Um dos principais obstáculos para a difusão de um nacionalismo orgânico brasileiro é o próprio nacionalista: vitimado por uma síndrome de Policarpo Quaresma, o nacionalista brasileiro tende a ser artificial, mecânico e exagerado, além de dado a todo tipo de conspiracionismo. Para construir um nacionalismo revolucionário, portanto, é necessário revolucionar o próprio meio nacionalista primeiro.
O brasileiro está tão desacostumado com o nacionalismo que quando ele aparece é sempre sob a forma de caricatura, pelo menos desde o começo da Sexta República, o período político atual iniciado após o fim da ditadura militar.
Se tomarmos Enéas Carneiro, por exemplo, por mais inteligente e correto que fosse e por mais razoáveis que fossem as suas ideias, que compartilhamos em sua quase totalidade, ele não deixava de portar um elemento caricatural que ao mesmo tempo que garantia certa popularização, também dificultava que ele fosse levado a sério. Os votos nele eram, quase sempre, votos de protesto e apenas a indisposição da população em geral com a política como um todo permitiu que ele se tornasse deputado federal com tantos votos.
Desnecessário fazer referências a grupos menores do fascismo brasileiro. Nesses meios, não raro vemos figuras fisicamente mal diagramadas e desengonçadas, forçando um jeito “radiofônico” de discursar (como se fossem locutores d’A Voz do Brasil), além das sempre insalubres marcas de suor manchando os uniformes que cobrem corpos tortos. Esses não produzem nada, não escrevem nada de interessante sobre os problemas atuais do Brasil, além de terem atuado como linha auxiliar da eleição de Bolsonaro, o pior governo na história de nosso país.
E aqui desembocamos, então, no olavo-bolsonarismo, a ideologia daqueles brasileiros iludidos que cultuam Olavo de Carvalho e Bolsonaro. Um nacionalismo que prefere os EUA e Israel ao Brasil e que é a favor da privatização de todas as empresas públicas. Além disso, possui um tom raivoso, histérico, neurótico, doentio. Nada poderia ser mais grotesco e demencial do que o olavo-bolsonarismo.
Mas mesmo em um nível menos manicomial, o nacionalismo brasileiro sempre parece ser fruto de um “grande esforço”, como algo incomum, pouco natural. Como fruto de um esforço da vontade, ele é sempre meio ufanista, exagerado, policarpista, muito mecânico, pouco orgânico. Além de extremamente conspiracionista. É como quando, no teatro, se interpreta um papel tão diferente da própria personalidade que, mesmo sem querer, o personagem sai com características e gestos exagerados.
Recordo aqui grupos que já defenderam o banimento do Papai Noel ou que se obrigasse todos os brasileiros a aprender tupi. Gente que considera que a diversidade étnica brasileira constitui uma permanente ameaça separatista (e por isso, nutre profunda desconfiança por índios, no norte, e alemães, no sul). Para além da recusa em ler autores relevantes que, por acaso, não nasceram no Brasil. E nem menciono aqui a ideia de integração e federalização continental com nossos vizinhos, toscamente interpretada como “globalismo” e “comunismo”, apesar de ser um projeto defendido pelos principais nomes do nacionalismo histórico brasileiro, como Getúlio Vargas e Plínio Salgado.
Qual é a solução?
O primeiro passo é parar de se “esforçar” para ser “o mais nacionalista possível”, condenando a cultura de boa qualidade que, por acaso, é estrangeira. Ouçam as músicas que quiserem, comam as comidas que quiserem, vistam-se como quiserem, mas evitando, naturalmente, o servilismo masoquista nacional, já que há muito de qualidade no nosso solo que, simplesmente, esquecemos de buscar ou que tratamos preconceituosamente por influência dos padrões culturais americanizados.
Ouçam Bach e Villa-Lobos. Ouçam Iron Maiden e Sepultura. Comam sushi e feijoada. O seu moicano, a sua camisa de banda finlandesa, a sua predileção por rodízio de comida japonesa, nada disso te torna menos “brasileiro” ou menos nacionalista do que um cosplay de Policarpo Quaresma.
