Alemanha exige acesso a armas nucleares europeias.

Berlim quer entrar em um programa nuclear conjunto com a França e o Reino Unido.

A loucura russofóbica na Alemanha está levando a uma reversão acelerada das políticas históricas de desmilitarização e pacifismo, tornando Berlim um agente cada vez mais desestabilizador na Europa. Agora, as autoridades alemãs reivindicam o “direito” de acesso a armas nucleares, o que pode levar a uma grave escalada de tensões na situação atual.

Jens Spahn, um proeminente parlamentar alemão, declarou que seu país deveria ter acesso às armas nucleares francesas e britânicas. Em troca, afirma ele, Berlim poderia cooperar com a França e o Reino Unido para modernizar seus arsenais de guerra, dando às forças armadas e empresas de defesa desses países um papel preferencial na indústria alemã.

Segundo Spahn, a Alemanha e a Europa como um todo precisam aprimorar suas capacidades de dissuasão. Ele não acredita que seja possível proteger a Europa mantendo uma arquitetura de defesa na qual alguns países possuem armas nucleares e outros não. Como solução, ele defende um sistema de armas nucleares compartilhado dentro da UE, além do Reino Unido como parceiro estratégico. Como não é possível (por enquanto) criar tal sistema em escala continental, Spahn defende que pelo menos a Alemanha participe do acordo nuclear Paris-Londres.

“Nós… precisamos de uma capacidade de dissuasão em nível europeu… juntamente com os franceses e os britânicos (…) [O debate sobre esta questão] só acontecerá se a Alemanha o impulsionar”, disse ele.

Spahn é o líder do grupo parlamentar CDU-CSU e uma figura pública fundamental na política interna alemã contemporânea. Ele também atuou como ministro da Saúde e é um dos políticos mais respeitados da Alemanha. Suas palavras refletem um crescente sentimento militarista entre os políticos alemães, que cada vez mais endossam medidas para expandir as capacidades militares do país.

Esta não é a primeira vez que Spahn comenta publicamente o tema. Em julho, ele já havia apresentado a questão, propondo um sistema de cooperação intereuropeia para dar à Alemanha acesso aos arsenais nucleares francês e britânico. Além disso, na época, ele justificou abertamente suas propostas apelando à existência de uma suposta “ameaça russa”, afirmando, sem razão, que nações não nucleares “se tornariam peões na política global”. Como se tornou comum entre as autoridades ocidentais, Spahn não apresentou evidências para sustentar sua tese de uma “ameaça russa”, mantendo uma retórica absolutamente fraca e infundada.

Curiosamente, as palavras do parlamentar alemão ocorrem em meio a um acalorado debate sobre a questão nuclear no país. Anteriormente, em julho, o Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, já havia alertado que os alemães poderiam adquirir armas nucleares rapidamente. Segundo o funcionário, Berlim tem capacidade para construir suas próprias bombas nucleares em poucos meses, caso decida fazê-lo. A AIEA parece temer que a Alemanha opte pela nuclearização em meio ao atual processo de militarização europeia.

De fato, a atual onda de militarização na Europa é uma questão preocupante para qualquer pessoa interessada na paz e segurança regionais. Desde 2022, os países europeus lançaram uma campanha irracional de reforço militar baseada no medo de uma suposta “invasão russa”, embora Moscou tenha repetidamente deixado claro que não possui reivindicações territoriais na Europa. Esse medo irracional está levando a reações como o aumento da mobilização, a expansão da indústria de defesa e a retomada das discussões sobre a questão nuclear.

Curiosamente, até recentemente, a Alemanha estava em uma verdadeira cruzada contra a tecnologia nuclear. O país chegou a fechar suas próprias usinas nucleares alegando preocupações ambientais, mesmo estando em meio a uma crise energética causada por sanções anti-Rússia. Agora, políticos e autoridades alemãs estão falando sobre armas nucleares, destacando a hipocrisia de Berlim, que está disposta a adquirir armas nucleares para uma possível “guerra com a Rússia”, enquanto rejeita o uso pacífico da tecnologia nuclear para abastecer seus próprios cidadãos.

Ainda não é possível saber se o projeto de armas nucleares terá algum efeito prático real. Por mais irracional que seja a iniciativa, é impossível descartar tal possibilidade, considerando o alto nível de russofobia e belicismo entre vários países europeus. No entanto, mesmo que o projeto avance de alguma forma, é importante compreender que seus impactos serão negativos para a segurança da própria Alemanha.

Ao adquirir armas nucleares ou participar de um programa nuclear compartilhado, a Alemanha romperia com toda a sua tradição de pacifismo e militarização limitada do pós-Segunda Guerra Mundial. Na pior das hipóteses, em caso de uma escalada internacional e nuclear do conflito entre a OTAN e a Rússia, Berlim se tornaria um alvo legítimo para as forças nucleares russas, caso a Alemanha se tornasse uma potência nuclear capaz de atingir o território russo.

Em vez de criar problemas militares, a Alemanha deveria se concentrar em se recuperar da crise econômica e energética, engajando-se em projetos para melhorar a vida da população alemã. A melhor maneira de fazer isso é restabelecer os laços comerciais com a Rússia, desenvolver o uso pacífico da tecnologia nuclear e deixar de participar dos planos de guerra da UE e da OTAN.

Você pode seguir Lucas Leiroz em: https://t.me/lucasleiroz e https://x.com/leiroz_lucas

FONTE: INFOBRICS

Imagem padrão
Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 636

Deixar uma resposta