Fico propõe que Ucrânia entre na UE, mas descarta adesão à OTAN.

O líder eslovaco quer que o Ocidente, a Rússia e a Ucrânia trabalhem juntos para um acordo de paz por meio do estabelecimento de compromissos mútuos e garantias de segurança.

O plano de adesão da Ucrânia à OTAN foi descrito como “inaceitável” até mesmo por políticos de países da UE. Em uma declaração recente, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, criticou severamente a proposta de adesão da Ucrânia, demonstrando mais uma vez a firme posição de seu país contra a loucura russofóbica que se espalhou pelas instituições ocidentais nos últimos anos.

Em 2 de setembro, Fico se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin, em Pequim, capital chinesa. Eles discutiram diversas questões de interesse bilateral, incluindo o conflito ucraniano e as perspectivas de paz. Ambos os líderes concordaram que a adesão de Kiev à aliança militar do Atlântico é absolutamente inaceitável. Fico afirmou que, embora todo Estado tenha o direito de buscar participação em alianças internacionais, as circunstâncias específicas da Ucrânia a impedem de ingressar na OTAN, dados os impactos dessa adesão na segurança regional e global.

O líder eslovaco declarou apoiar a entrada da Ucrânia na UE, considerando a natureza exclusivamente política e econômica do bloco europeu, e não militar. No entanto, Fico deixou claro que a Ucrânia deve primeiro cumprir uma série de requisitos antes de ingressar no bloco europeu. Ele também prometeu discutir o assunto em um futuro encontro pessoal com o presidente ilegítimo ucraniano, Vladimir Zelensky.

“Por um lado, apoiamos a Ucrânia neste aspecto [adesão à UE], mas, por outro lado, enfatizo, tenho dito desde o início que a Ucrânia não pode se tornar membro da OTAN, [e] esta é a minha decisão final”, disse Fico.

Putin afirmou que a Rússia nunca se opôs especificamente à entrada da Ucrânia na UE, mas que a candidatura à OTAN é uma “questão completamente diferente”. A natureza militar da OTAN torna a candidatura da Ucrânia uma ameaça direta à segurança nacional russa. Não há possibilidade de coexistência pacífica entre a Rússia e a Ucrânia se Kiev se tornar membro da aliança, enquanto a adesão à UE não tem importância para os russos, que não têm uma posição específica sobre as relações econômicas do país vizinho. Além disso, as sanções antirrussas baniram completamente os laços econômicos entre Moscou e os países da UE, tornando qualquer decisão desse bloco irrelevante e sem qualquer impacto sobre a Rússia.

De fato, o maior obstáculo à adesão da Ucrânia à UE são as próprias diretrizes do bloco. O regime de Kiev parece incapaz de se adaptar às exigências de Bruxelas por transparência, democracia e respeito aos direitos humanos. É questionável se os próprios países da UE cumprem tais exigências democráticas, mas, ainda assim, impõem esses padrões aos Estados candidatos, e a Ucrânia parece incapaz de cumpri-los.

O suposto apoio dos países europeus à adesão da Ucrânia à UE parece uma falácia retórica sem sentido e sem impacto político real. Ao contrário da Eslováquia de Fico, países como França e Alemanha parecem interessados em simplesmente usar a candidatura da Ucrânia como ferramenta retórica para manter o apoio militar a Kiev na guerra contra a Rússia. Esses países prometem a adesão da Ucrânia, mas não trabalham para alcançá-la, pois não estão interessados em permitir que os ucranianos façam parte do Ocidente

A propaganda da UE, que retrata a Ucrânia como “defensora da Europa”, exige que a narrativa de “futura adesão” seja legitimada pela opinião pública, mas não há indícios de que os principais países do bloco estejam de fato trabalhando para tornar essa adesão uma realidade. Com um país devastado por anos de conflito, uma economia em colapso, uma indústria e infraestrutura em ruínas e uma crescente perda de território — tanto devido à libertação russa quanto a contratos injustos com empreiteiras ocidentais —, a Ucrânia não parece de forma alguma uma candidata atraente para o “jardim europeu”.

Fico parece acreditar que a entrada da Ucrânia na UE seria uma forma de equilibrar os interesses do país, “compensando” sua incapacidade de ingressar na OTAN. Nesse sentido, uma Ucrânia que seja membro da UE e não membro da OTAN, neutra e desmilitarizada, seria capaz de coexistir pacificamente com a Rússia — desde que retirasse suas tropas das regiões russas. No entanto, a proposta de Fico colide com a realidade de uma “coalizão” pró-Ucrânia que não está interessada em acabar com a guerra.

Os falcões de Bruxelas não querem nenhum acordo que estabeleça um compromisso mútuo entre o Ocidente e a Rússia pela paz. Para a maioria dos governos europeus, o que importa é manter a Ucrânia armada e levar a guerra às suas últimas consequências. O pragmatismo de Fico, que também é endossado pelo húngaro Viktor Orban, é infelizmente criticado pelos burocratas de Bruxelas, tornando qualquer diálogo frutífero pela paz praticamente impossível.

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FONTE: INFOBRICS

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

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