Manlio Triggiani | 06/07/2021
O Mito de Atlântida há muito se faz presente no imaginário da civilização ocidental. Aluno de Friedrich Ratzel, fundador da geografia humana, Leo Frobenius foi um antropólogo alemão que desenvolveu o conceito de Kulturkreise (círculos culturais) e influenciou figuras como O. Spengler, E. Pound e J. Campbell. Em suas pesquisas etnográficas no continente africano, tendo passado um tempo em Ile-Ife, capital sagrada do povo iorubá, e observado a semelhança entre seus mitos e os de povos da antiguidade, o pesquisador alemão desenvolveu a hipótese do “resíduo atlante”, segundo a qual uma civilização ocidental pré-clássica haveria tido contato com a África Ocidental em tempos longínquos.
Iduna publicou novamente um texto de hipóteses sobre a ilha que afundou no abismo e desapareceu no ar. Mas são hipóteses sem comprovação científica. O homem sempre se perguntou sobre o nascimento do mundo e sua própria civilização.
Mircea Eliade situou a cosmogonia (o nascimento do mundo) e os mitos nas origens da civilização como um aspecto relevante nas comunidades humanas. O estudioso romeno identificou um aspecto fundamental: no centro de todas as civilizações não faltaram mitos que traduziam histórias reais em um imaginário que dava força à identidade e à tradição dos povos. O mito de Atlântida é um mito que retorna periodicamente ao primeiro plano do imaginário ocidental, quase como se se tratasse de descobrir o lugar de origem do mundo. O primeiro a falar sobre foi Platão em dois diálogos: Critias e Timeu. Platão explicou as origens desse mito: Poseidon tinha uma ilha, Atlântida, a que onde destinara seus filhos, os quais deram vida a uma civilização próspera baseada no Sagrado. No entanto, a decadência logo chegou e o Sagrado deixou de ter a importância de outrora.
Zeus, irado, enviou terremotos e inundações que em um dia e uma noite causaram o naufrágio da ilha e a morte de todos os seus habitantes. Na imaginação, Atlântida permaneceu (especialmente na literatura) como um lugar de maravilhas, um lugar mítico. Na verdade, voltou-se a falar de Atlântida após a descoberta da América pelo navegador genovês Cristóvão Colombo. Desenvolveu-se a hipótese da origem atlante das populações ameríndias. Desde então, as hipóteses se multiplicaram. Em 1882, o escritor americano Ignatius Donnelly publicou um livro que chamou atenção por afirmar, sem nenhuma prova concreta, que todo o conhecimento do mundo provinha daquela ilha que sumira no abismo após uma catástrofe. Logo depois, um jovem estudioso de civilizações antigas, apaixonado pela África, começou a estudar e divulgar suas teorias.
Foi Leo Viktor Karl August Frobenius (1873-1938) que estudou os livros de Friedrich Ratzel, fundador da geografia humana, um ramo da geopolítica alemã. Frobenius desenvolveu a teoria dos “círculos culturais”, uma visão global que fornecia hipóteses sobre o movimento dos povos em vários períodos históricos, ao longo de milênios. O antropólogo prussiano era neto de Heinrich Bodinus, diretor do Parque Zoológico de Berlim e amigo de muitos exploradores da época. Desde a infância, o pequeno Leo esteve muito interessado neste tipo de pesquisa. Entre suas leituras estão as memórias de viagens e estudos de Stanley, Wissmann, Peters, Livingstone etc. Conforme crescia, ele começou a visitar museus etnográficos em Bremen, Leipzig, Hamburgo e Basel. Sua tese sobre a questão africana não foi aceita pelas Universidades de Basel e Freiburg por ser considerada sem base científica.
Em 1904 conseguiu organizar uma expedição ao Congo, na região de Kasai, então propriedade pessoal de Leopold II von Sachsen-Coburg, rei da Bélgica. Posteriormente, ele organizou uma dúzia de missões. Entre 1910 e 1912, ele visitou a Nigéria e Camarões. No sudoeste da Nigéria, ele permaneceu por muito tempo em Ile-Ife, a capital religiosa do antigo reino de Benin e o centro da cultura iorubá. Ele entrou em contato com o povo iorubá, conheceu alguns sábios e foi iniciado na religião tribal. Assim, teve a oportunidade de conhecer o Sagrado segundo a civilização iorubá. Frobenius observou como as referências religiosas e mitológicas da estrutura sagrada desses povos lembravam de certo modo as de outros povos da antiguidade.
Sua hipótese, que chamou atenção e se espalhou pelo mundo, apesar do fato de Frobenius não ser membro da Academia, era a seguinte: em tempos antigos uma civilização ocidental pré-clássica poderia ter tido contatos com a África Ocidental. Não havia evidências desses contatos, era apenas uma hipótese, mas certamente o nível de civilização dos iorubás era claramente superior ao de outras comunidades africanas. Observação real que mais tarde foi corroborada por outros estudiosos. Frobenius chamou esse contato de “resíduo atlante”, outros estudiosos o rebatizaram de “resíduo branco”.
Frobenius, inquisitivo e curioso, era um filho de seu tempo e um forte defensor da Alemanha Wilhemina imperial e colonial e argumentou que entre as populações africanas havia alguns que tinham um alto nível de criatividade e espiritualidade. Todas essas teorias, esses estudos e a certeza de que teria havido um contato em tempos primitivos entre os povos atlantes e os da África Ocidental, foram reunidos por Frobenius em um livro, Die atlantische Götterlehre (A Doutrina Sagrada Atlante). O livro foi relançado em italiano com o título I miti di Alantide. Um livro interessante porque trata e estuda a mitologia, a estrutura social dos iorubás, a vida religiosa e o panteão dos deuses daquela civilização.