Simplesmente devemos compreender que na era do globalismo, o nacionalismo é um instrumento fundamental para impedir que nossa Pátria seja devorada, engolida, dissolvida em um caldeirão mundial. E isso é algo que podemos compreender sem a necessidade de ufanismo raivoso e delírios chauvinistas. Coisas totalmente inadequadas em um país com 90 milhões de brancos, que certamente não brotaram do chão, mas descendem de conquistadores, colonizadores e imigrantes, e 20 milhões de negros, que também não surgiram por geração espontânea no Brasil, mas descendem de escravos. Para não mencionar os mestiços brasileiros, dezenas de milhões, que possuem em sua carga genética uma quantidade majoritária de sangue não americano, particularmente branco, mas também negro.
O Brasil não brotou espontaneamente do chão, por um impulso de dentro para fora. Ele surgiu pelas circunstâncias específicas da investida portuguesa sobre o espaço americano. Tratar o Brasil como ente isolado, hermeticamente fechado, é não entender o Brasil. É por isso que as neuroses patrioteiras nunca possuem bons resultados em nosso país. Como encontro entre Novo e Velho Mundo gerando algo novo, autônomo e original, mas com raízes em outras civilizações, o Brasil é um espaço de sínteses e misturas, é uma imensa “fronteira” tornada civilização.
O Brasil não nasceu para ser um Estado-nação nos moldes iluministas e pequeno-burgueses. Ele nasceu para ser um Império (com ou sem imperador, não importa), Pátria de Povos, centro de uma Civilização continental, a Nova Roma dos Trópicos, coração de uma constelação civilizacional continental. O nacionalismo, nesse sentido, é fundamental, mas a ideia imperial (de fundo metafísico) e o continentalismo são ainda mais importantes. É por isso, por exemplo, que a Nova Resistência pensa o nacionalismo em camadas, em níveis: regionalismo, patriotismo e continentalismo.
O segundo passo é compreender que não há nada de único na condição atual brasileira. O Brasil não é um povo singularmente oprimido, enfrentando “potências nacionalistas do Primeiro Mundo” (como já vi ser descrito em meios nacionalistas brasileiros), mas um país, entre centenas de outros, vitimado pelo globalismo (com todos os seus aspectos: imperialismo, capitalismo, financismo, imigracionismo, transumanismo, etc).
Como a condição brasileira não é singular ou única, mas a condição geral dos povos do mundo com pequenas variações, críticas coreanas ao financismo valem, para nós, tanto quanto críticas alemães ao imigracionismo ou críticas argentinas ao transumanismo. O mesmo no que concerne as guerras e conflitos. Ucrânia, Síria, Iêmen, o Brasil tem interesse (saiba ou não) em todos esses conflitos, porque estamos aí sempre diante de um embate entre globalismo e antiglobalismo, hegemonia e contra-hegemonia, unipolaridade e multipolaridade.
O terceiro passo é entender pelo quê se luta. O globalismo quer impor uma monocultura global. A sua antítese é a miríade de culturas concretas do mundo, que não corresponde ao número de países existentes. Há 200 países? Pois há mais de 20.000 grupos etnoculturais no mundo. E agora? Se a solução para o problema da diversidade concreta é nivelarmos e homogeneizarmos tudo a nível nacional, para que haja 200 povos, 200 culturas, 200 etnias…se nacionalismo é isso, qual é mesmo a diferença entre nacionalismo e globalismo?
É aí que se percebe como o jacobinismo nacionalista foi precursor do globalismo sem fronteiras. Primeiro, desmonta-se o projeto imperial europeu. Depois, se dilui as diversidades locais e regionais europeias, em prol de abstracionismos nacionais, cujo sujeito é o cidadão individual, núcleo do liberalismo (inclusive em sua manifestação nacionalista). O cidadão desenraizado do Estado-nação moderno é o agente é, depois, desenraizado e abstraído ainda mais no “humano” da “sociedade global”, até chegarmos ao pós-humano.
