“Dividimos o país em duas categorias: uma, a dos homens que trabalham, e a outra, a que vive dos homens que trabalham. Diante dessa situação, nos colocamos abertamente ao lado daqueles que trabalham”.
Palavras de Perón, o maior líder argentino e um dos maiores líderes latino-americanos de nossa história continental. Pai do “trabalhismo argentino”, o Justicialismo, ideologia que inspira a Nova Resistência tanto quanto a Jamahiriya de Gaddafi.
Quem vive daqueles que trabalham? Os parasitas políticos, econômicos e sociais.
E quem são esses hoje? Os banqueiros usurários, os especuladores financeiros e imobiliários, os grandes latifundiários de terras improdutivas, os políticos ligados a lobbies inimigos do povo, os proprietários das grandes empresas nacionais e multinacionais que exploram o trabalhador e sugam seu esforço dando um salário de fome em troca. Em suma: as burguesias e oligarquias exploradoras.
Perón também integra a tradição política de matriz militar-revolucionária da América Latina, ao lado de Vargas e Velasco Alvarado. Uma das fontes de inspiração do Comandante Hugo Chávez, seu pensamento político preconiza o espírito da Quarta Teoria Política em vários aspectos.
Há décadas atrás, ele já compreendia a verdadeira essência do antagonismo de classes que norteava a correlação global de forças no pós-guerra: de um lado, um bloco contra-hegemônico mundial (politicamente alinhado, não mais por elementos ideológicos, mas pela realpolitik) e, do outro, o Império e o imperialismo global.
Dizia ele:
“Como Mao encabeça na Ásia, Nasser na África, De Gaulle na Velha Europa e como a luta de Castro na América Latina, milhões de homens de todas as latitudes lutam atualmente por sua libertação e pela libertação de suas pátrias. Este Terceiro Mundo busca se integrar porque compreende já que a libertação frente ao imperialismo necessita converter-se em ação conjunta: este, como já assinalamos, é o destino dos povos.
O que Perón compreendia na concretude política de Mao, Nasser, De Gaulle e Fidel Castro, hoje pode ser compreendido em se tratando de Assad, da Coreia Juche, da República Islâmica do Irã, do Hezbollah, da luta étnico-popular de libertação dos rebeldes da Nova Rússia e dos insurgentes Houthis no Iêmen, enfim. no que tange a todos os processos anti-imperialistas e antiglobalistas atualmente em curso.
A realidade desfigurou e tornou obsoleta as velhas bases de classificação dos embates políticos e inaugurou novas formas de luta e de antagonismo. “As ideologias caducas foram superadas pela luta”, dizia Perón. A Quarta Teoria Política compreende corretamente estas novas formas como frutos da vitória derradeira do liberalismo sobre seus oponentes modernos, de modo que a batalha decisiva, hoje, deve ser travada pelos povos contra o imperialismo, contra a lógica do Capital e contra o domínio estratégico-financeiro dos EUA e dos países da OTAN. A rebelião dos povos pela soberania (real e não meramente figurativa) é um imperativo.
É por esta razão que Perón foi um grande entusiasta e um grande defensor da integração continental como via de acesso a soberania nacional, assim como o único líder latino-americano que promoveu “vigorosamente a união (…) até o dia de sua morte” ( coerentemente com o chamado Ideal Multipolar da Quarta Teoria Política).