200 anos da Independência, uma guerra sagrada pela liberdade que se repete e renova, até hoje. Além da memória que nos cabe do processo independentista do século XIX, é preciso rememorar os heróis da Pátria que lutaram, ao longo de todos os séculos de formação territorial e civilizacional brasileira, pela sua Independência política, social e espiritual. VIVA OS HERÓIS DA ETERNA INDEPENDÊNCIA!
Estimados compatriotas brasileiros e íbero-americanos,
Chegamos, com imensa alegria e expectativa, mas não sem desassossego, ao Bicentenário da Independência do Brasil. Este evento, que não deve ser meramente entendido como uma celebração calendarista protocolar, nos chega diante de um cenário ao mesmo tempo profundamente simbólico em seu número quanto inquietante pelo estágio de nosso desenvolvimento nacional, como povo, como Estado, como personagem do grande cenário e tabuleiro geopolítico do futuro que se avizinha, em desafio e potência.
A Independência que hoje lembramos e celebramos é um momento histórico especial, predestinado e inaugurado desde muito antes de sua oficialização, e que tampouco se encerra no tempo colonial. A Independência é um aspecto da essência e do devir, um momento eterno, sagrado, que deve ser relembrado e revivificado, completado apenas na realização final de nosso destino comum. Até que a hora derradeira chegue e a Nova Roma esteja construída, vivificada no ouro celestial de nossa tradição, a Independência é um processo. O evento de nossa civilização propriamente dito.
Assim, é mister que recordemos dos duzentos anos da proclamação da Independência, assim como do simbolismo — muito acima de qualquer “desconstrução” e “desmistificação” — das palavras Independência ou morte, do processo inacabado de construção desse Brasil sonhado e, sem dúvida, dos heróis que ajudaram a construir o caminho para esse sonho. Sonho que nós da Nova Resistência e todos os verdadeiros nacionalistas, patriotas desse país, traremos ao mundo; com nosso esforço, nosso suor, nosso sangue e, se necessário, nossas vidas.
Em homenagem aos duzentos anos de nossa Independência formal e dessa luta contínua, lembramos de alguns dos inestimáveis heróis da independência em todos os seus âmbitos, formal, histórico e espiritual.
1 – OS HERÓIS DE GUARARAPES
A luta pela Independência do Brasil encontrará seu primeiro traço nos primeiros momentos de afirmação territorial e civilizacional no processo de colonização. Em Guararapes, diante do piratismo protocapitalista da Companhia das Índias Ocidentais, há o primeiro passo na formação de um novo destino independente, que prefigura a luta pela eterna independência de um povo honrado e mítico. Com Guararapes, podemos finalmente dizer que existe um povo brasileiro, formado a partir das comunidades étnicas que habitavam o território brasileiro, finalmente autocompreendidas como algo diferente do português em sentido estrito. É o início da Independência, a sua primeira hierofania.
2 – RAPOSO TAVARES E OS BANDEIRANTES
Não existe figura da história nacional mais aviltada e deturpada que a do bandeirante. Se analisarmos os seus feitos sem o peso do moralismo progressista, os bandeirantes, de fato, são dignos de mitos e epopeias. Como amostra da grandeza citada, há o feito titânico de Raposo Tavares: uma marcha a pé, atravessando o continente, em que seguiram milhares, mas retornaram poucos. “Se pensássemos em mitos, como os gregos, e sublimássemos o passado, com pequeno esforço de imaginação poderíamos concretizar ao redor do nome desse bandeirante mais uma variante da Odisseia”. O que parece “apenas” uma jornada de conquista, é a formação de um modelo mítico, a cristalização heróica daquele primeiro passo formador, ainda pouco configurado. Os bandeirantes espalharam pelo continente a semente do Brasil que viria a ser e ainda se forma, e sem eles, não haveria o que defender e libertar.
3 – JOÃO VI
Outra figura injustiçada pelo tempo e por historiadores mal-intencionados. João VI é quem efetivamente retira o Brasil de um status de colônia e inicia processos essenciais para a formação do Estado brasileiro. Como nos mostra Aldo Rebelo: “criou a faculdade de medicina, a escola de engenharia, o Jardim Botânico, deu ao País a infraestrutura de sede de um império colonial. Abriu os portos do País à navegação internacional e editou uma lei de propriedade intelectual para estimular as invenções. Foram muitas as medidas adotadas por Dom João VI que mudaram completamente o papel, o perfil e o destino do Brasil.” Foi ele ainda que, antes de deixar seu legado nas mãos do Imperador Dom Pedro I, efetivamente agiu para evitar uma balcanização de nosso território. Se ele não marcou a nossa Independência de forma oficial, certamente a prefigurava como caminho inevitável e verdadeiro, assim merecendo um espaço inegável no rol de heróis da Independência.
4 – JOSÉ BONIFÁCIO
Se outros são prefiguradores míticos da Independência de uma civilização em ascensão, José Bonifácio é, ao seu modo, um profeta. Acadêmico, administrador, militar e diplomata, o Patriarca da Independência foi essencial articulador do Império vindouro. Republicano no coração, sua visão foi mais longe ao contemplar os perigos que um movimento daquele tipo teria sobre nosso território, os inúmeros interesses presentes e os exemplos de esfacelamento político das Américas espanholas. Bonifácio vislumbrou, acima de qualquer ideologia política particular, um Brasil unido, integral. Nossa Independência é marcada também, nunca nos esqueçamos, pela capacidade de conceber nossa unidade na multiplicidade, característica mui presente na vida e na obra deste herói da integridade territorial brasileira.