Em outras palavras, se somos realmente antiglobalistas, devemos ser capazes de pensar um nacionalismo que saiba lidar com a diversidade étnica sem vê-la como “ameaça separatista” a ser suprimida pela homogeneização.
Para o nacionalismo ser absorvido de maneira saudável ele deve deixar de ser uma caricatura. É tendo essas considerações aqui em mente que podemos começar esse trabalho.
Ok,concordo com muita coisa que está escrito nessa postagem, mas a solução é ficar numa punhetagem geopolítica que não vai a lugar nenhum, dando “boquetadas” no Putin e no Xi-Jinping pra “combater a hegemonia liberal” enquanto passam pano pra “Questão daquele povinho narigudo que ama usura”?
Vocês pregam “feminismo amazônico”mas são “misóginos”
são “antiracistas” mas são evolianos
falam que não pode ter LGBT na organização e são contra o movimento (com razão) mas colocaram uma “sapatão” na Mátria e apoiam travecagem “tradicional”.
Falam que traição é mau caratismo mas no grupo de WhatsApp passam pano pros “camaradas” que traem a esposa.
São ortodoxos, macumbeiros e islâmicos ao mesmo tempo.
São Hispanistas e Indigenistas.
Defendem as tradições religiosas exceto a católica, elogiando o Vaticano Segundo e passando pano pras falas do Dugin pregando a destruição da Igreja na Polônia e elogiando a maçonaria de lá.
Rejeitam o Liberalismo Econômico e político mas caem no relativismo moral em nome da “tradição de cada povo”.
Pregam luta de classes e distributismo ao mesmo tempo.
Concordo que os movimentos TTP do Brasil na maioria são piadas de mal gosto,mas vocês também possuem problemas e contradições gritantes.Pelo menos façam uma autocrítica as vezes em ver de ficar nessa soberba e orgulho típicas do Diabo quando se revoltou contra Deus.
Bem, se você acha que geopolítica é inútil você pode continuar feliz e satisfeito no nacionalismo burguês de internet. A organização não dá “boquetada” em Putin ou Xi Jinping e não passa pano para a Questão Judaica. Essas, como todos os outros comentários subsequentes podem ser algum problema de QI, e não nosso.
Não pregamos “feminismo amazônico”, nem somos “misóginos”. Somos antirracistas e evolianos, não há contradição. Não tem LGBT na organização, não tem nenhuma “sapatão” na organização e não apoiamos qualquer “travecagem”. Não passamos pano para quem trai as esposas. Não somos ortodoxos, macumbeiros ou islâmicos. Somos uma organização não confessional. Há pessoas de várias religiões em nossa organização (e essa é a pior, porque é literalmente só não ser mongoloide para entender isso). Sim, somos hispanistas e indigenistas. E? Defendemos as tradições religiosas, de todas as religiões tradicionais. Agora, se o Concílio Vaticano II foi válido ou não é uma questão teológica católica INTERNA, e não para uma organização política decidir, correto? Não passamos pano para qualquer fala do Dugin pregando a destruição da Igreja na Polônia. Apenas apontamos que o Dugin nem era CRISTÃO naquela época (as falas são de quase 25 anos atrás…). Rejeitamos o liberalismo econômico, mas não somos relativistas, somos perspectivistas. Isso, defendemos que existe luta de classes e defendemos o distributismo.
Não há contradições em nossa organização. Boa parte do que você falou aí é fofoquinha, boato, difamação e esfarelamento de internet. O resto é só pensar um pouco além de lugares comuns (coisa que para quem supostamente segue a TTP deveria ser pas de course). Não é mais produtivo PERGUNTAR nossos posicionamentos, em vez de sair tirando conclusões sabe-se-lá de onde? Afinal, esse tipo de comportamento é, também, particularmente diabólico.