a localização geográfica das Ilhas Malvinas, que “está próxima a espaços cobiçados pelas potências hegemônicas mundiais, particularmente o Estreito de Magalhães”, que funciona como um corredor interoceânico entre o Atlântico e o Pacifico. A atual importância geoestratégica do Estreito de Magalhães é enfatizada dada a possibilidade de “um eventual fechamento do Canal do Panamá, num contexto de crescente conflito entre os EUA e o bloco China-Rússia”, deixando-o como única opção para um corredor bi-oceânico.

Também se destaca “a proximidade da chamada confluência antártica”, que confere à região “uma notável riqueza bio-geográfica, potencial de piscicultura, com águas ricas em nutrientes e ecologicamente muito produtivas”. Além disso, as Ilhas Malvinas estão muito próximas do continente antártico que, segundo o Centro, “abriga cerca de 80% da água doce do planeta e concentra reservas de carvão, petróleo, ferro e outros minerais”.

Quais são as intenções pelas quais o Reino Unido escolhe as Malvinas como um território de treinamento militar para os kosovares? Caviasca responde: “A Inglaterra vem avançando com uma política muito coerente (desde antes da guerra, para tentar evitar o cumprimento das diferentes resoluções, especificamente dos Acordos de Madri de 1989/90) para avançar na consolidação de sua presença no Atlântico Sul. Ela o fez e o faz, não para de avançar”.

“A decisão de trazer forças de “outros Estados” (entre aspas porque o Kosovo não é reconhecido como Estado independente) é uma chance para os britânicos mostrarem que têm controle do território, que exercem soberania sobre o território, mesmo que não seja reconhecido, eles realmente o fazem”. Eles mostram que nós (Argentina) não podemos fazer nada para evitá-lo”, declarou Caviasca.

O analista explicou que a Argentina reduziu a capacidade de ação à declarações diplomáticas, que renunciou explicitamente ao uso da força, mesmo hipoteticamente ou simbolicamente, e não pode sequer expressar qualquer tipo de retaliação econômica significativa contra o Reino Unido.

“Nós (Argentina), com as decisões políticas que temos tomado, mostramos ao mundo uma contradição muito grande entre o que dizemos, o que pensamos e o que fazemos”. Dizemos que queremos consolidar nossa soberania no Atlântico Sul, torná-la efetiva, mas tanto econômica quanto militarmente agimos contra ela. Essa decisão argentina deve nos preocupar. Deve nos assustar ainda mais que a Argentina não possa ter sua própria indústria pesqueira, que não tenha aviões de combate sérios capazes de voar para implicar um tipo de desafio hipotético para a presença britânica na região. Se não tivermos isso, pequenos pedaços de papel no Ministério das Relações Exteriores não vão nos levar a lugar algum”, concluiu o analista.

Fonte: Geostrategy.rs
Tradução: Augusto Fleck

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Micaela Constantini

Comunicadora social e jornalista. Membro da equipe de pesquisa da PIA Global.

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