5 – PEDRO I
Apoiado no caminho delineado por Bonifácio, alinhando acordos improváveis com diversos grupos de interesse, incluindo republicanos radicais, Dom Pedro I teve a maestria necessária de um monarca para costurar uma transição e nossa Independência de forma oficial. Sua energia, sua liderança e o espírito guiado pela essência presente no tão debatido grito de Independência ou morte foram uma demonstração cabal do espírito movente de nossa nação na direção de sua glória vindoura. Neste ano tão importante para relembrar seus feitos políticos e militares, o coração de nosso Imperador retornou ao solo brasileiro, e aqui nos vivifica novamente com a força necessária para retomar nosso caminho pela Eterna Independência.
6 – PEDRO II
O precoce imperador, deixado com o grandioso legado de seu pai e a missão de sustentar um Brasil imerso em conflitos armados que ameaçavam o processo de Independência e a jogar o Brasil na balcanização que José Bonifácio já anteverava. Impediu a abertura do Rio Amazonas e sua transformação em posto de ocupação estrangeira e foi o líder que o Brasil genuinamente precisava diante da sangrenta Guerra do Paraguai. Pacifista por natureza, levou o conflito às últimas consequências. Quando pensamos no bicentenário da Independência proclamada por Pedro I, não podemos deixar de afirmar que foram os esforços de seu filho, Pedro II, que solidificaram o processo iniciado pelo primeiro imperador. Seus feitos andam lado a lado e marcam a inauguração de nossa amada Pátria em seu verdadeiro e glorioso caminho.
7 – MARIA QUITÉRIA
Maria Quitéria de Jesus, a primeira mulher a adentrar o Exército Brasileiro em cumprimento de exercício militar, foi combatente de guerra no processo de Independência do Brasil. Desde 2018, integra o lista oficial de Heróis e Heroínas da Pátria e, desde 1996, é Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Vestida com indumentárias masculinas, dotada de profundo espírito combativo e com vontade de lutar pela soberania nacional, Maria Quitéria partiu destemida ao combate. Tendo destaque na artilharia, realizou grandes feitos, e, por consequência disso, foi reconhecida e condecorada como 1º Cadete, mesmo após a descoberta de seu disfarce. Maria Quitéria foi, ainda, condecorada com a “Imperial Ordem do Cruzeiro”, pelo imperador Pedro I do Brasil, após cessada a guerra. Destacamos hoje, no dia do Bicentenário da Independência, o exímio exemplo de uma mulher movida pelo ideal de um Brasil grande, livre e soberano. Saudamos a existência de Maria Quitéria, augusta patriota, e sua importância na história brasileira. Certamente o reflexo de seus feitos persistem até hoje, e sua memória jamais será apagada ou esquecida.
8 – DUQUE DE CAXIAS
Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, o Marechal de Ferro, o patrono do Exército Brasileiro e o maior oficial militar da nossa História. Lutou em todas as guerras brasileiras do século XIX, da independência ao Paraguai, derrubando todos os revoltosos contra a integridade do império, ganhando a alcunha de Pacificador. Foi capaz de superar as suas limitações, impondo-se grandes sacrifícios e incorporando a responsabilidade de alcançar os objetivos. Foi um verdadeiro herói de grande bravura e o maior comandante militar do continente em seu tempo, além de ser um político astuto e habilidoso.
9 – ANTÔNIO CONSELHEIRO
Beato peregrino, místico, advogado popular. Antônio Conselheiro ficou marcado por Canudos e por uma revolta contra o governo central e a República. Mas Canudos não se trata de uma experiência separatista ou delírio esquizofrênico, como alguns lhe tentam perversamente implicar. O êxtase místico e o profundo amor pelo povo do Conselheiro refletem momentos de um turbilhão existencial do povo brasileiro quando diante de autoridades e dominações que não reconhecem como seus. O sebastianismo de Antônio Conselheiro nos serve como exemplo de heroísmo independentista na forma de uma convulsão genuinamente popular, que reclama o caminho nacional na direção correta, da sua Independência espiritual.
10 – GETÚLIO VARGAS
O pai dos pobres e Augusto dos pampas, que pegou um país rural e nos deixou um Brasil com as bases para ser uma potência, nos deu os pilares da nossa soberania, para uma real independência, que não se limite às formalidades e que esteja presente em todos os aspectos. Na sua gloriosa revolução, destruiu os fetiches liberais das elites parasitárias dos “Estados Unidos do Brasil”, colocando o povo na vida política. O maior dos presidentes do país e o mais popular de todos eles, nos deu uma renovação espiritual com as suas grandes contribuições à pátria. Um dos homens mais honrados que o Brasil já conheceu, viveu e morreu cheio de honra e paixão pela pátria, e estará para sempre na História.
★★★
É claro, não poderemos jamais limitar nossa lista de heróis a dez ou qualquer outro número, e sempre haverão aqueles que aparecerão antes aqui ou depois ali na memória dessa luta que se fez, se faz e se fará sempre presente nas vidas daqueles que amam esta terra, seu povo e seu destino. Mas estes são nomes que certamente evocam em nós grande força para lutar pela liberdade.
Que este 7 de Setembro seja outra chance de ecoar mais uma vez o grito dos livres no coração do povo brasileiro, para além das disputas insignificantes que nos distanciam, para longe das influências demoníacas que nos tentam, na direção do embate contra as forças que nos agrilhoam.
Uma vez mais, povo brasileiro!