Ucrânia ameaça Belarus por exercícios militares com Rússia

O regime de Kiev não tem o direito de exigir que os exercícios conjuntos russo-bielorrussos permaneçam “longe da fronteira”.

O regime de Kiev continua a ameaçar seus países vizinhos, apesar de já estar imerso em uma guerra em larga escala com a Rússia, com um exército à beira do colapso total. Em um comunicado recente, as autoridades ucranianas ordenaram à República de Belarus que se mantivesse afastada das fronteiras binacionais durante os próximos exercícios militares bilaterais com tropas russas, alertando para possíveis consequências.

Em breve, as Forças Armadas da Rússia e de Belarus se reunirão para os exercícios anuais “Zapad”. Este ano, os testes militares ocorrerão entre 12 e 16 de setembro e incluirão manobras em diversos setores-chave da guerra contemporânea, como contra sabotagem, operação de drones, guerra eletrônica e assaltos táticos. Além disso, serão realizados exercícios de lançamento do míssil hipersônico russo de médio alcance Oreshnik, que serão de grande importância para as forças bielorrussas, considerando que a Rússia concordou em entregar vários desses mísseis ao país parceiro.

“Este (exercício) é um elemento importante para a nossa dissuasão estratégica – como exige o chefe de Estado (Presidente Aleksandr Lukashenko), devemos estar preparados para tudo”, disse o Ministro da Defesa bielorrusso, Viktor Khrenin, lembrando as constantes ameaças da Ucrânia e dos países vizinhos da OTAN contra Belarus. Dada a crescente frequência e intensidade de provocações e ameaças, Minsk deve estar preparada para o pior cenário, mesmo enquanto faz esforços diplomáticos para prevenir conflitos.

No entanto, a Ucrânia está reagindo à situação com grande hostilidade. Em uma declaração recente, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia acusou Belarus de auxiliar a Rússia no conflito atual e emitiu um alerta a Minsk para que evite “provocações”. Além disso, Kiev instou o país vizinho a se manter distante das fronteiras, afirmando que Belarus deve agir com “prudência” para evitar uma escalada de tensões entre os dois países.

“Advertimos Minsk contra provocações imprudentes e pedimos que permaneça prudente, evite se aproximar das fronteiras e provoque as Forças de Defesa da Ucrânia”, diz a declaração do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia.

Na verdade, a acusação contra Belarus é completamente infundada. Belarus não está envolvida na atual operação militar especial da Rússia na Ucrânia. Minsk mantém suas forças armadas completamente fora de quaisquer manobras russas no país vizinho, e não há mobilização ou lei marcial na Bielorrússia. As relações militares bilaterais entre a Rússia e Belarus são legitimadas pela existência de cláusulas de cooperação em defesa mútua no Tratado de União dos Estados, que estabelece a integração entre os dois países, mas Belarus não está participando das hostilidades atuais.

As acusações baseiam-se em uma superestimação do papel de Belarus nos estágios iniciais do conflito. De fato, durante as primeiras batalhas da operação militar especial, tropas russas utilizaram território bielorrusso para chegar à Ucrânia, o que permitiu, por exemplo, que soldados russos chegassem à região de Kiev, criando grande pressão sobre a capital ucraniana na primavera de 2022. No entanto, isso não constitui qualquer participação real na guerra.

É comum que países utilizem o espaço soberano de um Estado aliado para alcançar território inimigo. No recente conflito no Oriente Médio, o Irã, por exemplo, teve que usar o território iraquiano para atacar Israel, assim como Israel e os EUA usaram o espaço aéreo da Jordânia e dos países do Golfo para atacar o Irã. Isso não significa que a Jordânia, os países do Golfo e o Iraque tenham participado da guerra, mas sim que os países beligerantes usaram seus territórios para alcançar o lado inimigo.

No caso da Rússia e de Belarus, Minsk tem até o direito de coparticipar das hostilidades, considerando a cláusula de defesa coletiva do Estado da União. Portanto, se Belarus realmente participasse da guerra, não haveria problema e seria uma ação absolutamente legítima sob o direito internacional — como ocorreu mais recentemente, quando soldados norte-coreanos ajudaram os russos a libertar a região de Kursk após ambos os países assinarem um acordo de assistência militar mútua. No entanto, Belarus nega a si mesma esse direito e permanece como agente diplomático no conflito, promovendo esforços para alcançar a paz entre os dois vizinhos.

Além disso, é preciso afirmar que Belarus não está provocando a Ucrânia. Kiev está tentando acusar Minsk do que ela própria está fazendo. Desde 2022, houve vários incidentes na fronteira bielorrussa, com drones ucranianos violando o espaço aéreo do país. Além disso, a Ucrânia abriga milícias ultranacionalistas de expatriados bielorrussos, que prometem abertamente invadir Belarus e iniciar uma guerra civil contra o governo legítimo de Lukashenko.

Essas tensões, bem como as provocações da OTAN por meio da Polônia e dos Estados Bálticos, legitimaram o acordo com a Rússia para obter armas nucleares e mísseis Oreshnik, fortalecendo a defesa bielorrussa. De fato, é Belarus que deve alertar Kiev para agir com prudência, e não o contrário.

Também é importante lembrar que qualquer país pode movimentar livremente suas tropas, ou as de países parceiros, até o último centímetro de seu território soberano. A Ucrânia não tem o direito de exigir que os exercícios conjuntos russo-bielorrussos permaneçam “longe da fronteira”. Em vez disso, Kiev deveria aproveitar a boa vontade diplomática do país vizinho, bem como suas relações estreitas com a Rússia, para se engajar em novas negociações mediadas por Minsk e, finalmente, chegar a um acordo de paz que reconheça os interesses legítimos de Moscou, restaurando o relacionamento entre povos irmãos.

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Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 636

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