Para Amorim, as prioridades são a “governança global” para o combate às pandemias, mudanças climáticas e outros “desafios globais”.
O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, cotado para o cargo no novo governo Lula, deu uma entrevista recente aos veículos oficiais do Grupo Puebla. Esta entrevista expõe bem os problemas da linha geopolítica petista para o Brasil, bem como ajuda a esclarecer o motivo dela não ser de nosso interesse.
De início, necessário comentar, o Grupo Puebla é o principal laboratório de ideias e fórum de articulação da esquerda liberal-progressista ibero-americana. Entre suas lideranças estão representantes do PT, do governo de Petro, do governo de Boric, além de personagens análogos de vários outros países. Entre os representantes da Espanha está Irene Montero, defensora da pedofilia. Evo Morales e Rafael Correa, respectivamente lideranças boliviana e equatoriana, fazem parte mais provavelmente como gaiatos, para dar credibilidade “anti-imperialista” e enganar os esquerdistas trouxas. Um sinal, porém, de que esse fórum é suspeito é que não há representante do PSUV nele. Há algum tempo o México de López-Obrador também se recusou a participar.
Quanto à posição de Celso Amorim, ele deixa claro que o Brasil e a América Latina não devem escolher entre OTAN e Eixo da Resistência. Segundo ele, essa divisão é perigosa e o Brasil deve ficar o mais longe possível dela. A integração regional que o Brasil deveria liderar na América Latina trata-se mais de um multilateralismo (ou um multipolarismo soft) do que da construção de uma ordem multipolar de pleno direito. A prioridade, para Amorim, é a governança global para o combate às pandemias, mudanças climáticas e outros “desafios globais”. Nesse sentido, ele insiste que é absurdo que países tenham direito a veto no Conselho de Segurança. Vamos recordar que, particularmente, Rússia e China têm usado o direito de veto nos últimos anos para evitar atrocidades “sugeridas” pelos EUA e seus aliados, incluindo a condenação do Brasil pela questão da Amazônia.
Na entrevista, Celso também expressa uma grande preferência pelo Partido Democrata, com elogios a Barack Obama e também “surpresa” pela maneira enfática com que os EUA “defenderam” o processo eleitoral brasileiro.
De modo geral, deve-se respeitar Celso Amorim por sua inteligência e respeitabilidade. Mas nós, que defendemos uma multipolaridade estrita, com enfraquecimento da maioria das instituições globais, maior ênfase em cooperações bilaterais, integração regional de base mais civilizacional que econômica, bem como soluções nacionais para os problemas globais, precisamos tomar, sim, lado contra a OTAN e por um afastamento claro em relação aos EUA.