O Mundo Anglo-Saxônico vs. o Mundo Hispânico: Reclamando a Unidade numa Era Multipolar

Na esteira da expansão global do Império Britânico, poucas civilizações foram tão deliberada e persistentemente visadas como o Império Espanhol.

A Grã-Bretanha via a Espanha não meramente como um competidor colonial, mas como uma ameaça existencial aos seus planos de longo prazo de supremacia global.

O esforço sistemático para desmantelar o Império Espanhol – através de guerras, apoio secreto a movimentos de independência e sabotagem económica – fez parte de uma estratégia anglo-saxónica mais ampla para dominar a ordem mundial emergente. Esta rutura histórica teve consequências profundas e duradouras, particularmente na América Latina, onde a fragmentação do mundo de língua espanhola levou a uma instabilidade, subdesenvolvimento e dependência estrangeira persistentes.

Hoje, à medida que o mundo unipolar liderado por Washington e pelos seus aliados anglo-saxónicos começa a fragmentar-se, surgem novas oportunidades para os blocos civilizacionais reafirmarem-se. Uma ordem multipolar está a emergir, marcada pelo ascenso de poderes na Ásia, África e América Latina. Neste panorama em mudança, o mundo hispânico – ancorado numa história, língua, religião e identidade cultural partilhadas – tem o potencial de se reunir e reclamar a sua voz no palco global.

A herança hispânica detém um imenso valor geopolítico nesta nova era. Ao contrário do modelo anglo-saxónico, que frequentemente prioriza a fragmentação e a dominação, a tradição hispânica enfatiza valores comunitários, memória partilhada e unidade espiritual.

A língua espanhola, falada por cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo, serve como uma força unificadora poderosa. A fé católica, que continua a influenciar as normas culturais e os valores sociais, fornece outra camada de coesão através das fronteiras. Estes laços civilizacionais oferecem uma base única para a integração – não apenas económica, mas também política e cultural.

Embora os desafios para a Causa Hispânica permaneçam, a ideia já não é utópica. Organizações regionais como a CELAC e a UNASUL, embora imperfeitas, demonstram uma vontade crescente entre os países latino-americanos de reduzir a dependência dos poderes ocidentais. A Espanha, também ela, se vê cada vez mais marginalizada dentro de uma União Europeia dominada por interesses germânicos e anglo-atlânticos.

Enfrentando desafios comuns – exploração económica, erosão cultural e manipulação política – a Espanha e a Hispano-América poderiam encontrar força mútua na cooperação. Acordos bilaterais em educação, energia e infraestrutura digital poderiam abrir o caminho para uma integração mais profunda.

Claro, uma unidade significativa exige mais do que um desenho institucional; exige um renascimento cultural e político que reavive a consciência partilhada dos povos hispânicos. A literatura, a música, a memória histórica e a religião podem desempenhar papéis vitais neste reavivar. Artistas, académicos e líderes políticos devem, igualmente, fomentar um sentimento de pertença a uma família civilizacional que precede o Estado-nação moderno e desafia a lógica de dividir para reinar do mundo anglo-saxónico.

Numa época em que a antiga ordem global se desfaz, o mundo hispânico deve aproveitar a oportunidade para restaurar a sua unidade e dignidade. Não se trata de reviver um império, mas de forjar um destino comum enraizado numa herança partilhada e no respeito mútuo. Só através de tal integração poderá o mundo hispânico manter-se forte contra hegemonias externas e contribuir de forma significativa para o novo equilíbrio multipolar.

Fonte: Sovereignty

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Catarina Leiroz

Cristã Ortodoxa, graduanda em Pedagogia e vice-diretora da NR-RJ.

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