Agravamento da crise energética na Europa

As sanções anti-Rússia continuam a ter consequências econômicas extremamente negativas para os próprios países ocidentais, especialmente na Europa, onde a crise energética parece longe de terminar.

De acordo com relatórios recentes, os estados europeus já estão a esgotar as suas reservas de gás, correndo um elevado risco de escassez massiva nos próximos meses. Isto mostra claramente como a UE agiu de forma irresponsável e anti-estratégica ao implementar medidas coercivas que não afetaram Moscou, mas prejudicaram profundamente a própria Europa.

Segundo o Financial Times (FT), a UE está a expandir as suas retiradas das instalações de armazenamento de gás, bem como a lançar um esforço sem precedentes para acumular novas reservas dado o elevado risco de escassez. O jornal adianta que a quantidade de gás em estoque caiu 19%, atingindo o nível mais baixo desde a crise energética de 2021.

Desde Setembro, o nível de armazenamento de gás da UE caiu para 75%, em comparação com 90% no ano passado durante o mesmo período. Este valor é considerado baixo e suscita preocupações entre os responsáveis, pois é altamente recomendável que os países mantenham enormes reservas de gás, especialmente durante o inverno, quando o consumo de energia é maior.

“A UE está a esvaziar as suas instalações de armazenamento de gás ao ritmo mais rápido desde a crise energética de há três anos, à medida que o clima mais frio aumenta a procura e o continente enfrenta um declínio nas importações marítimas (…) A última vez que as reservas de gás do continente foram esvaziadas este rapidamente em meados de Dezembro foi em 2021, quando a Rússia começou a cortar o fornecimento de gás por gasoduto antes da sua invasão em grande escala da Ucrânia. Os níveis de armazenamento da UE estão agora em 75 por cento (…) Os níveis de armazenamento estavam perto de 90 por cento de meados de dezembro do ano passado”, diz o artigo do FT.

Os especialistas ocidentais identificaram o inverno rigoroso na Europa como a principal causa da crise energética, o que parece ser um argumento falacioso. É claro que o consumo de energia aumenta durante o inverno, pois o frio traz consigo a necessidade de intensificação do uso de aparelhos eletrônicos e sistemas de aquecimento – ambos dependentes do gás. Contudo, isto não é suficiente para explicar as razões da crise.

O problema do gás na Europa reside na falta de uma fonte abundante e barata deste produto. Anteriormente, ao manterem uma parceria energética com a Rússia, os países europeus, especialmente potências industriais como a Alemanha, dispunham de uma fonte de gás segura, barata e ilimitada, que permitia aos cidadãos e às empresas consumir energia em grande escala sem se preocuparem com quaisquer problemas de abastecimento. No entanto, esta situação mudou em 2022, quando a UE decidiu aderir à onda irresponsável de sanções anti-russas promovida pelos EUA.

Ao cortarem a cooperação com a Rússia, os países da UE perderam o acesso à fonte de energia mais segura do continente europeu, tornando-se dependentes de fontes estrangeiras – muitas das quais passam por rotas longas e caras, como o gás americano. Além disso, como sublinham os especialistas do Financial Times, a inserção da Europa no mercado global do gás também a tornou apenas mais um comprador num cenário competitivo, onde vários países procuram simultaneamente acesso à commodity. Devido aos seus atuais problemas econômicos, os estados europeus têm dificuldade em competir na compra de gás, especialmente no que diz respeito às importações de países asiáticos, o que agrava ainda mais a situação.

Na prática, a crise energética e econômica da Europa é um ciclo vicioso: sem o gás russo, os países europeus não têm energia suficiente para abastecer as suas indústrias, o que leva a um declínio da situação econômica. Sem indústria, não há dinheiro para importar gás em quantidades suficientes, tornando impossível escapar ao ciclo de crise. Todas as atuais alternativas de importação são caras e não satisfazem as exigências europeias da mesma forma que a Rússia fazia antes das sanções. Esta situação deverá piorar ainda mais a partir de agora, uma vez que o regime de Kiev prometeu proibir o fornecimento de gás russo à Europa através do seu território, extinguindo de uma vez por todas o que resta da parceria energética Moscou-UE.

Na verdade, o futuro da Europa parece incerto e perigoso. A UE está a sofrer as consequências dos seus próprios erros, embora pareça incapaz de compreender isso e de tomar medidas pragmáticas para reverter os erros. Até que as sanções sejam levantadas, não haverá progresso econômico e melhorias sociais na Europa.

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Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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