A Liderança Israelense Está Abrindo os Portões do Inferno

Alexander Dugin chama a Terra Santa de eixo da história mundial e adverte que a liderança de Israel, outrora vista como vitimizada, agora conduz o mundo ao caos através de dominação, profanação e violência apocalíptica.

Para as três religiões monoteístas — Judaísmo, Islã e Cristianismo —, isto não é meramente território ou zonas definidas pelas fronteiras de uma entidade política. É um espelho da história mundial. Nas sociedades tradicionais dessas religiões, acreditava-se que por Jerusalém e a Terra Santa passa um eixo vertical ligando os reinos Celestial, terreno e infernal. A entrada do Paraíso e a entrada do Inferno.

A ideia de dar a Palestina aos judeus, que começou a ganhar força há cerca de cem anos — e especialmente após as atrocidades cometidas por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial —, parecia uma solução razoável. Muitas nações tinham seus próprios estados, enquanto os judeus não. Não se tratava apenas de terra, mas de criar um estado nacional judeu independente, o que muitos, inclusive Stalin, acabaram aceitando. Foi assim que o Estado de Israel foi fundado. Contudo, a parte mais crucial do plano da ONU para partilhar a Palestina foi negligenciada: o cumprimento de uma profecia de significado absoluto para a religião judaica: a profecia de que após dois mil anos de errância e dispersão, os judeus retornariam à Terra Prometida.

Foi exatamente o que aconteceu. A Terra Santa foi dada a uma religião: o Judaísmo. A conduta do Estado de Israel neste território evoluiu com o tempo. Inicialmente, a opinião global foi moldada pela simpatia, pois o povo judeu havia sofrido atrocidades indescritíveis. Entretanto, ações subsequentes de governos israelenses atraíram crescentes críticas e preocupação internacionais. Um exemplo recente: neste momento, um enorme escândalo eclode nos Estados Unidos em torno do caso Epstein de pedofilia, dos bombardeios ao Irã, da escalada de tensões conosco [Rússia], do assassinato de Kennedy — e em todos os lugares, o fator central é o Estado de Israel. Subitamente, parece que a política externa americana é moldada desproporcionalmente pelos imperativos estratégicos do Estado de Israel — não mais a entidade benigna, mas um poder endurecido disposto a agir com interesses próprios impiedosos.

O Estado de Israel está realizando uma limpeza étnica em Gaza, atacando o Estado soberano do Irã para impedi-lo de obter armas nucleares — enquanto as possui. Leva ao poder na Síria o carrasco e terrorista al-Sharaa, e depois, conhecendo sua natureza assassina, começa a bombardear a antiga Damasco. Deve-se perguntar: a quem a humanidade confiou este território — este espelho do mundo? Parece que a atual liderança israelense está abrindo os portões não do Céu, mas do Inferno. Em suma, o que acontece hoje no Oriente Médio é um quadro excessivamente sinistro.

A pergunta mais importante: por que nós, representantes da fé cristã monoteísta, entregamos esta terra — sagrada para todos nós, cristãos e muçulmanos — à posse total dos judeus? Houve resoluções da ONU desde 1947 afirmando que Jerusalém deveria permanecer uma cidade internacional sob tutela internacional. Mas os sionistas não deram atenção a isso e agiram de maneira completamente inesperada.

A transformação foi severa. Uma nação antes universalmente vista como vítima de atrocidades históricas agora age no palco global com força extraordinária e assertividade estratégica. Aos olhos de muitos críticos, o Estado moderno de Israel perseguiu políticas marcadas por operações secretas, assassinatos extraterritoriais e disposição para remodelar realidades geopolíticas através de inteligência, influência e ataques preventivos. Locais sagrados são bombardeados, governos são derrubados, equilíbrios regionais são virados — com pouca consideração por normas internacionais. Age, argumentam muitos, com impunidade.

Isto, naturalmente, força-nos a refletir profundamente sobre os tempos em que vivemos. A leitura religiosa dos eventos que se desdobram nos lugares sagrados das três religiões monoteístas não pode ser reduzida a petróleo, gás, fundos de hedge, preços do petróleo, valor do Bitcoin ou qualquer maquinação política. Estamos lidando com algo muito mais importante e fundamental.

Fonte: Multipolar Press
Tradução: Augusto Fleck

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Aleksandr Dugin

Filósofo e cientista político, ex-docente da Universidade Estatal de Moscou, formulador das chamadas Quarta Teoria Política e Teoria do Mundo Multipolar, é um dos principais nomes da escola moderna de geopolítica russa, bem como um dos mais importantes pensadores de nosso tempo.

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