A França tem de si a possibilidade de começar a recuperar um pouco da soberania e identidade perdidas há décadas. A classe trabalhadora francesa, especialmente entre os jovens, apoia em peso Marine Le Pen, a candidata nacional-popular. Enquanto os mais ricos, a esquerda e todo o sistema se concentram em Macron, o povo se prepara pela libertação nacional.
As pesquisas de opinião não são uma ciência exata. Pelo contrário, às vezes são infladas artificialmente para fins menos que nobres. Em qualquer caso, só podemos nos ater às notícias. Se as pesquisas transalpinas já haviam registrado um forte declínio de Macron e uma ascensão ostensiva do Rassemblement National nas últimas semanas, agora, na véspera do primeiro turno das eleições presidenciais, o pesadelo de todos os globalistas está se tornando realidade: “Marine Le Pen pode vencer as eleições na França”, é a manchete alarmante do Corriere della Sera.
Macron e Le Pen colados
De acordo com a pesquisa Elabe, o presidente cessante está na liderança com 26% dos votos, embora ele tenha caído dois pontos percentuais. Le Pen, por outro lado, acaba de ganhar dois pontos até 25%. Muito pouco, portanto, divide os dois concorrentes, que agora são candidatos certos para o segundo turno, a ser realizado em 24 de abril. Mas a notícia mais perturbadora é precisamente a lacuna residual entre os dois para o “play-off”: as pesquisas dão a Macron 51% e a Marine Le Pen 49%. Basicamente, a diferença é quase inexistente, porque estamos dentro da margem de erro estatístico, que oscila entre 0 e 3%. Em resumo, o jogo está bem aberto.
“Seria um terremoto”
Neste momento, damos a palavra a Aldo Cazzullo, que comentou a notícia: “Seria um terremoto, não só para a França. Seria uma grande vitória para Vladimir Putin. Uma derrota para Biden, Scholz e Draghi. E seria o fim da União Europeia, como a conhecemos. Porque deste ponto de vista, a filha de Jean-Marie Le Pen não mudou: ela continua a ser a mesma populista, soberanista, nacionalista, antieuropeísta de sempre”. Defeitos?
Em qualquer caso, quem são os réprobos que votam no candidato soberanista, e que questões ela apóia? Como explica Cazzullo, “nas primeiras pesquisas, ela subiu para 24%, insistindo em salários, poder de compra, preços da gasolina, contas de luz. Em Paris, tanto nos bairros da burguesia boêmia como nos dos verdadeiramente ricos, a Marine não tem chance. Mas as classes trabalhadoras, os trabalhadores, os agricultores votarão a seu favor. E também os desempregados, os assistidos pelo Estado, que Macron gostaria de colocar para trabalhar”. Ah então é a classe trabalhadora que está votando em Marine, não a bobo, ou seja, os radical chic transalpinos. Horror.
O povo e o sistema
Cazzullo então se lança numa descrição poética dos cavalos de batalha de Le Pen: “Seus comícios são sempre os mesmos, baseados na luta entre ‘nós’ e ‘eles’. Eles são os mundialistas, os globalistas, os europeístas, os liberais, os jornalistas, os banqueiros, os consultores McKinsey que escreveram a reforma previdenciária impopular por uma taxa sem sequer pagar impostos na França (e isto foi um grande erro de Macron). Nós, diz Marine, somos os patriotas, os localistas, os nacionalistas, os protecionistas, aqueles que cuidam dos últimos, das ‘famílias frágeis’, as ‘pessoas feridas pela vida’, os ‘relegados ao gueto da sociedade’, os ‘pequenos franceses com os quais ninguém se importa’. Aqueles que lutam contra ‘a dissolução da França no grande magma globalista, do qual a União Europeia é o prelúdio’. Aqueles que defendem ‘la grandeur de la Nation’, a grandeza da Nação. Seguido do canto da Marselhesa”. Horror duas vezes.
Mas Cazzullo atinge os maiores picos de lirismo no final: “Sejamos claros: Le Pen continua sendo uma outsider. O sistema francês não a quer. Valérie Pécresse, a candidata neogaullista, votará em Macron no segundo turno (embora, ao contrário de Fillon em 2017, ela não estará entregando votos). O Figaro, o jornal mais antigo da França, de propriedade da Dassault, a empresa de armas, está apoiando o presidente. O ponto é entender o quanto o sistema ainda conta”. Sim, os “democratas sinceros” não conseguem superar o fato de que às vezes as eleições podem até ser decididas pelo povo.