Hoje eu dei a minha colaboração para o Congresso de Pensamento Nacional Justicialista, com uma breve apresentação de título “Perón e o Brasil”.

Comentei um pouco sobre o apreço de Juan Domingo Perón por nosso país, bem como sobre o apoio que Getúlio Vargas sempre tentou dar a Perón.

De fato, a aproximação entre Brasil e Argentina à época só não foi maior por causa da pressão de forças políticas teleguiadas pelos EUA, como as próprias forças antivarguistas no Brasil (UDN e companhia) que inclusive atiçaram, através da mídia de massa, o ódio antiargentino.

Inclusive, os agentes dos EUA no Brasil também haviam nos pressionado para que o Brasil tentasse invadir a Argentina, o que teria sido uma calamidade que teria sepultado por pelo menos um século qualquer possibilidade de projeção continental do Brasil através de soft power, diplomacia e investimentos. Jamais confiariam em nós de novo.

Enfim, o varguismo é o peronismo brasileiro, tal como o peronismo é o varguismo brasileiro. Tanto Perón como Vargas comentaram em privado sobre o apreço que um tinha pelo outro, “apesar dos pesares” das tensões e complicações da história e da geopolítica.

Não obstante, como eu também reitero no comentário, Perón foi um visionário em prever que se até o ano 2000 já não estivéssemos integrados, o continente estaria profundamente subjugado, o que acabou se concretizando.

Aliás, o caráter visionário de Perón ainda é bastante subestimado no Brasil. Ele próprio já possuía uma perspectiva multipolar da realidade, tentando costurar uma articulação multicontinental com a Argélia e a China com o fim de contrabalancear os EUA e a URSS. E isso foi pensado anos antes do nascimento do Movimento Não-Alinhado.

No Brasil, a instabilidade política impediu Vargas de ser ousado em sua política externa no seu segundo mandato, na medida em que se apostou na tentativa de apaziguar os EUA para evitar um golpe. O nível de ousadia peronista na política externa alcançaríamos, porém, com Ernesto Geisel alguns anos depois.

Os dois, porém — tanto o varguismo, formalizado enquanto trabalhismo, como o peronismo —, se destacaram como esforços por superar o liberalismo, o comunismo e o fascismo, buscando construir uma alternativa pela síntese entre contribuições positivas das ideologias modernas, e um enraizamento na própria história de cada nação.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

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